Depois de 30 anos de atuação no mercado de móveis e decoração na Barra da Tijuca, no Rio, o CasaShopping passará por uma diversificação, na esteira de uma expansão concluída em 2014, quando a recessão começou a afetar as vendas do setor. Com 180 lojas, o centro comercial agora vende produtos orgânicos, tem uma academia de ginástica e novos restaurantes.
A estratégia é de Flavia Marcolini, 43 anos, que assumiu o comando do shopping após a morte do pai, Luiz Paulo Marcolini, há pouco mais de um ano. Para ela, o crescimento pode vir de produtos ligados ao bem-estar, à saúde e à alimentação orgânica. Com 70 mil m2 de área bruta locável (ABL), o centro comercial é o maior da América Latina no setor de decoração, segundo a empresária.
“Não estamos saindo do foco de decoração, mas percebemos que podemos atender a consumidores da região. Nossos clientes são pessoas de classe A, que moram na Barra da Tijuca e na zona sul”, diz Flavia, que é formada em administração de empresas. “É também uma forma de diversificar, ajustar a estratégia. A crise imobiliária foi muito ruim para o lojista, sobretudo em 2016 e no início de 2017”.
Uma das apostas é uma academia de ginástica de 600 m2, a CFP9, que tem o ator Bruno Gagliasso entre os sócios, aberta há nove meses. Em dezembro, foi aberta a primeira loja física do Organomix, maior supermercado on-line de produtos orgânicos do Brasil. Na área de gastronomia, foram abertos, entre outubro e dezembro, os restaurantes Galli, Mr Beer e Mia Cookie. Nos próximos meses devem ser inaugurados Garage Burger & Beer, Lo Voglio, entre outros.
Parte das novas lojas está abrindo as portas numa área de expansão que recebeu investimentos de R$ 170 milhões em 2014. A ocupação do espaço de 24 mil m2 foi afetada tanto pela crise no setor imobiliário quanto pela recessão.
A atração de novas empresas ocorre após um período conturbado. O faturamento dos controladores do shopping, a família Marcolini, proveniente de aluguéis cobrados dos lojistas e da receita do estacionamento, recuou 9,6% em 2016, frente ao ano anterior. Caiu mais 7,3% em 2017, disse a empresária, que não informa o valor do faturamento. Para evitar a saída de lojistas, o shopping ofereceu descontos nos contratos de aluguel.
Para a empresária, a retomada da economia e o ajuste na oferta de crédito começaram a ajudar a melhorar o desempenho das lojas do shopping no ano passado. Mas, para ela, o mercado só vai deslanchar com a retomada do setor imobiliário no Rio.
“O setor imobiliário foi o primeiro a cair e será o último a se levantar. O Rio tem um grande estoque de imóveis construídos a serem vendidos. Quando isso acontecer, esse imóveis precisarão ser decorados e vamos nadar de braçada. Isso vai permitir que as vendas cresçam mesmo sem a retomada da construção em si”, diz ela.
Um exemplo disso é o Ilha Pura, condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca construído para sediar a Vila dos Atletas durante a Olimpíada. São 31 torres residenciais, num total de 3.061 apartamentos de alto padrão. Desses, menos de 300 foram vendidos até hoje. “Quando eu passo em frente ao Ilha Pura, meus olhos brilham. É uma mina de ouro”, diz Flavia.
Confiantes na retomada da economia, empresas de decoração estão abrindo lojas no CasaShopping. É o caso da paulistana Doural, de artigos para a casa. Entre setembro e outubro, também instalaram-se a Arquivo Contemporâneo, Natuzzi e Rug Home.
Caçula da família Marcolini, Flavia foi praticamente criada dentro do shopping. Conhece pelo nome boa parte dos lojistas, que a viram crescer por ali. Por isso, ela passou a ser procurada quando assumiu o comando do shopping. Decidiu, então, criar um conselho com as irmãs e mais dois profissionais para dividir tarefas.
“Eles negociam com o comercial e depois o conselho decide a questão. O tom é menos familiar”, disse ela, que vai iniciar o processo de renegociação com lojistas para a retirada de descontos oferecidos no pior momento da crise. “Quando percebemos o tamanho do problema do mercado, negociamos descontos para evitar a saída de lojistas. Mas o momento já permite uma revisão.”
No passado, a família Marcolini resistiu ao assédio de empresas do setor, interessados na aquisição do shopping. O assédio continua, diz Flávia. “Essa sondagem vem desde um lojista interessado em adquirir participação pequena até algum interesse maior. Mas não temos intenção de vender.”
Fonte: Valor Econômico