O sucesso do aplicativo de entregas de tudo o que for possível Rappi é fruto da criatividade latino-americana. A capacidade de invenção está dos dois lados do negócio. Criado em 2016 pelos empreendedores colombianos Felipe Villamarín, Sebastián Mejía e Simon Borrero, ela conquistou os seus primeiros clientes em Bogotá com a promessa de um donut para cada pessoa que fizesse o download do aplicativo. Recentemente, no Brasil, uma noiva fez um chamado para um entregador ir até o apartamento de um padrinho de casamento e tocar a campainha até que ele acordasse. “Quando descobrimos esse caso, nos divertimos muito. Rappi salvou o casamento”, conta Ricardo Bechara, diretor de expansão e cofundador da Rappi no Brasil. “Isso mostra como o aplicativo pode servir para os mais diversos usos.”
Essa história ilustra o porquê de a empresa avançar tão rapidamente no ambiente de startups da América Latina. A ascensão foi coroada com duas rodadas de investimento recentes. Em outubro do ano passado, a Rappi superou a almejada barreira de US$ 1 bilhão de valor de mercado, o que lhe garantiu o status de uma startup unicórnio. Ao receber um aporte de US$ 392 milhões, ela foi avaliada em US$ 1,2 bilhão. No começo deste mês, apenas 200 dias depois do investimento anterior, ela anunciou uma outra rodada de mais US$ 1,2 bilhão em novos recursos, o maior valor já recebido por uma startup latino-americana. Desse total, o Softbank, do japonês Masayoshi Son, investiu sozinho US$ 1 bilhão, inaugurando um novo fundo de US$ 5 bilhões, dedicado inteiramente às empresas da região. “Este momento, representado por esta rodada, é uma validação para todo o ecossistema empreendedor da América Latina”, diz Bechara.
Mas para que uma empresa com pouco mais de três anos de existência e que chegou há curtos 20 meses ao mercado brasileiro, o maior da região, precisará de tantos recursos? Apesar de prometer entregas de todo o tipo de coisas, de compras de supermercados e farmácias até a dinheiro em espécie e artigos de sex shop, a Rappi deve enfrentar concorrência principalmente num de seus serviços principais, o delivery de comidas. Em novembro, a brasileira iFood recebeu um aporte de US$ 500 milhões. E a Uber Eats, como um braço de alimentação da superstartup Uber, se beneficia do porte da operação principal de caronas compartilhadas. Já a espanhola Glovo, depois de um ano de operação, anunciou em março que deixaria de atuar no Brasil por ter percebido que o mercado era muito mais competitivo e exigir muito mais investimentos do que imaginava. “No negócio tradicional de alimentação, aprendemos que uma empresa boa é a que dá lucro. Mas, nesse negócio de aplicativos, o que vale é a perspectiva futura”, diz Sergio Molinari, da Food Consulting. “Virou coisa de cachorro grande, com dinheiro para gastar.”
É como a Rappi vê o novo investimento. “A lógica por trás do mercado de tecnologia é ganhar efeito de rede. Isso custa caro e é o que traz vantagens de volume e escala necessárias para o futuro da empresa”, diz Bechara. “Por isso, é importante ter investidores como o Softbank, com visão de longo prazo e que buscam as empresas que vão mudar o mundo.” Segundo o executivo, o dinheiro recebido servirá especialmente para permitir a expansão geográfica dos negócios, e também para a inclusão de novos recursos e negócios no aplicativo. Além de atender o usuário comum, a Rappi já tem clientes corporativos, serviço de pagamentos, o Apple Pay, e até um marketplace, para as empresas que preferem se manter fazendo as entregas por conta própria sem usar os seus serviços logísticos.
Essa última funcionalidade pode também ajudar na expansão. Com a ambição de conquistar toda a América Latina, a Rappi está presente em sete países da região e em mais de 40 cidades. Apenas no Brasil são 19 cidades. Mas a companhia vê potencial em atuar em todos os municípios com mais de 300 mil habitantes, o que a colocaria em mais de 100 cidades brasileiras. “Mas por meio do marketplace podemos atingir umas 800 cidades no País”, afirma Bechara. Dinheiro para divulgar e fechar parcerias por todo o Brasil não deve ser um problema.
Fonte: IstoÉ Dinheiro