A dona das marcas Farm, Animale e Nati Vozza disse que sua receita pro forma (que incorpora os números da Hering) cresceu 56% para R$ 1,1 bilhão
Por Geraldo Samor e Pedro Arbex
Todas as marcas do Grupo Soma cresceram no primeiro trimestre, com a holding de moda ganhando share e surfando a retomada da vida normal depois que a pandemia represou datas como casamentos, formaturas e eventos.
A dona das marcas Farm, Animale e Nati Vozza disse que sua receita pro forma (que incorpora os números da Hering) cresceu 56% para R$ 1,1 bilhão, com o EBITDA quase triplicando e o lucro líquido crescendo 22%, para R$ 42,5 milhões.
O CEO Roberto Jatahy disse ao Brazil Journal que pelo menos metade do crescimento do trimestre veio de ganho de share e que o consumidor está mostrando “sensibilidade zero” ao repasse de custos. “O consumo nunca esteve tão forte,” disse Jatahy.
O grande protagonista do trimestre foi o varejo físico, que mais que dobrou a receita na comparação pro forma anual – com as lojas físicas bombando e o ecommerce desacelerando o crescimento. O same-store sales da Soma (ex-Hering) cresceu 31%; o da Hering, quase 60% (e 31% acima do primeiro tri de 2019).
Mas a inflação generalizada se manifestou nos custos dos insumos, com o custo dos produtos vendidos aumentando 51,5% na Hering e 51,7% na Soma (ex-Hering).
A margem bruta da Hering – um ponto de atenção do mercado – continuou num patamar inferior ao de antes da pandemia, um comportamento que a Soma já havia antecipado.
A margem bruta de 39,3% ficou 0,7 ponto porcentual acima do mesmo período do ano passado, mas ainda abaixo da margem histórica da Hering (em torno de 43%) – num momento em que a Soma tenta transformar o viés industrial da Hering em uma lógica comercial que começa no consumidor.
Muito antes de sua aquisição pela Soma, a Hering já tinha uma questão de sincronização de cadeia, o que frequentemente levava a quebras de produtos.
A pandemia trouxe também uma desorganização na cadeia produtiva: com visibilidade zero sobre o rumo da economia, a Hering decidiu proteger seu caixa, o que deixou muitos fornecedores sem financiamento e sem pedidos.
Com isso, o mix de sourcing da empresa, que historicamente produzia 83% das vendas dentro de casa e comprava 17% de terceiros. Hoje, 23% dos produtos da Hering são outsourced, e a companhia espera que este número ainda chegue a 28% no curto prazo.
A dinâmica da margem bruta da Hering tem a ver com essa mudança na estratégia de sourcing: em vez de reduzir o ritmo de crescimento da marca, a Soma resolveu absorver os custos mais altos do outsourcing, entregando margem.
“Nossa lógica é a seguinte: é melhor vender R$ 100 com margem de 50% ou R$ 200 com margem de 40%? A resposta nos parece óbvia,” disse o CEO.
“Agora, isso é uma ineficiência pontual — se eu repasso isso para o preço, eu estaria mudando a percepção de price point da Hering, e se o consumidor um dia falar, ‘a Hering ficou cara’, o tempo e o dinheiro que vamos ter que gastar para mudar essa percepção vai ser maior do que a perda temporal que a gente está tendo pela mudança da matriz de sourcing.”
O ritmo de recuperação da margem vai depender do ritmo de crescimento da marca.
“Se a Hering continuar crescendo no ritmo de hoje, isso pode demorar mais, mas em algum momento isso vai convergir,” disse Jatahy. “Se pararmos de crescer a Hering nesse ritmo, por exemplo, em 10 meses isso já estará resolvido.”
Apesar do trimestre melhor que o esperado, Jatahy disse que a visibilidade para o médio prazo nunca foi tão baixa, dado o ambiente macro marcado pelo aumento dos juros e a inflação.
O CEO disse que o setor está preocupado com a forte pressão de custo, apesar do mercado estar absorvendo bem os repasses.
“A cadeia de fornecimento está pressionada. A indústria no Brasil não está preparada para atender esse nível de demanda. Aqui no Soma, temos bases e pulmões de matéria-prima, mas há uma série de insumos importados da China. O setor pode ter uma crise ou um atraso das coleções na indústria como um todo. Isso é um ponto que a gente está observando de perto.”
Uma desaceleração abrupta do mercado pode causar problemas de caixa e nível de estoque no varejo.
“Estou há 30 anos nesse setor e nunca tive tanta dificuldade de prever a demanda de um trimestre, ou mesmo de como orçar 2023,” disse ele. A Soma começa a comprar os insumos para o próximo ano em julho.
Por enquanto, a Soma não “vê nenhum sinal de desaceleração do consumo.”
No showroom de abril — um proxy das vendas do terceiro trimestre — a Soma vendeu 50% a mais que no ano passado, disse Jatahy.
Agora, o próximo teste é o showroom da coleção de Alto Verão, em junho, que garante boa parte das vendas do quarto tri.
Fonte: Brazil Journal