Apesar de o e-commerce ainda representar menos de 5% de todo o faturamento do varejo, há uma curva ascendente de maturidade das operações on-line. As lojas virtuais são fundamentais ao varejo do futuro, mas, no presente, ainda significam resultados financeiros negativos em boa parte das vezes.
A situação, porém, não é irremediável. Quem diz é Samuel Gonsales, CPO da e-Millennium, especializada em tecnologia para o varejo. Ele aponta que o setor vive seu ponto de virada na transformação digital, atrasado por conta da dificuldade de as empresas integrarem tecnologias antigas às novas soluções.
Gonsales afirma que as grandes redes erraram o timing ao investir pesado em inovação há dez anos, apostando em tecnologias já obsoletas. “Isso criou um problema profundo porque os sistemas mais fundamentais ao dia a dia da empresa são complexos e, em muitos casos, não oferecem tecnologias de fácil integração”, avalia.
Nesse cenário, a integração de canais no Brasil tornou-se um ponto delicado. Hoje, o desafio é atualizar essas tecnologias para soluções que permitam a integração de canais e a realização, de fato, do omnichannel.
Segundo Gonsales, apesar das dificuldades, há mudanças efetivas acontecendo no varejo e as questões relacionadas ao Back Office tendem a ser mais contundentes na transformação digital.
Um exemplo é o projeto de gôndola infinita que está sendo desenvolvido pela e-Millennium, que conecta as mercadorias oferecidas no e-commerce com os estoques das franquias. Gonsales explica que, quando não houver estoque em nenhuma franquia para atender ao pedido, ele será direcionado à indústria ou às revendas.
Outra iniciativa de pouca visibilidade, mas que traz bons resultados, diz respeito aos sistemas de entrega em tempo reduzido. Drogaria Onofre, AMARO e Dafiti são destaque em redução de tempo de entrega para produtos comprados no on-line, segundo o executivo da e-Millennium.
As barreiras relacionadas à logística reversa também já começam a ser desmanchadas. Gonsales diz que a Marabraz permite a liberação do crédito da troca antes mesmo de o item retornar ao centro de distribuição do lojista. “Se um puxador de guarda-roupa chegou quebrado, é mais inteligente enviar um novo o mais rapidamente possível do que desgastar o consumidor com processos engessados”, exemplifica.
Armadilhas
Com a urgência de tornar-se digital, redes com boa reputação no físico caem na armadilha de entrar atabalhoadamente no varejo on-line, arriscando a credibilidade que construíram durante décadas.
Assim como mudanças intempestivas, o apego a práticas ultrapassadas também pode enterrar a transformação digital. “Há muitas empresas reféns das tecnologias arcaicas. Quanto maior a operação, mais engessadas as coisas são e essa falta de autonomia e velocidade se torna uma barreira que impede o crescimento”, alerta.
Para o executivo, o êxito da transformação digital passa, necessariamente, pela mudança no mindset das lideranças das grandes empresas. “Todo CEO precisa ter uma agenda que preveja vencer as limitações tecnológicas e impeça que a obsolescência da tecnologia atravanque o crescimento”, alerta.
Se as grandes empresas ainda tropeçam em suas próprias pernas pela dificuldade que têm de mudar de direção com rapidez, as startups têm mostrado como se mover com habilidade. O crescimento exponencial das empresas de inovação está diretamente relacionado à capacidade que elas possuem de entender os novos modelos de consumo e mirar a transformação digital para a necessidade do consumidor.
O varejo tem à sua disposição informações que garantam a ele conhecer, nos detalhes, a jornada do consumidor. Falta, agora, acompanhá-lo lado a lado ao longo desse caminho e apresentar as soluções que ele procura, em real time.
O caminho das pedras e a efetivação da transformação digital em seis passos
1. Correr, mas sem tropeçar nas pernas
É preciso escolher com calma as tecnologias nas quais investir para não encarar prejuízos financeiro e de imagem.
2. Desapegar-se
Apegar-se a tecnologias e processos infrutíferos só porque são parte do dia a dia da empresa é um erro muito comum.
3. Priorizar o Back Office
As ações que visam modernizar o front da operação chamam mais a atenção, mas podem se tornar um castelo de areia sem a preparação do Back Office.
4. Colocar o produto à disposição, não importa onde
Já não existe mais a opção do “em falta” no varejo digital. Se uma loja não possui o produto, outra deve entregar, ou mesmo a indústria.
5. Entregar de maneira rápida
A integração dos estoques é essencial para permitir redução do tempo de entrega ao consumidor e dar a ele a oportunidade de retirar nas lojas ou em pontos de retirada.
6. Trocar de maneira ainda mais rápida
Se o consumidor não se permite mais esperar para receber o produto, o que dizer de efetuar trocas? Processos internos não devem atrapalhar a entrega do novo produto.
Fonte: Novarejo