Com uma cultura que estimula testes e inovação no setor público, a China atua como uma grande empresa digital
Imagine um lugar em que o governo não somente não trava a inovação, mas a estimula. Em que as políticas públicas incorporam a mentalidade de testar sempre, errar muitas vezes mas escalar rápido o que dá certo. Em que a competição por recursos públicos é intensa a nível local, fazendo com que somente os melhores gestores públicos assumam desafios maiores. Imagine um país que se comporta como uma gigantesca startup. Esse lugar existe: é a China.
Nas últimas décadas, o país foi responsável por 30% do crescimento mundial. Em 2020, com a Covid-19, deverá ser a única grande economia a crescer (algo entre 1% e 5%). “Na base desse crescimento intenso está uma visão de longo prazo e o investimento em tecnologia, que precedem a abertura econômica dos anos 90”, afirma Marcos Caramuru, ex-embaixador do Brasil em Pequim e consultor.
Esse modelo torna o país líder em segmentos como smart cities, por exemplo: desde 2012 o país conta com um plano nacional de Cidades Inteligentes e municípios inteiros já estão conectados. A próxima onda é a Inteligência Artificial, em que a China está investindo pesadamente para se tornar líder mundial. “O país tem seu plano nacional de desenvolvimento, com orçamento de quase US$ 15 bilhões, para fazer isso acontecer”, comenta Caramuru.
Ter dinheiro, porém, não basta: é preciso ter uma cultura que estimule os investimentos e a experimentação. “Viver na China é experimentar o futuro sem envelhecer”, resume Caramuru. “É pensar grande, é buscar melhorar sempre, é abraçar a competitividade”, diz. A busca permanente por novas soluções é estimulada e, por isso, a cópia de produtos de concorrentes é permitida. “Isso acelera muito a inovação e reforça a necessidade de ter uma eficiência operacional muito grande. Tudo o que você fizer, alguém irá fazer igual muito rápido. Com isso, existe um estímulo imenso a não parar de inovar. Isso vale para as empresas privadas, mas também para o governo”, explica.
O mercado chinês assume os riscos de peito aberto. Exatamente o oposto dos governos ocidentais, em que o objetivo é minimizar as ameaças e receber as mudanças com muita cautela. “A China implementa muitos projetos-piloto, inclusive em grandes questões macroeconômicas. É algo inconcebível na mentalidade ocidental”, diz o consultor.
Essa grande competição é estimulada desde os níveis locais. “Os impostos são coletados nas subprefeituras, então a pressão competitiva vem de baixo para cima. As cidades têm recursos e concorrem forte entre si, assim como as empresas estatais também competem entre elas. Essa é a visão de ir buscar o futuro e construir um futuro melhor. Isso constitui uma moldura de pensamento que rege o país em políticas públicas e privadas”, completa Caramuru.
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