Um dos casamentos mais bem-sucedidos do mercado é o firmado entre shoppings e as lojas ditas de fast fashion. Se um vai mal, o outro também, se um vai bem, os dois saem em lua de mel.
Em 2015, ano em que o varejo nacional retraiu 4,3%, essa união rendeu números positivos em meio à recessão, ainda que o lucro médio de todas as varejistas tenha caído em relação a 2014.
A Riachuelo, rede de fast fashion do Grupo Guararapes que tem como lema a “democratização do acesso à moda”, abriu 28 novas lojas no ano passado, 90% delas em centros comerciais. “E só não fomos melhor porque vários centros de compras ainda não saíram do papel por causa da crise”, explica o dono e CEO do grupo, Flávio Rocha.
A fórmula do empresário foi aliar o processo de verticalização da empresa -quase toda a produção da Riachuelo é feita nos centros de produção espalhados pelo país, o que permite agilidade na confecção e na distribuição de produtos- a um modelo de colaboração com marcas e estilistas renomados cujo objetivo é gerar burburinho.
O investimento agressivo nesse “toma lá, dá cá” gerou, só nos últimos dois anos, coleções da grife italiana Versace e do estilista alemão Karl Lagerfeld. Ainda que esse tipo de colaboração represente apenas 1% das vendas, “com potencial para chegar a 2%, no máximo”, segundo o Rocha, elas formam “um sistema ideal de troca de experiências”.
“Além do consumidor que não pode pagar por uma assinatura de grife poder ter uma peça do seu estilista preferido, as marcas ganham uma boa porcentagem sobre as vendas”, explica Rocha.
Um negócio que a concorrente Renner é contra e, entra ano sai ano, cresce sem a ajuda de nenhuma outra etiqueta fora do seu rol de marcas, majoritariamente consumidas por mulheres entre 18 e 39 anos.
“Acreditamos que é melhor investir em um time de estilistas que consiga traduzir o que é moda no Brasil e no mundo”, explica o diretor de lojas da rede, Fábio Faccio. “Trazer coisas novas é importante, mas não podemos perder o foco.”
Foi para não perder o foco que o grupo Renner abriu a Youcom, rede de fast fashion focada essencialmente no público jovem. Criada em 2013, a nova marca tem 52 lojas espalhadas por shoppings brasileiros (e deve ficar neles, diz Faccio), com previsão de ter outros sete pontos neste semestre.
Segundo o executivo, os centros comerciais são a melhor escolha das varejistas porque oferecem o “atrativo do fluxo de pessoas dispostas a comprar e o fator segurança”. No ano passado, a rede nascida no Rio Grande do Sul conseguiu inaugurar 35 pontos de venda, sendo 30 deles dentro de empreendimentos comerciais.
Uma de suas concorrentes é a C&A. Líder no varejo de moda brasileiro até a Renner superá-la, no ano passado, a varejista holandesa pisou no freio durante a recessão. Deve fechar 12 lojas e segurou a ampliação do número de pontos de venda.
O que não parou, no entanto, foram as parcerias de sucesso com marcas brasileiras e patentes internacionais. Está programada para os próximos meses colaboração com a grife Dress To. Antes, o lançamento de uma linha da liga de basquete NBA, dos EUA.
O vice-presidente de operações da C&A Brasil, Elio França, explica que a rede, em todo o mundo, caminha para um novo momento da fast fashion: a sustentabilidade e a identidade própria.
“Haverá mais oferta de produtos ecologicamente corretos e, principalmente, uma nova proposta de consumo, na qual o consumidor escolhe na internet o molde da roupa e a gente entrega. Ninguém quer mais usar tudo igual aos outros”, afirma o executivo, sem detalhar projetos.
Pelo menos os preços, ele garante, continuarão cabendo na imaginação.
3 gigantes do varejo brasileiro
C&A
Lojas: 280 lojas
Faturamento: R$ 6,9 bilhões*
Produção: não divulgada
Funcionários: 17 mil
Riachuelo
Lojas: 289 (10, em média, abertas por ano)
Faturamento: R$ 6,5 bilhões*
Produção: 150 milhões de peças/ano
Funcionários: 40 mil
Renner
Lojas: 288 (entre 25 e 39 lojas abertas por ano) vai abrir sua primeira loja internacional, no Uruguai, no ano que vem
Faturamento: R$ 6,3 bilhões*
Produção: não divulgada
Funcionários: 18 mil