No primeiro trimestre deste ano, a maioria das grades marcas perdeu receita e lucro, mas manteve ou aumentou seus pontos de venda.
O ano começou em baixa para as grandes redes varejistas brasileiras, que viram suas receitas e lucros continuarem em queda livre no primeiro trimestre deste ano, fruto da mais violenta desaceleração do segmento desde o início dos anos 2000.
Como o desempenho do setor está diretamente ligado à performance da economia, as companhias foram forçadas a cortar custos e melhorar a produtividade para suportar os resultados negativos e esperar a recessão acabar. A incógnita que ronda o mercado é se a crise passará para todas.
O varejo restrito, que exclui automóveis e materiais de construção, teve queda de 4,3% nas vendas no ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado de janeiro a março deste ano, o índice recuou 7%, o pior resultado desde o início da série histórica, em 2001.
A rápida e violenta queda no consumo fez com que grandes nomes do mercado perdessem ainda mais receita no início deste ano, cenário que vem sendo observado desde o segundo semestre de 2014. A queda mais acentuada foi da Via Varejo, dona da Casas Bahia e Ponto Frio, que viu sua receita diminuir 12,7% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Já em relação ao lucro, a grande maioria das redes viu seu dinheiro diminuir. A Lojas Americanas teve prejuízo de R$ 23,9 milhões no primeiro trimestre, revertendo resultado positivo de R$ 22 milhões no período anterior. Também se destaca negativamente a Marisa, que atingiu prejuízo de R$ 17 milhões, valor três vezes maior do que o rombo registrado de janeiro a março de 2015.
Estratégias
Para enfrentar o momento de crise, as varejistas estão cortando custos e fechando lojas ineficientes ao mesmo tempo em que tentam ganhar mercado expandindo para o exterior ou abrindo unidades em pontos estratégicos nacionalmente, como cidades menores e em shoppings.
De acordo com Ana Paula Tozzi, CEO da GS&AGR, consultoria especializada em varejo, a gestão sempre foi um problema para o comércio. “O varejo se profissionalizou há 10, 15 anos. A única empresa que tinha programa de trainee era a C&A, que é uma multinacional. As outras enfrentavam dificuldade para contratar executivos, que preferiam ir para outras áreas.”
A conta pela demora em profissionalizar a gestão dos negócios chegou junto com a crise econômica. As redes correm contra o tempo para reduzir quadro de funcionários, otimizar custos e funções e investir em logística e tecnologia para diminuir as despesas e aumentar a eficiência.
A Lojas Americanas, por exemplo, investiu R$ 128,4 milhões somente no primeiro trimestre de 2016 para reforma das lojas e atualização tecnológica. A Via Varejo vai acelerar a implementação das revitalizações de telefonia e móveis para melhorar a experiência de compra dos clientes e continuará a cortar custos no departamento de venda e área administrativa.
Outra tática comum entre as empresas é o fechamento de lojas com desempenho fraco e abertura de novas unidades em pontos estratégicos, uma tentativa de ocupar território para quando a crise passar. A Renner vai internacionalizar a marca indo para o Uruguai em 2017 e também expandindo nacionalmente para cidades com até 150 mil habitantes. Já a Lojas Americanas prevê a abertura de dois novos centros de distribuição e 800 novas lojas no Brasil, entre 2015 e 2019, sendo 140 somente neste ano.
A crise já levou, pelo menos, nove grandes redes varejistas à recuperação judicial. Nomes nacionais importantes no mercado como Hering, Lojas Americanas, Máquina de Vendas, Marisa, Renner e Via Varejo não estão na lista, mas com o setor em queda e as receitas e os lucros diminuindo a cada balanço divulgado, o sinal de alerta foi ligado.
Na opinião da Ana Paula Tozzi, CEO da GS&AGR, consultoria especializada em varejo, as redes que trabalham com a linha dura (eletrodomésticos e eletrônicos) tendem a sofrer mais em 2016 e podem vir a pedir recuperação judicial ainda neste ano. “Acho que o eletrodoméstico e eletroeletrônico superestimaram essa farra do IPI, da ascensão da classe C. Nós já estávamos falando que essa bolha iria estourar faz tempo.”
A especialista destaca também que essas companhias sofrem mais com a queda do consumo, pois vendem itens que saem com menos frequência. Além disso, têm gastos elevados com estoque, mão de obra e seguro.
Já as companhias de vendem roupas devem sentir menos a crise, pois trabalham com ticket médio menor e já vinham cortando gastos e se reestruturando desde o ano passado, segundo especialistas. O banco Brasil Plural destacou em seus relatórios que redes como Marisa e Renner não sucumbiram à tentação de fazer promoções excessivas e focaram em reduzir estoques e outras despesas operacionais.