Depois dos tropeços de 2018, o varejo conseguiu fechar o ano no azul. Com incremento de 2,3% no ano passado sobre 2017, o segundo consecutivo, o setor sinaliza que a crise já passou. Apesar da melhora, a queda de 2,2% nas vendas na passagem de novembro para dezembro mostra que a Black Friday pode, sim, tirar as vendas do período natalino.
“Observamos que houve um recuo muito forte no volume de vendas na passagem de novembro para dezembro, representando um claro indício de que os consumidores resolveram antecipar suas compras de Natal no período de Black Friday”, diz o coordenador de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Ibmec-RJ), Ricardo Macedo.
Ainda assim, os segmentos de bens duráveis e semi-duráveis apresentaram bom desempenho em dezembro de 2018 comparado ao mesmo período do ano anterior, um crescimento que, segundo o especialista, pode estar ligado ao maior acesso às linhas de crédito, recuperação do mercado de trabalho, leve aumento da renda do consumidor e também uma demanda mais aquecida.
De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o maior avanço, em dezembro sobre o mesmo mês do ano anterior, ocorreu no segmento de veículos (+7,8%). Na mesma base de comparação, houve crescimento em artigos de uso pessoal e doméstico (+2,2%); artigos farmacêuticos (+7,2%) e supermercados e hipermercados (+1,9%).
Para Macedo, o setor do varejo como um todo deve se manter estável no primeiro semestre deste ano, sem grandes índices de crescimento e com cautela por parte do empresário, que está atento ao ambiente político e viabilidade das reformas do governo.
“Estes segmentos que foram destaque no levantamento do IBGE devem puxar a retomada do setor como um todo até o reequilíbrio das contas públicas”, complementou ele.
Na avaliação do assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Guilherme Dietze, a evolução no volume de vendas do varejo em 2018 pode ser classificada como satisfatória, apesar do “balde de água fria” que o mês de dezembro representou para os comerciantes do País.
“Tendo em vista alguns obstáculos no ano passado, como a greve dos caminhoneiros, incertezas políticas e frustração na aprovação de reformas, os empresários do setor já traçam boas expectativas para esse ano”, afirmou Dietze, acrescentando que a previsão de crescimento da entidade para o setor em 2019 é de 5% e 6%.
Ainda de acordo com o economista da FecomercioSP, a tendência é que, com uma massa salarial mais elevada e sobretudo a confiança do consumidor de volta, o segmento de bens duráveis como eletrodomésticos e eletroeletrônicos deve apresentar bons índices de vendas neste ano.
“Grande parte das famílias espera pelas liquidações no começo do ano para realizar a compra nessa categoria de produtos. No entanto, caso as reformas não forem aprovadas pelo governo, o otimismo no mercado pode diminuir bastante”, afirmou Dietze.
Além disso, ele lembra que, diferentemente do período de crise dos últimos anos, os empresários estão conseguindo adequar melhor os estoques com base na demanda atual.
“Com uma perspectiva positiva e moderada sobre as vendas, o lojista tem considerado os estoques alinhados com a intenção de compra dos consumidores”, observa.
Segundo balanço da FecomercioSP, a parcela de comerciantes que consideravam o estoque adequado avançou 8,2% em janeiro de 2019 sobre igual período do ano passado, sinalizando otimismo do setor e atingindo 57,2 pontos (sendo acima de 50 uma visão de estoque adequada à demanda).
Fonte: DCI