Redes de comércio apostam no 5G para melhorar logística e oferecer experiências imersivas aos consumidores
Por Kátia Simões
Pela primeira vez a Lojas Renner deu a seus consumidores a oportunidade de testar em primeira mão os modelos de uma nova coleção. E testar não é força de expressão. A rede, com mais de 400 lojas físicas, apresentou quatro skins – versão digital de peças de roupa – no metaverso. O evento, realizado no início do mês simultaneamente no mundo físico e virtual, é resultado da parceria da varejista com a Housi, startup brasileira de moradia por assinatura. A estratégia phigital usou o espaço da startup na rua Oscar Freire, em São Paulo, e o edifício virtual nas coordenadas -70,42 de “Decentraland”. Os convidados criaram seus avatares no ponto físico, o que lhes permitiu vestir as roupas digitais e, via QRcode, baixar por conta própria os looks no metaverso.
Segundo Flávio Reis, CTO das Lojas Renner, o lançamento é apenas um dos estudos que a varejista está fazendo para garantir aos consumidores experiências cada vez mais imersivas fundindo os dois mundos, o físico e o digital. “Em 2021, criamos os primeiros modelos em 3D, aplicando realidade aumentada, tecnologia que ganhará mais força com o 5G”, afirma. “Acreditamos que a adoção do 5G será massificada num futuro próximo. Isso garantirá a entrega de mais conectividade nas lojas, rapidez nas transações e terá impacto na operação logística, um dos pontos cruciais de sucesso do varejo.”
Iniciativas como a da Renner se tornarão cada vez mais comuns no varejo, intensificando-se à medida que a nova tecnologia ganhe abrangência nacional e os dispositivos estejam preparados para rodar com 5G. A largada já foi dada. Dados da Americanas SA, responsável pela Americanas, Submarino e Shoptime, revelam que entre janeiro e agosto desde ano foi registrado um aumento de mais de 1.000% na venda de smartphones com tecnologia 5G no Brasil.
De acordo com o estudo Why 5G in Latin America?, realizado em conjunto pela Nokia e Omdia, a implantação de redes 5G representará uma verdadeira transformação digital e impulsionará a produtividade na América Latina, principalmente no Brasil, com ganhos significativos para a economia. A expectativa é que o 5G tenha impacto de até US$ 1,2 trilhão no PIB brasileiro até 2035. Só no varejo, estima-se incremento de US$ 88 bilhões no mesmo período.
Com o 5G, a fusão do mundo físico com o virtual terá menos atrito, mais fluidez, além de permitir uma maior captura de dados e análises mais assertivas para a oferta de experiências personalizadas de compra. Com o 5G será mais fácil experimentar roupas virtualmente ou redecorar a casa à distância. Os sensores também serão capazes de perceber o quanto os clientes estão gostando ou não de um produto com base no reconhecimento facial. Também terá impacto significativo no gerenciamento de estoque e na logística, principalmente da última milha.
Na visão de Jean Rebetez, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, num primeiro momento o que se propagará como benefício é a camada superficial do 5G, ou seja, aumento da velocidade das conexões e diminuição da latência, o que é muito pouco diante do que a banda é capaz de proporcionar. “A partir da tecnologia estabelecida, veremos uma revolução da internet das coisas, com potencialização das lojas autônomas, expansão das gôndolas via realidade aumentada, colocação efetiva do e-commerce no metaverso, entregas com carros autônomos”, afirma.
Fernando Brossi, vice-presidente de operações da C&A Brasil, ressalta que o 5G será o grande habilitador do metaverso, mas, acima de tudo, será o caminho para adoção de aplicações que mudarão a maneira do varejista interagir com o consumidor. “O impacto passa não só pela melhora na interação de vídeo nas vendas via rede social, com mais sustentação e menos consumo de banda, como abre um leque imenso de aplicações personalizadas a partir de análise de dados de comportamento de compra”, declara. “O 5G permitirá aplicações diferentes em tempo real nas nossas mais de 300 lojas.”
Para Nelson Soares, head de inovação em varejo digital e logística do grupo Stefanini, multinacional brasileira de tecnologia, a velocidade do avanço do 5G depende da agenda do governo, do quanto os governantes enxergam a tecnologia como uma ferramenta de geração de renda. “Num país continental como o Brasil a infraestrutura é um obstáculo gigantesco a ser transposto”, diz. “Na outra ponta, falta mais conhecimento por parte da iniciativa privada, que não consegue antecipar a mudança radical que o 5G provocará nos negócios. Quando entenderem, os investimentos serão feitos de maneira mais assertiva.”
Fonte: Valor Econômico