Para driblar a queda nas vendas no período recessivo, o varejo entendeu que era preciso otimizar recursos. As empresas mudaram processos e estruturas de negócios para fazer mais com menos. Essa adaptação foi identificada por um recente estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), que coletou dados sobre o comportamento das 300 maiores redes do Brasil durante a crise, nos anos de 2015 e 2016. A estratégia deu certo. O comércio varejista voltou a crescer no ano passado, com alta de 2%. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços (CNC), que monitora o setor, o desempenho melhorou este ano. No Rio, porém, esse esforço de adaptação desafia varejistas.
— O Rio é altamente promocional, e os consumidores são pouco fiéis. Eles voltam para casa com sacolas de várias marcas. Compram uma coisa aqui, outra ali. Isso é saudável porque, na recessão, estimulou a competitividade, e as promoções proliferaram. Assim, o varejo e a indústria conseguiram manter sua rentabilidade, e o consumidor, sua cesta de compras — avalia Marco Quintarelli, consultor e especialista em varejo.
Fabio Bentes, economista-chefe da CNC, observa que, em tempos de bolso apertado, as pessoas concentram gastos em bens essenciais, como as compras de supermercado. Este segmento, o mais importante para o varejo, responsável por cerca de 30% das vendas do setor, começou a se recuperar no fim do ano passado. Mas, segundo Bentes, no país, os três pilares do consumo — mercado de trabalho, preços e crédito — já estão mais favoráveis às compras.
Giovanna Fischer, diretora de Marketing da Kantar Worldpanel, consultoria especializada em consumo, confirma que tanto o volume quanto o valor em vendas já voltaram a crescer.
— Fazer escolhas foi a saída para o consumidor no período mais duro da recessão. Ele acabou priorizando o custo-benefício. Não optou simplesmente pelo mais barato. Nossas pesquisas perceberam que, para não abrir mão de marcas líderes, e por vezes com preços mais altos, o consumidor ficou atento às promoções, como o “leve mais e pague menos”. E ficar atento a descontos é algo que se tornou um hábito para além da recessão — analisa Giovanna.
Eduardo Terra, presidente da SBVC, diz que ações como busca contínua por eficiência e melhoria dos processos, implementadas pelas empresas ouvidas pelo estudo, criaram marcas mais fortes— O varejo brasileiro não parou, apesar da crise econômica — disse Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e vice-presidente e conselheiro da SBVC.
As previsões para o próximo ano são mais otimistas. Bentes, da CNC, destaca que as perspectivas de maior crescimento da economia e as sinalizações de compromisso com o ajuste fiscal feitas pelo governo eleito podem ajudar a destravar investimentos importantes e a gerar empregos.
Quintarelli também vislumbra um cenário nacional mais positivo:
— Os varejistas já sinalizam que vão investir mais, e o consumidor está reestruturando suas finanças.
Fonte: O Globo