Por Adriana Mattos
A Americanas divulgou, em seu plano de recuperação judicial, as condições a serem negociadas com credores fornecedores tentando atrair para mais perto aqueles que lhe estenderem a mão. A questão daqui para frente é se haverá a adesão necessária dessa turma.
Para os credores fornecedores, há três opções na mesa. O fornecedor prioritário será aquele pequeno credor, com dívida de até R$ 12 mil, e aquele com dívidas superiores a essa cifra, mas que aceite R$ 12 mil em troca da quitação integral de seus créditos.
Já o credor colaborador será aquele que tem os maiores valores a receber; logo, são as grandes indústrias, mas que precisam manter as condições comerciais negociadas com a Americanas em 2022 para estarem nesse grupo. Essas condições comerciais são aspectos da negociação de compra e venda, como preços e quantidade compatíveis à comprada no ano passado pela empresa.
A terceira opção seria aquele credor que não está nos dois grupos anteriores. Nesse caso, ele fica com deságio de 50% na dívida a ser paga em 48 vezes.
Ou seja, é a pior condição porque ele opta por não ser colaborador da Americanas nessa hora, e a empresa está buscando apoio das companhias para superar a crise, e tentando oferecer condições melhores àqueles que forem parceiros dela. Isso é comum nos planos de recuperação de redes varejistas.
Diferenças entre os grupos
O fornecedor prioritário será pago em até 30 dias após a homologação do plano. Neste caso, a Americanas estima que existam 3 mil credores no grupo com R$ 15 milhões a R$ 20 milhões a receber.
Ele tem que aceitar a condição 30 dias após a apresentação do plano, ou seja, a partir de ontem, para ficar nesse grupo. Podem entrar nessa lista pequenos ou grandes fornecedores, mas com crédito baixo, como empresas de limpeza e segurança.
Já o fornecedor colaborador é aquele que deve incluir empresas como Samsung, Apple, o grupo Philco/Britânia e Nestlé, que são os grandes donos de dívidas entre as indústrias.
Na lista de credores da Americanas, entre as grandes indústrias, a Samsung é a maior credora, somando R$ 1,3 bilhão, mas o Valor apurou que a empresa tinha seguro de crédito elevado, contratado com seguradoras internacionais, que estaria acima de 70% de cobertura. A empresa não comenta.
Logo a seguir, vem a Philco/Britânia, de mesmo grupo brasileiro, com cerca de R$ 300 milhões em aberto — a empresa teria seguro na faixa de 30%, dizem fontes.
A Nestlé Brasil vem a seguir com R$ 259,37 milhões, quase o triplo da da Mondelez, pela maior gama de mercadorias vendidas para a Americanas. Bauducco e a Mondelez têm a receber R$ 96,52 milhões e R$ 93 milhões, respectivamente.
Para essas empresas, a proposta, como credor colaborador, é pagamento em parcela única, sem desconto qualquer, em até 360 dias da homologação do plano ou após a capitalização do trio — o que ocorrer primeiro. Ele também têm que aceitar as condições no prazo de até 30 dias após a apresentação do plano.
Quem aderir depois vai recebendo percentual menor da dívida (5% a menos por mês, ou seja, se aderir dois meses após a homologação, o deságio é de 10%). O teto de desconto para quem entrar depois é de 40%.
Além disso, o credor colaborador tem o dever de voltar a liberar linhas para compra de mercadorias com prazo de pagamento que vai sendo atualizado enquanto a Americanas vai pagando a dívida. Ou seja, se a rede paga R$ 100 milhões de uma dívida de R$ 1 bilhão num determinado mês, ela volta a ter linhas nesse valor pago e com mesmo prazo que tinha em 2022 com aquele credor.
A Americanas já vem em contato com esse credor maior para buscar uma adesão a esse grupo de potenciais parceiros da rede, pela necessidade de dar fôlego maior a seu volume de compras dessas grandes companhias. “A gente espera que eles nos apoiem, entendemos que esse é um mercado com poucos grandes canais de venda e somos peça importante para eles também”, disse Leonardo Coelho, CEO da Americanas.
O Valor apurou que a recuperação judicial da Americanas foi um baque especialmente para indústrias brasileiras que tinham seguro limitado em suas vendas, como a Britânia. Para essas companhias, que estão tendo que provisionar o rombo, ainda é difícil saber a reação às condições do plano.
No momento, ela vem renegociando boa parte das suas compras com essas empresas para pagamento à vista hoje, e para isso tem que utilizar parte de uma linha de financiamento de R$ 1 bilhão obtida semanas atrás dos seus sócios de referência _ Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
Já os credores trabalhistas e pequenas empresas (classes I e IV) estão em outro grupo de empresas. Eles devem ser os primeiros a receber seus créditos no plano de recuperação da empresa, com pagamento integral logo após a homologação do plano. Seus créditos somam R$ 240 milhões, sendo que R$ 120 milhões já foram pagos nas últimas semanas.
Fonte: Valor Econômico