A fim de fidelizar os clientes conquistados durante o período de crise, o atacarejo se aproxima da indústria para diversificar o sortimento de produtos e elevar o valor agregado de cada mercadoria.
“A busca por produtos mais sofisticados e o novo formato de mega-descontos por parte dos consumidores são reflexos do novo modelo de cash and carry no Brasil. É uma nova incorporação de hábitos” afirmou o fundador da consultoria de varejo Varese Retail, Alberto Serrentino.
De acordo com o especialista, a crise econômica funcionou como um “gatilho” inicial para que os consumidores buscassem manter o mesmo padrão de compra no modelo de atacarejo, um modelo híbrido entre o setor atacadista e varejista.
Com isso, segundo ele, a capacidade dos players desse segmento em manter esse cliente e evitar seu regresso aos supermercados se dará por meio da aproximação com a indústria, análise de dados dos novos hábitos de consumo e sortimento exclusivo de produtos.
Um dos exemplos de iniciativas de aproximação entre varejo e indústria e reformulação do portfólio nas gôndolas do cash and carry é a alta demanda por bebidas alcoólicas “especiais”. Segundo um levantamento realizado pela indústria de cervejas Heineken, no atacarejo brasileiro, a penetração dos produtos artesanais saltou 166% entre 2018 e o ano passado. Na mesma base de comparação, a categoria premium aumentou 58%; a tradicional 11%; e as “econômicas” -1%.
De acordo com a pesquisa, os maiores motivos para esse movimento é a maior contenção de gastos por parte dos consumidores brasileiros, melhor planejamento de compra, retração do consumo fora do lar e aumento da demanda por segmentos superiores. Ainda segundo o estudo, a categoria premium já tem participação de 20% nas linhas de cervejas das gôndolas dos atacarejos.
Nesse sentido, o mesmo movimento de ampliação no sortimento ocorre no setor de higiene pessoal, como por exemplo com a P&G.
“Percebemos que o consumidor tem reavaliado os canais de compra em virtude do cenário econômico nos últimos anos. Vemos o modelo de atacarejo como um dos mais atrativos para os negócios”, afirmou o diretor de vendas da P&G, Bruno Lourenção, destacando que o setor foi atingido recentemente pelos efeitos da deflação.
Para o executivo, mesmo com a confiança adquirida no período de recessão, a participação os supermercados ainda tem maior participação sobre os produtos de higiene pessoal em relação aos cash and carry. No entanto, ele indica que esse cenário tende a mudar gradualmente com a entrada de produtos de maior valor agregado. “Nós temos melhorado muito a venda de fraldas ‘premium’, como por exemplo, fazendo com que o consumidor compre mais e eleve o tíquete médio”, argumentou ele.
O executivo, no entanto, pondera que o oferecimento de itens exclusivos para o atacarejo não deve ser “exagerado”, pois é difícil esse modelo atingir o mesmo nível de diversificação que negócios como supermercados têm.
Em linha com o raciocínio de Lourenção, o 2º diretor vice-presidente do atacarejo Assaí, Belmiro Gomes, lembra que nos últimos anos houve um aumento benéfico de sortimento no modelo de negócio, mas que o processo deve acontecer dentro dos limites operacionais de cada um.
“Houve uma evolução no número de SKUs recentemente, hoje estamos com algo em torno de nove mil. Devemos entender o canal como um negócio complementar. Não conseguimos atender todos os perfis de clientes”, disse ele. Além disso, ele complementa ao dizer que “com uma grande diversificação de itens, muitas vezes os clientes também podem ter a percepção de que os preços de cada produto estão mais altos no momento em que a compra total é contabilizada no caixa da loja.”
Fonte: DCI