A Amazon, maior varejista online dos Estados Unidos e empresa mais valiosa do planeta, avança aos poucos no Brasil. A empresa de Jeff Bezos entrou no e-commerce brasileiro em 2014 e, desde então, tem atuação discreta, sem ameaçar trazer grandes novidades tecnológicas para cá ou abocanhar uma grande parcela das vendas, como apostava parte do setor varejista.
Segundo o último ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) a Amazon é apenas a 13ª maior varejista online do Brasil, com faturamento estimado em R$410 milhões em 2017.
A companhia preferiu dar pequenos passos por aqui. Só depois de quase cinco anos de operação a gigante varejista abriu seu primeiro grande Centro de Distribuição, em Cajamar, na região metropolitana de São Paulo.
Daniel Mazini, diretor de varejo da Amazon no Brasil, falou à NOVAREJO sobre logística, meios de pagamento e aceitação dos produtos de marca própria, desafios da operação da Amazon no Brasil.
Confira:
NV: Quais os principais desafios que o Brasil oferece para uma empresa como a Amazon?
Daniel Mazini: Eu trabalhava em Seattle, no headquarter, antes de vir para cá. É muito comum para países novos, não só para o Brasil, desafios relacionados à logística. Cada país é diferente um do outro, cada país tem suas peculiaridades, e o Brasil não é diferente. Tem o parcelamento no cartão de crédito, boleto e a parte de legislação, que precisa adaptar para cada país. Eu não vejo um desafio específico para o Brasil. Países como Turquia ou Austrália também têm seus desafios, só para citar alguns onde a gente se lançou recentemente.
NV: E quais são as particularidades do Brasil em meios de pagamento?
DM: Temos de pensar diferente, principalmente em relação ao fluxo de caixa, que no Brasil é diferente. Tem o boleto, que a gente recebe imediatamente, mas o parcelamento não. Então, são fluxos de caixa diferentes. A Amazon é uma empresa que foca bastante em fluxo de caixa, isso é conhecido, então a gente precisa fazer coisas diferentes no Brasil.
NV: No mundo, os produtos Amazon são os mais vendidos no e-commerce da marca. Como está a aceitação desses produtos aqui no Brasil?
DM: Aqui nós vendemos o Kindle e seus modelos, que são geralmente os mais vendidos diariamente. Em datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia dos Namorados, são os mais vendidos. É um produto que vai muito bem.
NV: O que a inteligência de dados da Amazon tem descoberto de diferente no consumidor brasileiro?
DM: Primeiro tem uma similaridade (com os outros mercados). Todo consumidor gosta de entrega rápida, catálogo com muitos produtos e bons métodos de pagamento. Aqui no Brasil, a gente vê como o e-commerce é bem mais desenvolvido em algumas categorias do que em outras. Os produtos eletrônicos, quaisquer aparelhos de ligar na tomada, livros e outras mídias são fortes. E a gente vem acompanhando como as pessoas começam a transitar por outras categorias, como produtos de beleza e cuidados pessoais e roupas.
NV: Quais informações dos consumidores captadas pela Amazon são as mais valiosas?
DM: A gente pede pouquíssima informação do cliente quando ele cria uma conta. Se você tentar criar uma conta a gente pede e-mail, número de telefone e o nome. Se você não fizer uma compra a gente não pede mais nada. Nós trabalhamos muito não com detalhes das informações dos clientes, mas com o comportamento deles no site. A gente vê se a pessoa compra muito um tipo de eletrônico ou tipo de roupa, é muito mais pelo comportamento e frequência. Nós podemos até chegar em conclusões erradas observando o comportamento, achando que a pessoa é uma coisa, mas na verdade é outra.
NV: Como está a transferência da operação para o CD de Cajamar?
DM: Começamos em 2014 com um armazém em Barueri, que vendia livros e aparelhos Kindle. Agora, com o lançamento de mais categorias em janeiro, inauguramos esse novo armazém em Cajamar. Ele vem por dois motivos: a área é bem maior, então o espaço físico em Cajamar estava bem conveniente, e qualquer endereço nessa região do Rodoanel para um primeiro centro de distribuição é muito conveniente. É lógico que São Paulo e a região Sudeste como um todo têm uma grande demanda, mas também acesso fácil a aeroportos para Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. Então, como primeiro passo logístico, é uma área bem óbvia para a gente começar.
NV: Vocês têm feito parcerias com companhias aéreas?
DM: A gente faz parceria com transportadoras e elas fazem parceria com as empresas aéreas. Temos várias transportadoras que trabalham com a gente e elas utilizam as empresas aéreas, e nós dependemos muito do uso do avião, dependendo da promessa que oferecemos ao cliente. Quando falamos que vamos em entregar em X dias a gente usa o avião, mesmo que no começo não faça muito sentido do ponto de vista econômico, mas queremos atender naquela velocidade prometida.
Com o tempo, vamos acompanhando para onde estamos enviando via avião e tentamos balancear esses custos com a nossa ferramenta de logística. Aí veremos se vale a pena criar uma rota rodoviária ou uma reserva maior de espaço em aviões por conta do aumento da demanda. Nosso sistema trabalha nisso diariamente, recalculando essa demanda, pensando sempre que a experiência do cliente vem primeiro e depois o custo para viabilizar isso. Com o tempo a gente vai tentando diminuir (o custo).