Por Rodrigo Loureiro
Em novembro de 2020, quando abriu capital na B3 e levantou R$ 1,1 bilhão em sua oferta inicial de ações, a Enjoei se tornou uma empresa de R$ 2 bilhões. Nos meses que se seguiram, com a explosão do e-commerce durante a pandemia, a startup atraiu a atenção do mercado e viu seu valor de mercado quase dobrar.
Mas, nos últimos dois anos, as ações da startup, uma espécie de brechó online, caíram mais de 95% e o valor de mercado soma R$ 184 milhões. A queda refletiu o olhar mais cauteloso do mercado para startups deficitárias e que não demonstravam claramente um plano para virar o jogo em meio ao aumenta das taxas de juros.
Nesta terça-feira, 14 de março, a companhia, fundada por Ana Luiza McLaren e Tiê Lima, tenta mais uma vez mostrar ao mercado que seu negócio está rumando em direção à recuperação.
A empresa divulgou seus resultados financeiros do quarto trimestre e do consolidado do ano com melhora em suas margens, ainda que com alguns pontos de atenção.
Se ainda não parece perto de um breakeven – o que a companhia ainda não coloca meta para ser atingido –, as perdas ao menos vem diminuindo. O prejuízo do quarto trimestre foi de R$ 7,1 milhões contra R$ 33,7 milhões no mesmo trimestre de 2021. A receita líquida aumentou 15,8% no período e somou R$ 34,2 milhões.
No consolidado do ano, as perdas somaram R$ 66,5 milhões, queda de 48% ante o exercício de 2021. Já a receita líquida do período de 12 meses foi de R$ 138,9 milhões, alta de 30,9% em relação ao ano retrasado.
“Esse resultado mostra uma fotografia completa do que a gente se propôs a fazer de evolução nas margens”, diz Tiê Lima, em entrevista ao NeoFeed. “Tanto o consolidado anual como os resultados do trimestre já dão uma diretriz do que a gente imagina para 2023.”
Sem dívidas, o Enjoei tinha R$ 309,1 milhões em caixa e outros R$ 20,8 milhões em contas a receber no fim de dezembro. O montante somado é R$ 14,2 milhões menor do que o registrado no terceiro trimestre. Já no período de 12 meses, a companhia queimou R$ 73,4 milhões de caixa.
A Enjoei perdeu 45 mil vendedores da plataforma no último trimestre. Agora, soma pouco mais de 1 milhão de usuários que ofertam seus produtos na plataforma. Já o número de compradores aumentou em quase 30 mil no mesmo período para 1,17 milhão de usuários.
Para Tiê, o rate entre vendedores e compradores está saudável e a queda no número de sellers da plataforma está em linha com o planejamento. “Controlamos o ciclo de acordo com a conjuntura”, diz o CEO do Enjoei. “Aumentamos o número de compradores e reduzimos o investimento em marketing para novos vendedores.”
A expectativa para um aumento considerável na base de vendedores é de que isso ocorra somente daqui alguns meses. Nos próximos resultados, este indicador deve permanecer “estável”, segundo Tiê. Já no segundo semestre, com uma retomada de investimentos em marketing e em incentivos, poderá haver crescimento.
Novos negócios
Para ganhar dinheiro, a Enjoei retém uma comissão de 18% no valor da venda, além de uma tarifa fixa que varia entre R$ 3,50 até R$ 50,00, de acordo com o valor do produto.
Com o lançamento de uma nova versão do aplicativo, que está previsto para ser feito ainda neste ano – mas sem uma data definida –, a Enjoei vai colocar em prática um novo modelo de negócio em que vai explorar também receitas com publicidade de marcas dentro da plataforma.
A expectativa é de que essa nova frente, aliada com as receitas de serviços financeiros do Enjubank – a frente do negócio em que o usuário troca créditos obtidos com as vendas de seus produtos por descontos em compras em lojas como Farm e OQVestir –,represente uma fatia de 10% da receita da companhia ao longo do próximo ano.
“Com uma margem de contribuição na casa de 90%, isso vai me dar uma alavancagem de margem absurda”, diz Tiê. Questionado sobre quanto esse esforço representou no quarto trimestre, o executivo foi direto: “nada”.
Em outra iniciativa, a Enjoei está desenvolvendo e ainda sem previsão de lançamento um modelo semelhante ao do Mercado Livre. Neste, a startup entende que pode ganhar dinheiro ao permitir que os vendedores possam posicionar melhor os seus anúncios nas buscas e oferecer condições facilitadas de pagamento.
Fonte: Neofeed