Para a China, o crescimento acelerado nos últimos 40 anos é uma volta a uma posição da qual eles nunca deveriam ter saído
Do ponto de vista chinês, o crescimento cerca de duas vezes acima da média mundial nas últimas décadas representa um retorno ao seu lugar de direito, como grande potência mundial. Com 1,4 bilhão de pessoas e 56 grupos étnicos, o país é um mergulho em uma cultura muito diferente e uma História milenar. Sem entender sua História e sua filosofia, é impossível entender o país.
O Seminário Digital “China pós Covid-19: o papel da Inovação e Ecossistemas”, promovido pela BTR-Varese, mostrou que a visão que a China tem sobre o mundo é muito diferente da visão ocidental. E, para conhecê-la, é preciso voltar a Confúcio, no século VI a.C.
O filósofo defendia uma moralidade pessoal e governamental: para ele, o ser humano se encontrava perdido, mas sabia qual era o caminho para o paraíso. Esse caminho tinha relação com cuidar do bem de todos, e o Estado deveria ser construído a partir da unidade do povo. “É por isso que a população e a proteção dos interesses do povo era um aspecto importante para os imperadores”, analisa Liang Yu, diretor de educação executiva e programas internacionais da Universidade Duke Kunshan. “Para o chinês, o conceito de comunidade é mais importante que a valorização individual”, acrescenta. Exatamente o oposto do Iluminismo ocidental.
Outro aspecto importante para entender a China é o chamado Século da Humilhação. Em 1840, o PIB chinês era sete vezes maior que o da Grã-Bretanha, mas a isso se seguiu um período ruim em sua história. “Entre 1840 e 1949, a China passou por um período muito difícil, em que perdeu a mão dos avanços tecnológicos e foi superada pela Europa da Revolução Industrial. Isso levou às Guerras do Ópio, à colonização inglesa em Hong Kong e ao domínio japonês nos anos 20 e 30. Foi um processo muito duro, que a China não havia experimentado em milênios”, explica Yu.
O Século da Humilhação, que terminou com a independência nos anos 40 liderada por Mao Tsé-Tung, deixou uma grande marca na sociedade e um desejo de resgatar o lugar da China na História. O modelo político adotado, baseado no socialismo soviético, gerou grande fome e pobreza.
Uma virada aconteceria em 1990, com Deng Xiaoping. O conceito foi muito pragmático, buscando trazer uma nova forma de organização econômica. “A possibilidade de desenvolvimento de negócios privados, a partir de uma orquestração estatal, tem muito a ver com a filosofia de Confúcio, de um Estado que cuida do povo”, afirma Yu.
Uma frase de Deng Xiaoping ilustra bem o pragmatismo chinês: “não importa se o gato é preto ou branco, desde que ele cace ratos”. “O pensamento do governo é melhorar continuamente a qualidade de vida da população, não importa de que maneira. Em um país do tamanho da China, isso se traduz em aumento da riqueza, concentração de poder e um regime de autoridade forte”, explica.
É um jeito diferente de ver o mundo e se relacionar com os cidadãos, mas tem funcionado. Nos últimos 40 anos, o crescimento chinês vem sendo consistentemente o dobro do registrado no mundo. “O governo continua sendo muito popular e tem promovido reformas constantes e graduais, levando a China para a vanguarda tecnológica e para a liderança econômica”, afirma Yu. Um lugar do qual, da perspectiva chinesa, eles nunca deveriam ter saído.
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Fonte: BTR-Varese