Varejista quer abrir um novo centro de distribuição e promover quatro inaugurações de lojas ainda este ano
Por Adriana Mattos
A rede Tenda Atacado é uma das atacadistas regionais que crescem vendendo em seu Estado de origem, de onde nunca saíram. Controlada pela família Severini, com quatro sócios, a empresa tem 37 lojas no Estado de São Paulo, onde disputa diretamente, em certos locais quase porta a porta, com as duas líderes do mercado brasileiro, o Atacadão e o Assaí, ambas paulistas.
Para ganhar mercado na região cada vez mais ocupada, a Tenda engrossa a lista das cadeias de “atacarejo” que aumentam investimentos em 2021, após a nova onda de migração do consumidor do varejo para o atacarejo.
Para este ano, a empresa projeta R$ 250 milhões em investimentos em um novo centro de distribuição e quatro aberturas de lojas para 2021. O montante supera a média histórica, já que a rede tem inaugurado uma a duas unidades ao ano, e cada (incluindo terreno) não consome mais que R$ 50 milhões.
Em 2020, foram duas aberturas e cinco reformas. Em 2021, além das quatro unidades novas, dez serão reformadas. Os recursos devem sair da geração de caixa e uma parte menor captada no mercado. Ao fim de 2020, a cadeia tinha quase R$ 158 milhões em saldo de caixa (eram R$ 93 milhões um ano antes), segundo balanço.
As quatro aberturas estão programadas para São Paulo (uma já foi aberta em Ubatuba, litoral norte), levando a rede a alcançar 40 pontos no fim de dezembro. “Estamos onde a competição é mais pesada, por causa da ocupação das áreas populosas do Estado ao longo dos anos, e pelo fato de ser a sede das duas líderes. Mas achamos que ainda há espaço, nosso formato é de loja mais urbana, que consegue trazer o consumidor pessoa física também, inclusive no digital. Não temos porque sair daqui agora”, disse Marcos Samaha, presidente da rede e ex-executivo de GPA e Walmart.
Empresas regionais, atacadistas e varejistas, muitas vezes relutam em ir a outros Estados porque, além da questão fiscal – com diferenças de ICMS entre Estados -, a mudança duplica áreas e amplia despesas.
O ganho no volume tem que compensar essa nova estrutura a ser construída.
Sobre a nova central de armazenagem, em Guarulhos (SP), com cinco mil metros quadrados, a área amplia em 25% a atual do centro localizado na cidade. A abertura ocorre neste ano. Hoje são seis centros de distribuição no Estado, de menor tamanho, para itens como congelados e para o braço de atacado de distribuição.
Dentro desses investimentos, a empresa ainda programa lançar um serviço de assinatura para venda no on-line – o comprador recebe regularmente determinados produtos – e inicia na segunda metade do ano um modelo de entrega expressa, no mesmo dia.
“O frete é pago pelo cliente, cobrado à parte. Isso de frete grátis não existe, e não subsidiamos pelo efeito na rentabilidade”. A empresa vende pelo online desde 2015, e diz que projeta crescimento de três dígitos no ano (sem relatar, porém, o número) – reflexo do aumento do tráfego e conversão de clientes após a pandemia. Cerca de 85% da receita vem das lojas e 15% do site.
Daqui para frente, a empresa vê uma pressão um pouco menor da inflação sobre os alimentos, o que pode favorecer o crescimento nominal da receita não apenas pela alta de preços, mas pelo ganho de volume vendido. “Tivemos uma inflação forte de arroz, feijão, milho, chegando em dezembro a uma alta de cerca de 25% nos preços dos alimentos. Nos últimos doze meses isso está em 17%, desacelerou um pouco e as conversas com a indústria vem mudando”, afirmou.
“Com o custo subindo houve dificuldade no segundo semestre de se comprar tudo, em fechar pedidos cheios, com a indústria repassando tabelas constantemente. Agora, recebemos tudo e pode-se comprar mais com estabilidade maior”.
Segundo balanço publicado, e auditado, a receita líquida da Tenda passou de R$ 3,3 bilhões em 2019 para R$ 4,32 bilhões em 2020, alta de 31% – acima do ritmo de expansão do setor, na faixa dos 20% no ano passado, segundo a Nielsen.
Os números ainda mostram o resultado operacional beneficiado pelo aumento da linha “outras receitas”, que incluem créditos tributários. Esse créditos, de PIS e Cofins atingiram R$ 105,6 milhões no ano passado, e de ICMS, quase R$ 20 milhões em 2020, ambos reconhecidos no exercício (em 2019, foram R$ 11 milhões). O ganho reduziu o impacto da alta nas despesas com vendas. Ao fim, o lucro antes do imposto de renda e contribuição atingiu R$ 233,8 milhões, seis vezes o valor de um ano antes.
Samaha diz que não tem a avaliado aquisições no momento, seguindo pela expansão orgânica. A orientação é manter a gestão profissionalizada. Há conselho de administração com quatro membros da família e quatro independentes para “manter práticas de transparência”. Sobre uma preparação para abertura de capital, diz que “é uma possibilidade remota no futuro, mas não se discute
Fonte: Super Hiper