Entre os benefícios das construções sustentáveis estão o crescimento da velocidade de ocupação, da retenção (aumento da competitividade), maior liquidez e menor taxa de inadimplência. Essas situações são tópicos apontados em recentes estudos do mercado imobiliário e também norteiam o conteúdo de eventos do setor
No Brasil, o Green Building Council (GBC) tem mais de 800 empresas que suportam suas atividades, concentradas nas áreas de capacitação profissional, disseminação da informação, fomento de políticas públicas e promoção de certificação para edificações verdes. Uma das métricas utilizadas pela organização para mensurar o crescimento do movimento no país é a análise da curva de aumento no número de projetos que buscam a certificação internacional LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), promovida pelo Green Building Council Brasil.
Trata-se de uma ferramenta internacional que certifica edificações em 157 países, sendo que o Brasil ocupa a quarta posição do ranking mundial. São 1.106 projetos registrados e 335 certificados, e ainda há 33 projetos registrados no Referencial GBC Brasil Casa (ferramenta de certificação recentemente criada para o setor residencial). São mais de 33 milhões de metros quadrados que têm conceituação integrada de projeto, intervenções positivas no entorno, mitigação de impactos ambientais negativos, eficiência no uso da água, eficiência energética, incentivo e produção de energia renovável in loco, qualidade ambiental interna, redução do uso de recursos naturais, inovação, entre outros.
Hoje, é possível afirmar que estamos observando um célere processo de maturidade e consolidação das práticas e conceitos de construção sustentável junto aos principais stakeholders da construção civil. Os registros e projetos que esbanjam experiência em matéria de green building estão localizados em todas as regiões do Brasil, e, desde 2013, observa-se uma grande diversidade de tipologias que buscam a certificação LEED. O movimento não está mais restrito a edificações corporativas de alto padrão. São escritórios, escolas públicas e privadas, creches públicas, museus, estádios de futebol, hotéis, restaurantes, novos “bairros”, shopping centers, lojas de varejo, plantas industriais etc.
As principais razões que justificam a consolidação desse movimento são a comprovação e o entendimento –por parte dos envolvidos dos benefícios de cunho econômico –de que a construção sustentável oferece, como o crescimento da velocidade de ocupação, da retenção (aumento da competitividade), maior liquidez e menor taxa de inadimplência. Essas situações são tópicos apontados em recentes estudos do mercado imobiliário e também norteiam o conteúdo de eventos do setor. A indústria fornecedora de materiais e serviços colabora com a expansão dispondo de inúmeras soluções para o atendimento dessa demanda. Há indústrias e empresas que estão avançadas até nas temáticas relacionadas à avaliação do ciclo de vida e declaração ambiental de produto.
Outro importante vetor de transformação a se destacar é o papel das políticas públicas existentes e em discussão. A própria Reunião das Partes, realizada durante a Conferência das Partes (COP) em Paris, França, no ano passado, enfatizou o papel das edificações no novo cenário de articulações para um acordo climático. Isso porque as edificações consomem 40% da energia produzida e são responsáveis por 30% das emissões de CO2. Foi concluído que um plano global de eficiência energética em edificações existentes e a aceleração do conceito e execução de novos projetos net zero energy auxiliarão na manutenção de 2ºC a 1,5ºC de aumento de temperatura até 2050. Nesse sentido, uma série de políticas públicas, incentivos financeiros e compromissos estão sendo firmados. Recentemente, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, assinou um projeto de lei que oferece de 4% a 12% de desconto de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para edificações novas ou existentes, residenciais ou comerciais, com certificação.
Essas ações relacionadas a incentivos, vantagens e divulgação contribuem para a criação de uma atmosfera positiva ao movimento da construção sustentável, a ponto de tornar-se muito arriscado assumir eventual ônus da obsolescência das edificações novas ou existentes, certo que, segundo estudos da United Nations Environment Programme’s ( UNEP), esse custo de médio e longo prazo triplicou nos últimos anos e a tendência é continuar crescendo.
Shopping Centers e Varejo – impacto do green building nas pessoas e no lucro
Uma construção sustentável deve oferecer melhorias aos usuários e ocupantes. As edificações são fundamentais para as pessoas e devem contribuir para uma melhor qualidade de vida, seja em casa, no trabalho, em momentos de compras e lazer.
Recentemente, o World Green Building Council lançou o Estudo de Caso sobre Saúde, Bem-Estar e Produtividade no Varejo. Por meio de métricas econômicas, ambientais e pela experiência dos usuários, foram identificadas razões de suma importância para que os setores de shopping center e varejo apostem nas melhores práticas. Certo de que tanto o shopping quanto as lojas são espaços públicos relevantes para as cidades, assim como os parques e praças, esses locais podem investir em estudos e projetos de iluminação, qualidade interna do ar, conforto térmico, acústica, layout de interiores, biofilia, entre outros aspectos relacionados a práticas de green building.
A certificação internacional LEED contribui até mesmo como um guideline e sistema de quantificação da qualidade e desempenho nas temáticas acima mencionadas, de modo a contribuir para que os responsáveis possam projetar, construir e operar shopping centers e lojas com base no conceito e benefícios da construção sustentável.
O Brasil também se destaca em matéria de certificação LEED dessas tipologias de edificações. Ao total são 36 edificações registradas e 11 certificadas em 14 diferentes estados. Entre as edificações que se destacam há o Tietê Plaza Shopping, em São Paulo, que conseguiu o potencial de reduzir 45% do consumo de água potável, teve redução do consumo de energia em 15% e reciclou 90% de todo o resíduo gerado durante a construção.
O Shopping Bosque dos Ipês, certificado no Mato Grosso do Sul, inclui práticas de reaproveitamento de água, aproveitamento de luz natural, vidros de alta eficiência, pisos intertravados (peças modulares de concreto) que favorecem a drenagem do terreno, infraestrutura completa para o ciclista, entre outras práticas que habilitaram a edificação à conquista da certificação internacional LEED.
Por fim, é inegável que edificações eficientes e melhores proporcionam melhores experiências, que refletirão em melhores resultados de vendas, fidelização, imagem, entre outros. O GBC está muito motivado com o avanço dessa cultura nas edificações de entretenimento, compras e serviços no país.
Sem crise
O mercado da construção sustentável contraria toda estimativa negativa, em face ao cenário de crise política e econômica enfrentado no país. No primeiro trimestre de 2016, foram 34 novos registros contra 24, 21 e 33, respectivamente referentes aos anos de 2015, 2014 e 2013. O começo de 2016 desponta como o segundo melhor ano da certificação LEED no Brasil, perdendo apenas para os 64 novos projetos registrados no primeiro trimestre de 2012. Além disso, foram registrados oito novos projetos no Referencial GBC Brasil Casa, entre eles loteamentos e condomínios residenciais verticais que participarão do programa piloto. Já o mês de abril de 2016 assumiu o recorde em termos de novos registros, anteriormente ocupado por fevereiro de 2012, com 33 novos registros LEED e 2 do Referencial GBC Brasil Casa.