É inegável que as roupas descartáveis estejam fora de moda. E isso, consequentemente, impacte no sucesso de lojas de fast fashion
Por Gustavo Frank
Há oito anos, a Forever 21 chegava ao Brasil como uma promessa para quem buscava roupas com preços mais acessíveis e modelagens modernas. Ocupando dois andares no Morumbi Shopping, na Zona Sul de São Paulo, em sua loja inaugural a rede de fast fashion da Califórnia, nos Estados Unidos, ganhou favoritismo e proporcionava aos seus consumidores até mesmo certo nível de status.
Não estava comprando apenas numa varejista, mas na Forever 21: uma etiqueta gringa, jovem e que, diferente de outras sediadas aqui no Brasil, trazia as tendências do hemisfério norte — algo parecido com o que vemos com a Zara hoje em dia, ou quando um parente viaja para a Europa e traz peças da H&M como presente.
O frenesi era tanto que existia inclusive uma página no Twitter intitulada @filadaforever21, em que usuários compartilhavam fotos das filas enormes que se formavam em frente aos caixas da loja.
No entanto, nada dura para sempre. Nem mesmo uma marca que propõe isso em seu nome. De acordo com informações do jornal Estado de S. Paulo, a rede de fast fashion encerrará suas operações no Brasil. Procurados por Nossa em diversos canais, a Forever 21 não respondeu aos pedidos de esclarecimento sobre a notícia.
Já em troca de mensagens por meio de uma rede social, um dos sócios da empresa no Brasil não confirmou, ou negou, o encerramento: “Informo que saí da empresa em setembro de 2017 e não me sinto à vontade, por questões éticas, de me expressar a respeito”.
A notícia sobre o encerramento ganhou impulso depois que diversas filiais no Brasil compartilharam em seus perfis no Instagram uma “superliquidação” de 50% das peças, sem a possibilidade de troca. Em visita feita por Nossa em uma das lojas na capital paulistana, diversas roupas estavam na promoção, embora outras peças estivessem sendo vendidas com o valor original.
No Twitter, a loja do Recife, em Pernambuco, ilustra diversas publicações com o local praticamente vazio: tanto de araras, quanto de consumidores.
O possível fim da Forever 21 não é exatamente uma novidade. Antes intitulada Fashion 21, a marca foi criada por Do Won Chang e sua esposa, Jin Sook, em Los Angeles, pouco depois de imigrarem da Coreia do Sul para os Estados Unidos. Assim que criada na década de 1980, o sucesso foi súbito com camisetas vendidas a 5 dólares e vestidos a 10 dólares.
Em 2019, quase 30 anos estabelecida no mercado, a fast fashion passou a encarar problemas financeiros internacionalmente, como reportado pelo “Washington Post” e pelo “The New York Times”. Além das polêmicas — envolvendo acusações de plágio da Gucci, processos por uso ilegal de imagem da cantora Ariana Grande e peças consideradas racistas e de apoio ao nazismo —, um dos motivos pelo grande desinteresse em relação a Forever 21 é o que o mundo da moda não é mais o mesmo de três décadas atrás.
Ao mirar no público jovem, não só a marca californiana como as demais fast fashions encaram um impasse: fazer moda sustentável, ao mesmo tempo em que produzem roupas com velocidade desenfreada.
“Eu acredito que a Geração Z é bem mais consciente do que as gerações anteriores, pelas informações que eles têm e nós não tivemos”, opina a consultora de moda sustentável Giovanna Nader em entrevista para Nossa. “Há também a questão da urgência pela questões climáticas, pois são eles quem serão impactados por isso”.
As gerações mais jovens têm uma busca por propósito muito maior do que a nossa”
Com isso dito, é inegável que as roupas descartáveis estejam fora de moda. E isso, consequentemente, impacte no sucesso de lojas de fast fashion, tal qual a Forever 21. Atualmente, não é tão lisonjeiro dizer que usa roupas dessas cadeias de produção. No entanto, como apontado por Nader, esse pensamento ainda faz parte de uma bolha.
“Queria deixar claro que ainda vejo essa consciência dentro de uma bolha. Ela ainda é muito nichada para quem tem poder de escolha e privilégio da informação”, ressalta Giovanna. “É um assunto muito mais profundo do que dizer: comprem ou não comprem”;
Não tem como falar para as pessoas não comprarem na fast fashion, principalmente no Brasil, onde essa acaba sendo uma das únicas maneiras da pessoa ‘estar na moda’. Se sentir parte de uma coisa.”
A consultora de moda aponta ainda que a sustentabilidade se tornou um pilar essencial para continuar a ser relevante na moda. A Forever 21, a exemplo disso, traz em sua página oficial um link disponibilizado exclusivamente para destacar suas iniciativas: desde sacolas 100% recicláveis e reutilizáveis e o “desenvolvimento de coleções de roupas usando materiais ecologicamente corretos”.
“Falta muito para as grandes cadeias de magazine chegarem lá. Ainda que elas tentem, estão muito longe do ideal”, complementa Giovanna, citando ainda que outras redes, como as brasileiras Renner e Riachuelo e a holandesa C&A, estejam se empenhando nesse quesito, que se tornou uma demanda praticamente obrigatória para “continuar no páreo”.
A concorrência
Outro ponto importante a se destacar acerca do declínio da Forever 21 são suas competidoras no mundo da moda. Ironicamente, aqui destacamos o sucesso avassalador da Shein — marca chinesa com roupas baratas que vestem quase de forma onipresente os influenciadores nas redes sociais e recentemente desenvolveu inclusive uma collab com Anitta.
Uso o “ironicamente” em consequência da dualidade do triunfo da etiqueta da China. Voltada para o universo digital, alavancado recentemente pela pandemia, a Shein tem desbancado as grandes redes e ganhado a atenção entre a Geração Z — em contradição à constante caça pela sustentabilidade.
Para esclarecimento, enquanto as redes de fast fashion, como a Forever 21, conseguem desenvolver uma coleção em 14 dias, a Shein produz o mesmo em 7 dias. Não bastante, as roupas da marca chinesa são comercializadas pela metade do preço do que as peças da marca californiana.
“Preciso confessar que estou assustada com o fenômeno da Shein. É uma ultra fast fashion, tem o poder de rapidez que é o dobro da fast fashion“, opina Giovanna Nader.
“Vejo muito no Twitter, influenciadores da Geração Z mostrando os recebidos da Shein por 200 dólares, por exemplo. Eles abrem os envelopes e caem aquele tanto de roupa”, completa a consultora.
No TikTok, não surpreendentemente, a hashtag #Shein soma mais de 30 bilhões de visualizações com vídeos de unpacking, entre outros.
A defesa um tanto quanto contraditória da Geração Z sobre a Shein é justamente esse ponto: a diversidade. O site, além de possuir um setor exclusivo para a moda plus size, disponibiliza roupas que chegam ao tamanho 4XL — quatro vezes extra largo.
“Eu entendo esse ponto, porque a gente fala de moda sustentável dentro de um padrão: de quem tem acesso e um corpo que caiba nessas peças que abrangem esse quesito”, conclui Giovanna Nader.
O possível fim da Forever 21 é o retrato de um desafio, ainda sem soluções muito práticas, acerca do consumo desenfreado na moda.
A exclusividade que a marca tinha quando chegou ao Brasil, em 2014, já não existe mais. Os preços baixos são derrubados pelas ultra fast fashions. A qualidade não muito aprimorada das confecções trocadas por garimpos de brechós.
Ao que tudo indica, a Forever 21 não encontrou a solução para manter no nosso país a chave para combinar a relevância com as expectativas das novas gerações.
Fonte: UOL