A família que há mais de 100 anos controla a principal rede de drogarias de Belo Horizonte está investindo para interiorizar sua marca em Minas Gerais. A expansão da Drogaria Araujo ocorre no momento em que a companhia trava, sobretudo na capital, uma disputa acirrada por espaços e clientes com outras redes que se expandem pelo mercado mineiro.
O concorrente mais poderoso é o grupo paulista RD, dono das marcas Raia e Drogasil, maior varejista farmacêutico do país.
A rede mineira, cuja expectativa é faturar entre R$ 2,3 bilhões e R$ 2,4 bilhões este ano, tem 205 lojas. De janeiro a dezembro, 32 lojas terão sido inauguradas e mais cerca de 20, ampliadas. No ano passado foram 27 novas.
Comandada pelo empresário Modesto Araujo, a rede – cuja história remonta a 1906 – gosta de se apresentar como uma espécie de patrimônio da cidade. Por muito tempo, cresceu e dominou o mercado local sem a sombra de grandes rivais. Mas isso vem mudando. Nos últimos anos houve uma clara ampliação da presença da Droga Raia, da Drogasil, da Drogaria Pacheco, da Pague Menos e de outras empresas. Para tentar firmar sua posição, Modesto Araujo reagiu investindo em novas lojas na capital.
“Adotamos uma estratégia ocupacional em Belo Horizonte porque os entrantes estavam querendo chegar”, disse o empresário.
A briga é boa para os consumidores. Na capital mineira, a marcação entre os concorrentes é cerrada, às vezes com inaugurações de lojas a apenas alguns passos das lojas da Araujo.
“Tem concorrente que coloca uma nova loja parede e meia comigo. É muita falta de ética”, diz Araujo. “Acho que tem mercado para todo mundo, que não deve ser assim: uma coisa descarada, colocando loja na frente, do lado”. Mas, afirma: “Faz parte de ser líder.”
Araujo diz que a despeito do avanço de outras redes, sua empresa abocanha metade do mercado nas cidades onde está mais estabelecida. Suas unidades são espaçosas e mesclam drogaria com lojas de conveniência. “Agora estamos expandindo para o interior de Minas”, diz. “Eu tenho feito lojas no interior, mas essa expansão de uma forma mais maciça começou em 2017. E continuará.”
Neste ano, a projeção é de um investimento de R$ 85 milhões, incluindo as ampliações, tudo com recursos próprios. O valor é semelhante ao do ano passado.
Em 2017, Araujo começou a inaugurar lojas em um raio de 200 km de Belo Horizonte; este ano, a 300 km; e em 2019, o plano é ocupar cidades a 400 km.
A RD tem hoje 110 lojas em Minas Gerais. A cidade onde há o maior número é BH, com 30.
“Temos um plano consolidado para Minas Gerais, tanto que até maio já abrimos nove unidades por todo o Estado”, afirmou, por e-mail, Eugênio De Zagottis, vice-presidente de planejamento e relações com investidores da RD.
O executivo diz que a empresa não revela planos sobre futuras inaugurações. “Estrategicamente, trabalhamos apenas com o nosso número de inaugurações previstas para o Brasil, que são 240 lojas este ano e mais 240 unidades em 2019.”
Concorrentes atualmente no mercado de Minas, Raia, Araujo e Drogasil são recordistas em longevidade.
Em 1905, um farmacêutico de nome João Batista Raia abriu a que seria a primeira loja da Pharmacia Raia em Araraquara (SP).
Em 1906, em Belo Horizonte, dois sócios fundaram a “Pharmacia Mineira”, que venderam em 1913 para seu balconista, um jovem chamado Modesto Carvalho de Araujo. Logo, ele deu seu sobrenome ao negócio. É seu neto quem comanda o grupo desde 2004.
Entre 1935 e 1937, a fusão de grupos de farmácias de São Paulo deu origem à Drogasil. Em 2011, já com ações negociadas na bolsa, Raia e Drogasil anunciaram uma fusão. Receberam aportes de fundos, avançaram e, em 2017, registraram receita bruta de R$ 13,9 bilhões. Modesto Araujo manteve a tradição da família. Toca o negócio sem sócios e prefere caixa próprio ao mercado financeiro.
O empresário diz que ainda não pensa em levar sua rede para outros Estados. “Por enquanto, não. Minas é muito grande, tem mercado.” E acrescenta: “O nosso foco é ter qualidade e faturamento e não quantidade de loja.”
Fonte: Valor Econômico