25/06/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos | De São Paulo
A maior aquisição da B2W dos últimos tempos, anunciada ontem, a compra da empresa de tecnologia Sieve por cerca de R$ 130 milhões é parte da estratégia de tentar reduzir o espaço de manobra dos concorrentes. A Sieve é a fornecedora de tecnologia para as empresas CNova, Máquina de Vendas e Walmart, apurou o Valor. Desde 2013, a B2W fez sete aquisições e comprou 12 empresas. Controlada pela Lojas Americanas, dos sócios Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, a B2W tem adquirido alguns negócios que prestam serviço a seus maiores rivais como a Uniconsult Sistemas. Esta atendia varejistas como CNova e Ricardo Eletro, que acabaram procurando outro fornecedor. Com a transação de ontem, a B2W pode atrair novos parceiros no segmento de “market place” (shopping virtual”). Este negócio concentra a atual disputa por mercado entre varejistas que dominam a internet: CNova (Casas Bahia e Ponto Frio) e B2W (Americanas e Submarino). Entre outros serviços, a Sieve monitora preços em tempo real. Também é dona de uma empresa (SkyHub) que faz a integração dos sistemas da loja no “market place” com os comparadores de preço, por exemplo. Com a Sieve, a B2W terá acesso a um volume considerável de dados de seus maiores rivais a Sieve monitora 8 mil sites na internet. Os concorrentes podem deixar de ser clientes da Sieve, mas a B2W não deve cancelar contratos. A expectativa, segundo uma fonte ligada a uma das concorrentes da B2W, é que os varejistas acabem cancelando acordos e procurando nova fornecedora de tecnologia. “O ponto forte da aquisição é que quando a empresa adquire a Sieve, ela adquire, na prática, informações preciosas de todo o mercado concorrente em torno de estratégias de ‘pricing’ e sortimento, por exemplo”, disse Roberto Wajnsztok, cofoundador da consultoria OriginV. Substituir um software por outro, pode levar de 4 a 6 meses, pelos cálculos de uma fonte próxima às redes online. Criada em 2008, a Sieve tem cerca de 2,5 mil clientes e cresceu por meio da compra de pequenas empresas especializadas na área de comércio eletrônico. A ideia era criar um negócio de tecnologia maior até que a B2W fez a proposta de aquisição, segundo fonte. Foi uma transação entre partes relacionadas: uma empresa de investimentos chamada ACP, com Lemann, Sicupira e Telles entre os sócios, tem 71,8% das ações da Usina Internet Group, que, por sua vez, controla 75,2% da Sieve, comprada pela B2W. Segundo apurou o Valor, os brasileiros têm 25% da Sieve. Os recursos para pagar a compra da Sieve a seus acionistas, inclusive os três brasileiros, vieram do aumento de capital de R$ 2,38 bilhões na B2W em 2014, e esse aporte foi feito, em parte, com recursos dos três sócios da Lojas Americanas. Relatório de analistas apontam para uma negociação que, pelo valor, equivale a 20% da projeção do mercado de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (ebitda, da sigla em inglês) da B2W de 2015. Ainda representa 10% da última posição de caixa (excluindo recebíveis). Analistas entenderam a transação como sinal de que a B2W continuará a investir para expandir atuação, mas observaram que pode demorar mais para a empresa conseguir atingir equilíbrio nos resultados (“breakeven”). Ontem, as ações fecharam em queda de 3,3%, a R$ 20,90.
Valor Econômico – SP