Grandes empresas de shopping centers devem elevar os investimentos em 2018, e retomar antigos projetos que estavam em banho-maria. Apesar disso, os desembolsos permanecem distantes do período pré-crise e ainda não há, por parte das companhias ouvidas, previsão de anúncios de novos projetos construídos a partir do zero (“greenfields”) – a última safra deste tipo ocorreu quatro anos atrás.
Uma das maiores empresas do setor, a Multiplan inicia, no próximo ano, a construção de um empreendimento em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. A intenção de abrir um shopping no local era conhecida e o terreno já havia sido comprado, mas as obras do shopping não avançaram.
“Jacarepaguá não é uma decisão que envolve apenas a melhora do ambiente econômico. É claro que começamos a viver um ciclo mais positivo e o varejo acompanha isso. Mas nossos lançamentos seguem um planejamento e as tratativas para o avanço do shopping de Jacarepaguá andaram mais devagar que o de Canoas [ParkShopping Canoas (RS)]. Por isso ele ficou para depois”, disse Armando d’Almeida Neto, diretor vice-presidente financeiro. No fim de novembro, a empresa inaugurou o empreendimento em Canoas, com investimento de R$ 500 milhões.
O investimento no ParkShopping Jacarepaguá deve atingir R$ 500 milhões. Serão dois anos de construção, com a abertura estimada para o fim de 2019. Parte dos recursos para o projeto deve estar dentro do pacote de investimentos do período de 2017 a 2018, em torno de R$ 1,1 bilhão. De janeiro a setembro, os investimentos no grupo atingiram R$ 350 milhões.
Os atuais desembolsos das companhias do setor ainda não são comparáveis aos do último período de maior crescimento da indústria, anterior a 2013. A Multiplan, por exemplo, chegou a desembolsar (Capex) R$ 1,4 bilhão em 2012.
A Iguatemi Empresa de Shopping Centers informou que os investimentos de 2018 devem ficar em patamar superior aos deste ano, sem detalhar números. A expectativa é que as previsões sejam anunciadas entre janeiro e fevereiro. “O Capex deve ficar superior [a 2017], mas não voltamos a patamares anteriores ao da crise ainda”, disse, em encontro com analistas, Roberta Noronha, diretora de relações com investidores.
A empresa tem dois projetos a serem inaugurados entre 2018 e 2019, e que foram adiados por mais de um ano. O grupo deve abrir um outlet em Tijucas (SC) no fim de 2018, e outro em Nova Lima (MG) no ano seguinte. O outlet catarinense começou a ser construído neste ano. “Adiamos o início das obras e, agora que estamos percebendo uma melhora da economia e da disposição dos lojistas em investir, aceleramos as obras”, disse a analistas Carlos Jereissati Filho, presidente da Iguatemi.
Os projetos passaram a avançar após atingir taxa de locação um pouco mais confortável – em Tijucas está acima de 70%; há um ano estava em 50%, apurou o Valor.
É preciso considerar que outlets exigem menos investimentos que shoppings (equivale de 25% a 35%). Logo, há menos desembolso de caixa. Na Iguatemi, até setembro deste ano, foram quase R$ 70 milhões em Capex. A faixa prevista para 2017 varia de R$ 80 milhões a R$ 130 milhões. A soma chegou a atingir R$ 420 milhões em 2012.
Esse movimento afeta empresas com empreendimentos para classes de maior e menor rendas. Maior empresa do setor no país, a BRMalls, com empreendimentos para classes B e C, diz que “a tendência é de aumento de investimentos” em 2018 sobre 2017, diz o presidente Ruy Kameyama.
O aumento ocorre, em parte, porque a empresa planeja inaugurar, ao fim de 2018, o Shopping Estação Cuiabá (MT). E ainda há gastos a serem feitos. O plano em Cuiabá ficou em compasso de espera por pelo menos um ano por causa da crise. Em 2016, a soma investida pela BRMalls atingiu cerca de R$ 235 milhões. Em 2017, foram R$ 168 milhões até setembro. Já chegou-se a investir na empresa quase R$ 500 milhões por ano, em 2014 e em 2015.
Kameyama prefere não dar prazo para novos anúncios ao mercado de projetos “greenfield”. “Não vejo no horizonte de curto prazo algum anúncio nesse sentido. Essa queda [nas inaugurações] inclusive é positiva porque reduz pressão concorrencial no setor”. Nos últimos meses, a empresa tem se desfeito de ativos, dentro de uma estratégia de reciclar portfólio.
Para ele, há uma melhora no cenário econômico e 2018 tende a ser ano de recuperação do varejo. “Devemos voltar a ter crescimento de vendas e melhora de resultados. Estamos há dois anos com queda na receita, e em 2018 devemos voltar a taxas positivas”. Até setembro, a receita líquida cai 0,4%; em 2016, a queda atingiu 5,3%.
“Houve uma melhora, mas estamos cautelosos, considerando que temos eleições que geram incertezas”, diz Vicente Avellar, diretor de operações da BRMalls.
Além da retomada de alguns planos que estavam em compasso de espera, o foco das empresas em 2018 estará em expandir shoppings já existentes, reforçar o banco de terrenos e aumentar revitalizações.
O comando da General Shopping, na contramão do mercado, não vê espaço para uma retomada de desembolsos em 2018. “Temos feito alguns investimentos na troca de lojistas e criação de maiores áreas de serviços em empreendimentos. Em termos de volume mais expressivo [de Capex] ainda não é o momento”, diz o diretor de relações com investidores Marcio Snioka.
Fonte: Valor Econômico