Em tempos de crise econômica e sucessivas quedas no varejo, a moda divide-se em dois extremos: de um lado, o criador autoral, dos pequenos ateliês, das roupas elaboradas feitas para durar, com preços altos e voltadas ao mercado de luxo. Do outro, a moda rápida, fácil, acessível. Quase não há espaço para a coluna do meio.
Nesta temporada, grandes marcas que se espalham por shoppings do País, por exemplo, não desfilaram – saíram de cena Colcci, Animale, Cavalera, entre outras. E a Osklen, famosa por sua roupa casual sofisticada, participou do evento apenas com uma apresentação da nova coleção, sem modelos, na loja da Vila Madalena. No segundo dia de desfiles da São Paulo Fashion Week, esse jogo de opostos ficou evidente. O evento começou na casa da estilista Paula Raia, uma mansão no Jardim Europa, e acabou no desfile de Karl Lagerfeld para a Riachuelo, no prédio da Bienal, marcado para as 21h.
“Antes, a moda era elitista e excluía, hoje existe um movimento de inclusão”, diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo. “Com parcerias com nomes como Lagerfeld consigo atender o cliente de A a Z, do topo à base da pirâmide. Isso quebra o paradigma da segmentação de público para o produto.” Estrelado pela top Isabeli Fontana, a coleção apresenta peças inspiradas no próprio guarda-roupa de Lagerfeld. Há blazers pretos, camisas brancas, calças de couro e bolsas divertidas. As camisetas trazem estampas com o rosto de Karl, que é diretor criativo da Chanel e ícone entre fashionistas. Com preços entre R$ 49,90 e R$ 349,90, a linha tem 75 peças e deve chegar hoje a 140 lojas da rede.
Nesta edição, assim como a Riachuelo, novos nomes apostam na visibilidade da SPFW. Entre eles, a marca carioca A. Brand, que estreou com uma coleção inspirada no Havaí. Na passarela, estampas bem coloridas com hibiscos e paisagens típicas da ilha surgiram ao som de Elvis Presley em clima hula hula. A grife integra o grupo Soma, dono também das marcas Farm, Vitorino Campos e Animale, entre outras. Uma das presenças mais tradicionais da semana, a Animale ficou de fora desta edição para se adequar ao movimento do “veja agora, compre agora”, segundo o presidente do grupo, Roberto Jatahy. “Continuamos crescendo e expandindo com um pouco mais de cautela. Não saímos como camicases abrindo uma porção de lojas, mas temos a crença de que o Brasil não vai quebrar”, diz Jatahy. “Assim que tivermos uma definição política, vamos com tudo.”
Na contramão da movimentação da moda comercial, a estilista Paula Raia está puxando a fila entre os designers brasileiros que acreditam em um modelo de vendas menor e artesanal. Ela é a grande defensora do slow fashion por aqui. Por isso, levou meses para preparar a coleção baseada em vestidos claros, feitos em camadas e boa parte deles a partir do modelo de camisas. O tema era justamente o tempo – as peças tinham cores desbotadas e envelhecidas, cordas de algodão com pontas desatadas e estampas craqueladas, como se tivessem sofrido a ação dos anos. Sofisticada e com referências orientais, a moda praia de Adriana Degreas também segue uma linha mais “couture”. Em meio à crise, do slow ao fast fashion, as marcas têm buscado um discurso otimista. Conhecida por suas roupas festivas, Patrícia Bonaldi mostrou peças cheias de brasilidade, com cores e desenhos tropicais. Algumas traziam uma bandeirinha do Brasil bordada. “Achei importante passar uma mensagem de positividade”, afirma ela.