Com o bom movimento de vendas nos primeiros meses de 2018, muitos varejistas se animaram a repor estoques para atender à demanda. Até meados de maio, culminando no Dia das Mães, as expectativas se confirmaram. Mas sobreveio a ruinosa greve dos caminhoneiros e das empresas de transporte, até hoje uma questão mal resolvida, como mostra a controvérsia sobre fretes. Como se não bastasse, a cotação do dólar passou a disparar, o que, além de gerar aumento de preços de produtos importados, teve um efeito psicológico negativo sobre o consumidor, em um ambiente de incertezas políticas. Resultado: o comércio varejista está hoje com excesso de estoques, o que ocasiona altos custos financeiros para carregá-los.
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) com 6 mil empresas do País indica que 30,7% delas tinham, no início de junho, estoques de bens duráveis, eletrodomésticos e veículos, acima do nível normal de vendas. Apenas 14,3% informaram que seus estoques estavam normais para esse período do ano.
Com menos intensidade, o quadro é muito parecido no que diz respeito a alimentos, produtos de higiene e limpeza: 27% das lojas tinham produtos acima do nível adequado e 11,8% abaixo do habitual. Isso se explica, em parte, pelo fato de que muitos consumidores, na fase mais aguda da greve dos transportes, terem superestocado produtos de primeira necessidade.
Há visivelmente um clima de desânimo entre os empresários do setor varejista. Segundo a CNC, a confiança dos empresários caiu 3,5% em junho em relação a maio, a maior queda em três anos, acompanhada de uma baixa de 0,5% na intenção de consumo das famílias.
Sob esse aspecto, o Índice Nacional de Expectativa de Consumo (Indec), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), é mais pessimista, apontando um recuo de 3,8% na confiança do consumidor na passagem de maio para junho; o Indec retrocedeu para 98,3 pontos, a pior marca em dois anos.
É claro que uma situação como esta tem reflexos diretos na indústria, que deverá, pelo menos a médio prazo, receber menos encomendas. Os empresários em geral esperam que, na melhor das hipóteses, o consumo possa reagir no último trimestre, por conta do Natal e das festas de fim de ano.
Fonte: Estadão