À espera do resultado do pleito de outubro, os varejistas poderão comprometer suas estratégias para o melhor período do ano: Natal e Black Friday. Sem definir com antecedência planos para contratar funcionários, compor estoque, pensar em decoração e promoções, o dilema pode trazer problemas caso a demanda suba mais que o previsto.
Para o sócio-fundador da consultoria de negócios ba}Stockler, Luis Henrique Stockler, o movimento de “arrumar a casa” só depois das eleições presidenciais pode colocar em risco o desempenho comercial dos lojistas. “[os comerciantes] chegarão destreinados na época de vendas”, alertou ele.
Exemplo dessa paralisia pode ser notada em um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP), que foi obtido com exclusividade pelo DCI. Segundo o indicador, a expectativa de investimentos dos lojistas paulistas caiu 3,6% em setembro, sobre um ano antes. – culminando na terceira retração consecutiva. “O resultado não é o que esperávamos. A incerteza política tem muito mais responsabilidade sobre isso que a greve de maio. Com isso, vemos o ritmo da economia muito aquém do que gostaríamos”, afirmou o assessor econômico da entidade, Fábio Pina.
De acordo com o economista, um dos reflexos direto dessa instabilidade política e econômica que o País vive pode ser verificado no real frente ao dólar.
“Na realidade, a alta da moeda norte-americana é um termômetro do estado em que a economia brasileira está”, afirma. Para Pina, embora não sentida ainda, a alta do dólar pode gerar uma elevação de preços, comprometendo também o movimento de contratação e composição do mix de produtos nos negócios.
“Esse cenário incerto deve se arrastar até outubro. A passagem do calendário eleitoral, nesse sentido, é fundamental para que os empresários comecem a contratar para as datas comemorativas”, afirmou o economista da entidade.
Ainda de acordo com o balanço da entidade, quando comparamos a intenção de contratação de mão de obra em setembro, ante a agosto, houve recuo de 3,4%. (Veja mais no box).
Na prática
Uma das redes de varejo que vai seguir a estratégia de realizar investimentos e contratar funcionários temporários apenas depois do período eleitoral é a loja de roupas íntimas Mash. “Estamos com perspectiva de estabilidade no volume de vendas em relação à mesma época do ano passado. Existe certa insegurança até o momento das eleições presidenciais. Vamos ter definições mais certeiras e ajustes depois disso”, argumentou a gerente do negócio, Bianca Santini.
De acordo com a executiva, o contingente de funcionários temporários para as vendas de final de ano devem ser exatamente o mesmo de 2017 – aumento de 20% no time de cada uma das oito lojas da marca.
No entanto, Bianca afirma que não há possibilidade de vislumbrar evoluções mais significativas nas vendas para o final do ano em virtude da nebulosidade do cenário politico.
Ela completa o raciocínio lembrando que, independente do movimento de consumidores dentro das lojas, há sempre a absorção de alguns funcionários contratados em caráter temporário, mas que esse processo deve ocorrer apenas no início do ano que vem.
Na mesma perspectiva traçada pela executiva da Mash, o gerente nacional da fabricante e comercializadora de óculos Atitude, Marcelo Teixeira, disse que deve haver certa cautela frente ao período pré-eleitoral e as oscilações da moeda americana. “Não esperamos exatamente uma queda nas vendas. Não seremos muito afetados pelo dólar em razão da possibilidade de produção nacional. Nos preparamos para situações como esta para incrementar a fabricação dentro do Brasil”, afirmou o executivo, mencionando que parte da manufatura internacional da está localizada na China.
Além disso, Teixeira se mostra confiante após o período eleitoral com os efeitos positivos da chegada da primavera para alavancar a demanda por óculos de sol – especialmente na Black Friday e Natal.
Ele estima que aumente sua equipe de funcionários em 25% para as vendas de final de ano. Atualmente, a empresa tem 160 colaboradores espalhados por 40 unidades no Brasil. No ano passado, o executivo ainda disse que o incremento no quadro de temporários não chegou a 20%.
Fonte: DCI