A mudança de comportamento do consumo tem ditado as regras do que permanece ou não no mercado, dos produtos que são perenes ou passageiros. Isso também se aplica as empresas, sendo fator determinante de quem continua ou não.
Segundo dados da Inova Consulting, a aceleração do conhecimento do consumidor foi gradativa e avançou no último século. Em 1900, levava 100 anos para que o ser humano dobrasse seu conhecimento; em 1945, o mesmo resultado era obtido em 25 anos; em 2014, eram necessários 13 meses e em 2020, a previsão é de que levará 12 horas.
De acordo com levantamento da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), entre a década de 80 até os dias atuais, pelo menos nove grandes empreendimentos feitos no Brasil com acesso a Campinas (SP), fecharam suas portas. Nomes como as lojas de departamentos Mesbla, Mappin, Sears, a rede de eletrodomésticos Jumbo Eletro, o Supermercado Eldorado, Singer do Brasil e Casas Buri (maior concorrente das Casas Bahia na época), não davam a ‘fachada’ de que um dia não existiriam mais.
Empreendimentos de grande porte que fizeram parte do cenário econômico nacional não conseguiram se manter no mercado, seja por crise econômica, por mudança no perfil do consumidor, na cultura ou mesmo falhas administrativas. Alguns abriram falência, outros foram comprados por outros grupos e teve todo projeto e nome alterado.
Mudança
Segundo o economista da Acic, Laerte Martins, a concepção das empresas está mudando. Surgem novas lojas voltados ao recomércio, e empresas como startups vem com muita força para Campinas e região.
“Novas empresas estão surgindo e se adaptando as novas tecnologias, instalando empreendimentos com assessorias. Há uma expectativa interessante em relação a startups e Campinas tem uma predestinação para a tecnologia. Estimo que entre cinco e dez anos teremos um mercado voltado para a economia digital”, complementa Martins.
Tendências x Velocidade da Informação
Em entrevista ao G1, Luiz Rasquilha, Ceo da Inova Consulting e da Bussiness School, relata que as tendências e transformação do mercado estão totalmente interligados com a velocidade de conhecimento do consumidor. Ele cita como exemplo dessa velocidade, o caso do telefone, que levou 75 anos para chegar a 50 milhões de pessoas, enquanto que o iPhone levou 3 anos, e o Pókemon-go, 15 dias.
“Tem um maior numero de pessoas postando, repassando informações, notícias e conhecimento”, declara Rasquilha. ” Nos anos 2000, 6% da humanidade estavam conectadas com a internet. Em 2010, 23% e em 2020 a expectativa é de que 66% da humanidade esteja 100% conectada” .
A expectativa média de vida de uma empresa nos anos 80 era de 30 anos. Atualmente, este número baixou para cinco anos. Quase 90% das empresas de 1960 que estavam no ranking da revista ‘Fortune 500’, hoje não estão nem na lista muito menos no mercado.
Um dos ‘pecados’ cometidos na era digital, é empresas que ainda empregam a lógica da Revolução Industrial e que não se adaptam a evolução cultural e social dos novos consumidores. É uma negação do óbvio, e até mesmo uma miopia, de acordo com Rasquilha.
“O cliente está mais crítico e exigente. É diferente da mentalidade antiga, onde imperava o eu produzo, você compra e fica na fila esperando ou ainda, eu te entrego daqui a três meses. Hoje o cliente tem o perfil de que se o produto não for entregue, você tem outros 50 mil fornecedores que entregam em tempo recorde e até mais barato”, afirma.
Netflix, Uber, WhatsApp
O Brasil é o quarto país no mundo com mais nativos digitais – pessoas nascidas em 1990 e que pelos últimos cinco anos, usam de forma consistente a internet. Casos recentes como Netflix, Uber, WhatsApp, transformaram o mercado, apesar da resistência por parte das empresas já concretizadas.
A TV a cabo tem diminuído seus preços para tentar competir com a Netflix ; os taxistas apesar das diversas manifestações, começaram a se mexer e até criar aplicativos para competirem com o Uber em Campinas; companhias de telefonia apesar de não satisfeitas com o sucesso da comunicação ilimitada do WhatsApp, tentam ajustar seus pacotes.
A crise atual é contestada por especialistas e economistas. Alguns arriscam dizer que a crise não existe, mas sim uma transformação das condições de onde atuamos. O mercado continua crescendo, as empresas vendendo, mudou a revalorização das ofertas. As pessoas se aconselham e buscam informações para avaliar melhor a tomada de decisão.
Ondas de consumo não podem ser confundidas com crise. Por ter uma vida útil curta, é sucesso no início, mas desaparece rapidamente como uma estação que vai embora. Exemplos disso são modismos como o Frozen Yogurt, as Paletas Mexicanas, Cup Cakes, entre outros tantos que continuam no mercado, mas não com a mesma intensidade do início.
Efeito Kodak
Escolas de negócio citam o exemplo da Kodak, líder no mercado da fotografia e papel fotográfico. Foi a primeira empresa a criar uma câmera digital, mas por ‘miopia’ achou que ninguém compraria a criação. Em 1995, a Kodak que tinha 140 mil colaboradores, após 20 anos abriu falência, substituída por um conjunto de coisas que vai de Instagran à câmeras de celular. A empresa Nókia também era líder em aparelhos de celular, e com a entrada da Apple no mercado, viu o panorama se transformar.
Montadoras de carro são um exemplo de que uma readequação urgente se faz necessário com a queda nas vendas. A nova geração denominada ‘Milleniuns’ (pessoas abaixo dos 30 anos) ditam as novas regras; não comprar carro é um exemplo.
“Eles preferem uma economia compartilhada, querem viajar, preferem alugar um imóvel do que comprar para não ficarem fechados em uma única região, usam bike, metrô, Uber, ‘Blá Blá Car’ (um aplicativo de carona compartilhada)”.
“Pra que vão pagar impostos, gasolina, seguro, financiamento,estacionamento, manutenção? A coisa está mudando”; conclui Rasquilha.