Por Ana Luiza Tieghi | No terceiro trimestre, a participação de empresas de comércio virtual na ocupação de condomínios logísticos no Estado de São Paulo ultrapassou a das companhias tradicionais de varejo pela primeira vez, aponta a consultoria imobiliária Newmark.
Há um ano, 51% da área dos condomínios logísticos era ocupada por empresas do varejo tradicional, como Magazine Luiza, Leroy Merlin e Riachuelo, enquanto o e-commerce, liderado pelo Mercado Livre, tinha 40%. Neste terceiro trimestre, a proporção mudou: as empresas de comércio virtual passaram a ocupar 52% da área e o varejo tradicional encolheu para 40%.
Mariana Hanania, diretora de pesquisa e inteligência de mercado da Newmark, afirma que o restante é ocupado principalmente por companhias de atacado e de importação e exportação.
A diretora explica que os dez maiores varejistas perderam 20% da área ocupada nos condomínios paulistas desde o auge da pandemia. Houve retração de 1,75 milhão de m2 ocupados para 1,44 milhão, enquanto as companhias de comércio virtual elevaram sua participação de 1,4 milhão de m2 para 1,87 milhão.
Há duas razões para essa mudança, afirma Hanania. Primeiro, há uma crise no varejo tradicional, piorada pela fraude na Americanas. “O varejo vinha sofrendo desde a pandemia com o fechamento de lojas, o boom do e-commerce foi um desafio que agora está se concretizando, com quebradeira de balanços”.
Segundo, houve a entrada com mais força de companhias asiáticas de comércio eletrônico, com destaque para Shein e Shopee. A Shein já é a segunda maior ocupante de área no Estado, com 215 mil metros quadrados, atrás do Mercado Livre, que ocupa 932 mil metros quadrados.
O movimento que ocorreu em São Paulo também acontece no Brasil como um todo, destaca Hanania. O Estado tem mais da metade do estoque nacional de condomínios logísticos.
A parcela de galpões desocupados no Brasil ficou em 9% no terceiro trimestre e em 10% em São Paulo, segundo a consultoria. Hanania prevê que essa taxa possa crescer para até 11% ao fim do ano, se as entregas previstas de novos espaços efetivamente ocorrerem até dezembro. Para o ano, eram esperados 1,38 milhão de novos metros quadrados de condomínios logísticos em todo o país, sendo 860 mil metros quadrados apenas em São Paulo.
O ritmo de entregas pode se reduzir em 2024. Até o momento são esperados apenas 605 mil metros quadrados de novo estoque. “Vemos uma pequena desacelerada na atividade construtiva”, diz Hanania, que já começou neste ano. Desde 2003, a média de entregas anuais é de 1,65 milhão de metros, já inferior ao projeto para este ano – entre 2020 e 2022, havia subido para 2,5 milhões de m2.
Como a ocupação tem acompanhado o ritmo das entregas, ela afirma que há chance de faltar áreas, se o e-commerce continuar crescendo como está hoje, mas a produção de novo estoque de galpões é relativamente rápida: entre a aprovação do projeto e a finalização de obra, são necessários apenas dois anos, em média, quantidade inferior ao padrão de cinco anos para o segmento residencial, por exemplo.
Fonte: Valor Econômico