Por Raquel Brandão e Natalia Viri | A compra da Elo7 pela Enjoei foi bem recebida pelos investidores, mas também deixou uma pulga atrás da orelha.
Por que a Etsy, plataforma americana que havia comprado o e-commerce brasileiro de artesanato e produtos personalizados por US$ 213 milhões o estava vendendo por poucos milhões de reais? Haveria alguma surpresa? Um passivo ‘escondido’?
Agora, concluída a compra, o CEO da Enjoei, Tiê Lima, quer mostrar ao mercado que não há motivo para coceira ou preocupação. “A Elo7 é uma empresa sem dívida e com caixa, assim como a Enjoei”, diz.
Segundo ele, a Etsy tinha dificuldades de operar o ativo na América Latina, e manteve o foco nos Estados Unidos. “Eles entenderam que era melhor focar em outras regiões e tinham um benefício fiscal para registrar com o negócio”, diz Lima.
Provavelmente por conta dos prejuízos acumulados, a americana registrou um benefício fiscal de US$ 54 milhões na venda, de acordo com informações do balanço do segundo trimestre.
Com clientes focados principalmente em produtos infantis, o Elo7 traz muitas oportunidades de venda cruzada – e amplia o acesso a uma categoria que o Enjoei quer privilegiar nos próximos meses, principalmente por conta do seu perfil de recorrência na compra, afirma o CEO.
O foco, num primeiro momento, no entanto, é na rentabilidade. A Elo7 tinha caixa, mas vinha queimando esse colchão. Desde que assumiu a operação, o Enjoei colocou em ação um plano de 90 dias para estancar a sangria, aproveitando as sinergias entre as operações.
De cara, reduziu as despesas gerais e administrativas em 40%. Havia sobreposição de algumas funções com a equipe do Enjoei, por isso foi preciso diminuir o quadro de 270 funcionários da Elo7.
A ideia é de que o custo de tecnologia caia significativamente com os sistemas das duas operações sendo tocados em conjunto.
Um dos principais valores a serem capturados está na política de fretes da Elo7, que ainda está defasada, com modelos mais estanques que acabam se refletindo em maiores despesas e gerando menos atratividade na venda.
Esta é uma linha na qual a Enjoei conseguiu dar saltos importantes de eficiência e onde Lima diz haver grande capacidade de melhoria.
De abril a junho, o custo do serviço prestado totalizou R$ 19,8 milhões, o que representa uma redução de 18% ante o mesmo período do ano anterior. Somente a linha do frete e logística caiu 5,1 pontos percentuais no trimestre, com cada vez menor dependência dos Correios e mais parcerias com parceiros privados.
Uma das empresas que chegou ao mercado na safra do fim de 2020, marcada por juros baixos, liquidez abundante e euforia com histórias de tecnologia e crescimento, a Enjoei viu seu valor de mercado cair mais de 80% desde o IPO.
Agora num cenário de mais ceticismo, a plataforma que começou como um brechó online vem tentando mostrar que consegue entregar rentabilidade – mesmo num momento mais adverso para o varejo.
No segundo trimestre, o GMV (as vendas brutas) da plataforma recuou 12,6%, frente a um ano antes, para R$ 262 milhões. Mas, com ajustes na política de comissões, a receita líquida da empresa cresceu 7%, para R$ 40 milhões, enquanto o lucro bruto avançou 53% e a margem bruta ficou 15,2 pontos percentuais maior, a 50,6%.
Com o Elo7, Lima quer repetir o playbook. Segundo ele, o foco é melhorar a rentabilidade, com avanço do take rate (taxas e comissões cobradas no marketplace) e outros serviços oferecidos aos vendedores.
“Vamos reequilibrar os modelos comerciais. Ter diluição de custo por receita e aumento de receita por item transacionado. Quando isso estiver equalizado, vamos para o crescimento de GMV”, diz.
De acordo com o CEO, “a marca está subinvestida”, mas que nenhum recurso de Enjoei vai ser colocado em marketing para o Elo7. “Esse dinheiro vai vir do próprio Elo7 e do ganho de escala.”
Fonte: Exame