Com 69 shoppings, companhia combinada é avaliada em R$ 12 bilhões
Por Adriana Mattos
Cinco anos após a primeira conversa mais estruturada de fusão entre as empresas — que, na época, acabou não evoluindo — BR Malls e Aliansce Sonae finalmente tiraram o acordo do papel. Acionistas das duas companhias aprovaram a operação ontem, por maioria, na assembleia geral extraordinária de cada grupo, e nas próximas semanas devem submeter a transação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Hoje, o comando das companhias terá reunião para começar a estruturar um trabalho transitório, limitado às exigências de separação dos negócios até a decisão do Cade.
Na assembleia da BR Malls, que era determinante para o acordo, o apoio foi de 68,5% do total de ações, 11,2% contra e o restante de abstenções. Na Aliansce Sonae, o apoio atingiu 79,6%, com 2% de votos contrários e a fatia restante se absteve. Os quóruns foram altos, especialmente na BR Malls, considerando o seu capital disperso — alcançou 79,2% na empresa e 81,7% na Aliansce, indicando envolvimento maciço dos acionistas.
A expectativa das companhias é de que a análise do caso pelo Cade leve de seis a oito meses, com prováveis ajustes.
Em entrevista ao Valor, Ruy Kameyama e Rafael Sales, CEOs da BR Malls e Aliansce Sonae, respectivamente, destacaram o apoio num “sinal incondicional de percepção clara do mérito da proposta”, disse Kameyama. O negócio surge avaliado em R$ 12 bilhões e 69 shoppings no portfólio. “Se você pensar bem, é algo inédito no Brasil, porque começamos com uma oferta não solicitada, que passou por ajustes, até obter o apoio do conselho de administração [da BR Malls] e avançar para aprovação dessa magnitude num negócio [com capital] tão pulverizado como o nosso. Não é algo tão comum”, diz o CEO da BR Malls.
Paralelamente ao encaminhamento da transação ao Cade, será feito maior alinhamento daquilo que é possível avançar mantendo as empresas autônomas. “Durante [a análise] do Cade podemos trocar as melhores práticas e analisar performances e buscar uma melhor granularidade das capturas de sinergias. Amanhã cedo já temos uma reunião, na BR Malls, para começar a decidir a nova consultoria estratégia que vai nos auxiliar nesse processo”, disse Rafael Sales, CEO da Aliansce Sonae.
A Aliansce calculou inicialmente sinergias de R$ 210 milhões por ano, mas Sales diz que consultores estimam valores maiores. “Vamos olhar mais no detalhe e não pegar pela média [dos valores] para vermos se há ou não ganhos maiores possíveis”, diz.
Também começa a ser analisado perfil das equipes e identificação dos executivos na nova empresa combinada — ainda sem nome final definido. Segundo fontes, os grupos consideram que, após a avaliação do Cade, pode ser preciso vender o Boulevard Vila Velha (ES), Boulevard Londrina (PR), Uberlândia Shopping (MG) e um quarto no Rio de Janeiro. Isso é menos de 5% de todo o lucro operacional anual. Na cidade Manaus, apesar de ambas terem empreendimentos relevantes, o cálculo é de baixo risco.
Foram cinco meses até a aprovação de ontem. Em janeiro a Aliansce fez a primeira proposta, de uma “fusão de iguais”, algo que a BR Malls rejeitou quase imediatamente. A BR Malls entendia que era uma aquisição sem prêmio de controle. Isso foi sendo ajustado.
Foi aprovada a terceira proposta, e serão pagos R$ 1,25 bilhão em dinheiro aos acionistas da BR Malls e, na relação de troca, a Aliansce entra com cerca de 326,3 milhões ações — na proporção de 0,39 ação por papel da BR Malls. A BR Malls fica com 55,2% da companhia combinada e o valor em dinheiro.
A proposta de remuneração da BR Malls para 2022, também ponto da pauta da assembleia de ontem, teve apoio de 61% do capital total, um pouco abaixo da taxa de aprovação à fusão. “Mesmo assim, fica claro que entenderam a necessidade da atualização nos valores nesse novo cenário”, diz Kameyama. Foram contra a proposta 15,8% e o restante se absteve.
Na segunda-feira, o Valor informou que havia incômodo de alguns investidores em relação ao detalhamento dos pagamentos. Ainda na segunda, a empresa publicou novas informações ao mercado. O valor total de remuneração soma até R$ 92 milhões a executivos que podem sair e ficar na BR Malls após a fusão. Somando todos os pacotes (retenção, indenização e plano de ações), os diretores estatutários receberão até R$ 52 milhões, detalhou o grupo.
Fonte: Valor Econômico