Empresas de varejo mostram um nível baixo de adoção de programas ambientais e sociais. E isso pode estar afetando os negócios, uma vez que ter políticas estruturadas para reduzir gastos com água, energia e resíduos, por exemplo, ajuda a diminuir riscos operacionais, legais e eventuais prejuízos ligados à imagem.
A conclusão é da Fundação Dom Cabral, que acaba de terminar um estudo no qual analisou as práticas das 40 maiores varejistas no país. O trabalho considerou dados publicados pelas próprias empresas, de 2011 a 2016.
“As pessoas associam sustentabilidade com custos”, observa o professor Heiko Hosomi Spitzeck, gerente do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, ao ser questionado se os quase três anos de recessão, quando as vendas do varejo voltaram ao patamar de dez anos atrás, poderiam explicar o baixo desinteresse das empresas por questões ambientais e sociais. “Isso é o maior problema porque parece que só da para investir nisso quando a economia vai bem. Pelo contrário, sustentabilidade pode ajudar a reduzir custos, algo desejado sempre, mas, especialmente em tempos de crise”.
Para Spitzeck, que comandou o estudo, “a sustentabilidade deve estar na parte estratégica do negócio”. Ele citou o exemplo do Grupo Pão de Açúcar. O GPA, afirma o professor, “conseguiu reduzir em 24% o consumo total de energia elétrica em 2015. Quanto não pouparam com isso? Não é uma conta de praxe do segmento”.
O professor diz que ao priorizar a sustentabilidade sempre, as empresas podem aumentar suas receitas. Mas, ele também observa que em momentos nos quais a economia está crescendo, projetos de maior fôlego e prazo têm mais chance de prosperar, tornando-se uma política de longo prazo nas empresas.
O estudo não mediu o orçamento das empresas dedicados a questões ambientais e sociais. Mas, pelas conversas que teve com pessoas dedicadas a essas áreas, o responsável pelo estudo observa que funcionários foram demitidos nos últimos anos “como forma de enxugar custos”.
O negócio do varejo, lembra Spitzeck, “tem a característica de focar muito em custos por causa da concorrência intensiva e de margens apertadas”. Mas os exemplos indentificados no estudo mostra, segundo ele, “que uma empresa com mais sustentabilidade terá muito mais chance de ser saudável financeiramente, algumas pela redução de riscos”.
No grupo das varejistas avaliadas, as que se saem melhor são O Boticário, GPA e C&A. Em seguida, Walmart, Carrefour, Leroy Merlin, Lojas Americanas, Hering, Magazine Luiza e Renner. Dentre as empresas que não apresentam nenhum desafio a perseguir, ambiental ou social, o estudo da Fundação Dom Cabral cita Sonda Supermercados, Fast Shop, Marisa, Máquina de Vendas e Supermercados BH.
O estudo deverá ser comentado nesta quarta-feira pelo professor no canal da fundação no YouTube, a partir das 13h. O objetivo é “tornar o tema mais acessível, derrubar mitos”, disse Spitzeck.
Fonte: Valor Econômico