Por Aline Luna, Sr. Marketplace Manager do Magazine Luiza (Twitter: @alinesluna)
A edição 2019 do Shoptalk foi impecável na organização e na capacidade de gerar conexões entre os participantes, fomentando networking e conversas inspiradoras.
Durante as apresentações, keynotes e table talks do programa “Hosted Brands and Retailers”, vi profissionais apaixonados pelo que fazem e empolgados em tomar parte na transformação digital dos seus negócios.
A cada sessão que você escolhe assistir, infelizmente acaba renunciando a outra tão boa quanto. Com muita sorte, pude fazer o evento este ano com um grande amigo para nos dividirmos e trocarmos referências e textos sobre o conteúdo que não assistimos juntos.
Levando a sério o que a minha grande mentora Luiza Helena diz, “você é do tamanho do que você compartilha”, eu não poderia deixar de compartilhar um resumo do que vivenciei no Shoptalk 2019.
Quando comecei a sintetizar minhas anotações, fotos de apresentações, transcrições vídeos e áudios, notei que tudo poderia ser agregado em três grandes “tendências”, que estou chamando de back to basics, emerging e disruption.
Back to Basics
Neste ano apareceu no discurso de executivos como Doug Stratosphere (CDO Hershey) e das grandes consultorias uma necessidade de fortalecer o ganho de produtividade e de se ter uma agenda forte de priorização. Nesse cenário, a transformação digital é de extrema importância para a evolução, mas ela exige cuidado com pontos cegos ou lacunas na operação que sustentam o negócio.
Customer Centricity
Agilidade, improviso e transformação digital: pensar local e global para boa construção da marca. Você já pensou em comer um frango frito com waffles e maple syrup? Acredite em mim: eles são capazes de vender isso e muito mais para se adaptar ao gosto de cada parte do mundo.
Get Ready!. O sucesso do Dollar Shave Club veio de oferecer o que o cliente precisa diariamente na sua casa para seus cuidados pessoais, com uma experiência de compra incrível.
Emerging
Não por serem assuntos novos, mas sim porque acredito que novas perspectivas nesse tema estão surgindo:
- O consumidor está mudando, mas não talvez como você imagina. Um exemplo: Millennials ficam em casa no sábado brincando de Lego. De acordo com estudo da Deloitte, os números apontam que a renda das pessoas abaixo de 35 anos vem caindo consideravelmente na última década. Sendo assim, o poder de escolha do consumidor, frente a tantas opções de marcas e canais de venda, é o grande desafio para adaptação, mais do que um consumidor em constante mudança. É a diversidade de escolha do consumidor e a grande competição entre os varejistas que está direcionando as oportunidades no share of wallet, e o poder de compra é o maior de direcionador de comportamento do consumo.
- Aparecendo cada vez mais ligado ao varejo, o e-commerce de alimentos ganhou presença no Shoptalk 2019 com a participação do Instacart, uma empresa de tecnologia e logística que tem ajudado supermercados locais a se digitalizar e manter uma relação mais próxima com o consumidor. Para Nilam Ganenthiran, Chief Business Officer da empresa, a loja física continuará tendo extrema relevância, e para o setor de alimentos não será diferente. O maior aprendizado tem sido esclarecer para os varejistas que os clientes não querem comprar comida no mesmo “ambiente” que eles compram uma televisão ou uma geladeira. A venda exige uma experiência além do varejo tradicional e, ao mesmo tempo, única. Como levar aquele impulso da fila do caixa na loja física para o mundo online? Como garantir a mesma experiência em qualquer ponto de contato, pois o cliente é o mesmo?
- Scan, Pay and Go / lojas inteligentes: acompanhando a Bingo Box e a Amazon Go, a Seven 7 demonstrou uma nova experiência para o consumidor, que me pareceu mais fácil de ser adotada: escanear, pagar e depois confirmar a compra com um vendedor da loja. O Sam’s Club, do Walmart, está bem avançado no reconhecimento via scan dos produtos para além do código de barras, apenas através de fotos, cruzando com a facilidade de montar a lista de supermercados de casa sem exigir muito esforço na especificação dos produtos.
- Daniel Alegre, presidente de Retail Shopping & Payments do Google, provocou o varejo a evoluir seus anúncios para a venda direta através da imagem ou de um novo formato de vídeo anunciado no evento como forma de concorrer com o Pinterest, que saiu na frente nesse formato de mídia.
Disruption
Todos que trabalham com o digital devem estar atentos às mudanças do mercado. O Shoptalk trouxe algumas provocações interessantes:
- Voice Shopping: a disputa entre os gigantes Amazon e Google. David Isbtski, Chief Evangelist Alexa e Echo da Amazon, foi a grande atração do evento, ao destacar que o compra por voz será imbatível, pois nada cativa mais o consumidor do que a velocidade. Quando questionado se a Alexa seria fiel a apenas um canal de compra ele se saiu bem, dizendo que existem grandes oportunidades para as marcas construírem em conjunto com a Amazon. Para ele, porém, o comportamento mais óbvio será “Alexa, buy on Amazon for me”. Nesse mesmo sentido, o Google reforçou o crescente comportamento do consumidor “Google find … near me”, a grande aposta de transformar o Google em um grande gerador de tráfego e consulta de estoque para as lojas.
- Super Apps: o aplicativo que a pessoa vai usar de acordar até dormir, no painel mais esperado do evento. Hans Tung, managing partner da GGV Capital, citou em sua apresentação o crescimento do Rappi no Brasil e a corrida que existe na América Latina e nos EUA para a criação de algo semelhante ao que acontece hoje na China com o WeChat, pelo qual é possível até solicitar pedidos de divórcio.
Foi uma temporada e tanto em Las Vegas! Após perder as contas de quantas palestras assisti, gastar a sola do sapato no salão da feira e conhecer uma infinidade de soluções tecnológicas, consegui meu Retail Education Certificate, um programa para marcas e varejistas que recomendo muito.
Para quem deseja ir no próximo ano, uma dica: o HOSTED BRANDS AND RETAILERS é uma grande oportunidade para conseguir um subsídio para a viagem e convencer seu chefe que você não pode perder o Shoptalk 2020. Outra indicação são as apresentações do Shoptalk 2019, disponibilizadas pela organização do evento.
Gostaria de agradecer a Eduardo Terra e Alberto Serrentino, presidente e vice-presidente da SBVC, que abriram espaço para que eu pudesse contribuir e somar para esta comunidade que tanto admiro. Ao Renato Müller, curador do conteúdo SBVC, presente durante as horas mais improváveis. Aos meus líderes Frederico Trajano, Leandro Leite e Eduardo Galanternick, que me proporcionaram essa oportunidade de representar a empresa em um fórum internacional. Isso comprova, mais uma vez, que mudamos de categoria, agora nos posicionando para um jogo global, de escala chinesa. E, por fim, aos meus mentores que me apoiam nesta jornada digital: André Fatala e Ricardo Rocha.