A participação das compras via dispositivos móveis no comércio eletrônico brasileiro teve mais um ano de grande expansão em 2017, com o volume de pedidos atingindo 27,3% do total comercializado ante 21,5% no ano anterior, de acordo com a Ebit.
Adiantado ao DCI, o dado faz parte do balanço do setor em 2017, cuja divulgação ocorrerá na semana que vem . “Em 2018 nossa expectativa é que [a participação] chegue perto dos 40%”, afirmou o diretor-executivo da Ebit, André Dias, antevendo 37% ou 38% de share para o mobile no fim do ano. Em 2013, o percentual era de 4,4%.
“Em janeiro deste ano, ele já foi 31%”, revelou o dirigente, indicando a velocidade do avanço das transações do gênero.
Movimento semelhante foi identificado em balanço anual realizado pela Nuvem Shop, que hospeda mais de 18 mil lojas virtuais: em 2017, 45% das cerca de 823 mil compras na plataforma ocorreram via celulares, ante 30% em 2016. “Em janeiro deste ano, 51% já foi mobile”, afirmou o co-fundador e diretor de atendimento ao cliente da empresa, Alejandro Vázquez.
“Em alguns setores ou em players individuais, essa participação pode ser ainda maior”, observou André Dias, citando a operação online de grandes redes varejistas como referência.
No caso da venda online de ingressos para cinema, por exemplo, o protagonismo do mobile nas compras já é realidade: cerca de 70% das transações na vertical ocorrem via celulares, conforme informado ao DCI pelos dois maiores players do segmento no ano passado.
Com outros setores seguindo o mesmo caminho, a tendência é que o Brasil se aproxime dos Estados Unidos, onde o percentual do mobile dentro do e-commerce já ronda os 40%. “O único país que bate os 60% é a China”, cita Dias.
Vale lembrar que o país asiático tinha cerca de 1,3 bilhão de linhas móveis ativas (dados de março passado), contra 417 milhões no mercado norte-americano ao fim do terceiro trimestre de 2017. O Brasil fechou o último ano com 236 milhões de linhas celulares ativas. Destas, 102,2 milhões já eram 4G e outras 83,6 milhões, 3G.
Ainda que a expansão da internet móvel e dos smartphones beneficie o chamado mobile commerce (ou apenas m-commerce), um sentimento de insegurança considerado como algo “cultural” ainda gera descolamento entre o tíquete médio móvel e o geral.
A diferença ficou evidente durante a edição de 2017 da Black Friday, quando o tíquete médio percebido pela Ebit no Brasil somou R$ 562, contra R$ 515 nas vendas fechadas através de dispositivos móveis (ainda que a entidade destaque a diminuição da distância entre ambos).
Na Nuvem Shop, o mesmo movimento foi verificado: o tíquete médio de vendas nos dispositivos móveis fechou o ano em R$ 200,19, contra R$ 258,27 quando considerados todos os pedidos feitos na plataforma.
O descolamento entre o número de visitas e de compras finalizadas também chama a atenção: na Nuvem Shop os celulares somam 69% dos acessos, ou números bem maiores que os 45% de vendas realizadas. No mercado como um todo, o maior volume de visistas oriundas de smartphones e celulares já se tornou regra, afirmou Dias.
“O consumidor pesquisa no celular, mas na hora de efetivar a compra muitos migram para o desktop, sobretudo quando se trata de um produto com tíquete médio maior”, afirma ele.
Já Vázquez lembra que uma experiência fraca de navegação afeta a conversão no ambiente móvel. “A velocidade no carregamento das páginas pode gerar um grande impacto negativo. Se o cliente pôs os dados do cartão e a compra não finaliza, ele se preocupa”.
Na práticaPara empresários do comércio, a incursão no m-commerce passa pela dúvida entre investir em um aplicativo próprio ou apostar em um ambiente responsivo dentro de navagadores web de dispositivos móveis.
“O aplicativo funciona melhor em categorias com maior recorrência”, sugere Dias, citando verticais como a venda de produtos alimentícios.
Quem percebeu tal vantagem foi a Cobasi. “O mercado pet tem uma recompra mensal muito grande”, sinalizou o gerente de e-commerce da rede de shoppings de produtos para animais, Gustavo Ribeiro.
Após reformular o aplicativo, lançando uma versão nova há cinco meses, a empresa se surpreendeu com a velocidade da adoção. “Hoje cerca de 20% das nossas vendas online são finalizadas no app”, afirmou Ribeiro, que já trabalha na integração da ferramenta com o programa de fidelidade da rede . Entre as vantagens colhidas também está a possibilidade de antever a demanda de clientes recorrentes a partir da análise de dados prévios de consumo.
Se somados a outros 26% de compras online ainda realizadas através do site responsivo da Cobasi, o m-commerce da rede já alcança 46% do negociado dentro do ambiente online. As vendas via canais digitais (sejam eles móveis ou não) ainda representam 5% de todo o negociado pela Cobasi (que conta com mais de 60 lojas físicas); a ideia é atingir de 25% a 30% em cinco anos.
Se a Cobasi optou por um fornecedor para a criação do app, apostando em um modelo de software como serviço (ou SaaS), caminho diferente foi trilhado pela Amaro. Com cinco anos de atuação e nativamente digital, a loja de vestuário desenvolveu a ferramenta (que entrou no ar no primeiro semestre de 2017) dentro de casa, onde uma equipe de cinco pessoas está dedicada à área.
“As vendas em dispositivos mobile já eram 40% antes do lançamento do app. Com ele, atingimos 53% no último trimestre do ano passado”, afirmou o fundador e CEO da marca, Dominique Oliver.
O empresário cita uma melhor experiência de chat com o cliente e de envio de notificações push após a adoção da ferramenta. Já elementos como goelocalização e a possibilidade do cliente scannear códigos de barras são relevantes na proposta de convergência da loja, que possui 13 pontos de venda físicos (ou guide shops) funcionando como uma espécie de showroom para consumidoras.
“Temos uma peça de cada produto no guide shop. A cliente pode prová-las e fazer o pedido no tablet da loja ou no próprio celular”, explica Oliver. Em São Paulo e no Rio de Janeiro a entrega do produto ocorre no mesmo dia.
Fonte: DCI