Ecossistemas colocam o consumidor no centro da estratégia para desenvolver soluções para as necessidades dos clientes e a identificação de novas oportunidades
Uma análise dos ecossistemas de negócios chineses traz uma provocação importante: a revolução do varejo chinês não foi feita por varejistas. Ela foi, na realidade, feita por empresas de tecnologia que, a partir do uso intensivo de dados, ampliaram as suas fronteiras para cumprir um papel estratégico muito maior que o do ponto de venda tradicional.
No Seminário Digital “China pós Covid-19: Inovação e Ecossistemas”, promovido pela BTR-Varese, Wei Wei, especialista em ecossistemas de inovação e CEO da consultoria GSL Innovation, trouxe insights importantes sobre o desenvolvimento dos ecossistemas chineses:
- Visão a partir do cliente: ecossistemas são criados por empresas que se dispõem a aproveitar oportunidades de mercado se maneira “agnóstica”, sem se prender a setores e mercados. “O WeChat é um bom exemplo. Ele nasceu como um aplicativo de mensagens, mas hoje conta com 2 milhões de prestadores de serviços integrados em miniapps. Assim, o cliente resolve toda a sua vida no aplicativo sem precisar baixar mais nada para seu celular”, comenta Wei Wei.
- Uso intensivo de dados: essa visão focada no cliente só é viabilizada em larga escala pelo uso intensivo de dados. “Os ecossistemas de negócios viabilizam a vida digital. Baidu, Alibaba, Tencent e Ping An são alguns exemplos de empresas que hoje estão presentes em todos os momentos da vida dos consumidores. Com isso, conseguem entender melhor o público, identificam oportunidades de negócios e aceleram a entrega de soluções”, explica a consultora.
- Aquisições e parcerias: os ecossistemas acontecem normalmente em duas fases. Um primeiro momento é a aquisição de empresas com serviços complementares. “O Alibaba comprou mais de 400 empresas, entre startups e companhias de outros segmentos, incluindo o varejo, enquanto o WeChat adquiriu 600 companhias nos últimos anos”, diz Wei Wei. “Isso dá uma capacidade imensa de entregar soluções para os clientes e aumentar a recorrência”, diz.
Ao mesmo tempo, as parcerias são uma parte importante dos ecossistemas. “Nenhum ecossistema funciona sem parceiros, pois nenhuma empresa tem a agilidade e a capacidade de investimento para aproveitar sozinho todas as oportunidades de relacionamento com os clientes”, afirma Wei Wei. “A colaboração com outros players é o que faz a força dos ecossistemas chineses”, diz.
- Explorar oportunidades: os ecossistemas são construídos a partir de uma lógica diferente. Nele, as empresas não buscam sinergias de negócios ou oportunidades de acordo com seu DNA. O que elas buscam é entender o consumidor, seus desejos e necessidades para, a partir daí, estruturar seus negócios para atender essas demandas. “Isso cria modelos de negócio como o do WeChat e torna os ecossistemas presentes em todos os aspectos do dia a dia. É um incrível potencial de relacionamento e fidelização de clientes”, completa Wei Wei.
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