Ex-controlador da Casas Bahia, Michael Klein usa recursos da venda da rede para investir em táxi aéreo, concessionárias de carro e imóveis
O empresário Michael Klein dirige quase todos os dias o seu Mercedes-Benz E-500 até um hotel na avenida Faria Lima. De lá, segue de helicóptero até seu escritório, em São Caetano do Sul. Klein dá expediente no último andar de um edifício que pertence a ele e também é sede da Viavarejo, empresa que reúne os negócios da Casas Bahia, rede fundada pelo seu pai, Samuel Klein. No caminho de casa ao escritório, Klein incorpora na própria rotina seus três novos negócios: uma concessionária Mercedes-Benz, uma empresa de táxi aéreo e uma administradora de imóveis, empresas que fazem parte do grupo CB, a holding de Klein.
O sobrenome Klein se tornou conhecido com a Casas Bahia, uma varejista criada, como definia o próprio fundador, para atender a “Dona Maria” e que cresceu com a ascensão da classe C. A fusão da Casas Bahia com o Ponto Frio, em 2010, deu origem a Viavarejo. Com a oferta de ações da Viavarejo na Bolsa de Valores, em dezembro de 2013, os Klein receberam uma “bolada”. A família levantou cerca de R$ 1,5 bilhão – metade disso para Michael.
Com dinheiro na mão e ativos que não entraram na fusão com o Pão de Açúcar, Michael Klein partiu para outra. Os novos negócios mostram que ele virou a chave e faz uma aposta no cliente de alta renda. “O consumidor de alta renda sofre menos. Eles são os últimos a deixar de comprar carros e viajar de avião”, disse Klein.
A fama do ex-dono da Casas Bahia abre portas. “Os clientes perguntam se o avião que vão usar é o que o Michael Klein voa”, disse Flavia Rubira, gerente comercial da CBAir, empresa de aviação executiva do grupo. Na festa de inauguração da sua primeira concessionária, o carro mais caro foi vendido, um C63 AMG, que custa R$ 450 mil. “Isso não é comum. Ele escolheu bem a lista de convidados. E, claro, muitas pessoas foram porque o convite veio do Michael Klein”, disse Dirlei Dias, gerente sênior de Marketing e Vendas da Mercedes-Benz.
Novo grupo. Ao todo, Klein já investiu R$ 1 bilhão nos negócios do grupo CB. O primeiro foi o braço imobiliário, que incorporou cerca de 300 imóveis alugados para a Viavarejo. Com o reinvestimento dos aluguéis, ele aumentou o portfólio para 432 imóveis, que lhe rendem R$ 400 milhões por ano e são avaliados em R$ 5 bilhões. Além de lojas, ele também tem centros de distribuição e lajes corporativas. O próprio Klein avaliou um por um dos prédios adquiridos, prática que tinha quando escolhia novos pontos para a Casas Bahia. Ele afirma que chegou a renegociar os valores de aluguel diante da crise econômica, mas não sente uma alta na vacância. Apenas 13 imóveis estão disponíveis para locação.
Klein não parou por aí. “Não quero viver de aluguel. Quero construir negócios que gerem valor e emprego”, disse. A segunda empreitada foi a empresa de táxi aéreo, a CBAir, que já nasceu com três helicópteros, quatro aviões e um hangar no aeroporto Campo de Marte, estrutura que antes era usada pela Casas Bahia. Klein investiu cerca de R$ 200 milhões na companhia de táxi aéreo, hoje com 15 unidades na frota, e um hangar no aeroporto de Sorocaba. Ele se inspirou na Netjets, uma empresa do bilionário americano Warren Buffet. “É muito caro manter um avião. A tendência é que as empresas e pessoas físicas vendam seus aviões e usem o serviço de fretamento e táxi aéreo”, disse.
Após pesquisar o mercado, Klein investiu R$ 8 milhões em outro negócio em que já era apaixonado – o setor automotivo. Neste ano, criou a CB Motors e abriu uma concessionária Mercedes-Benz em Jundiaí, no interior de São Paulo. “Eu já era próximo da marca. E, com o plano de expansão da Mercedes no Brasil, surgiu uma oportunidade de entrar para a rede de concessionários”, explica Klein. Além de ter cinco carros da marca, Klein foi um dos maiores clientes corporativos da Mercedes-Benz quando estava à frente da Casas Bahia. A rede chegou a ter uma frota de 3.000 caminhões Mercedes-Benz.
Klein pretende abrir novas concessionárias, mas depende do cronograma de expansão da montadora. De acordo com o gerente comercial da marca, a Mercedes-Benz saltou de 45 para 56 concessionárias em um ano e meio, como parte de um plano de expansão da empresa, que inaugurou mês passado sua primeira fábrica de carros no Brasil. Dias afirma que a maioria dos concessionários têm mais de uma loja e vê espaço para o avanço de Klein no grupo. Mas ele terá que esperar, já que a marca está desacelerando seu plano de expansão diante da crise econômica. As vendas de carros da Mercedes-Benz caíram 19,7% no primeiro trimestre, na comparação com 2015.
A empresa de aviação de Klein também enfrenta um mercado difícil. “As receitas da aviação são em real, mas o custo é em dólar. Hoje o cenário é de alta do dólar e redução de receitas por causa da crise, o que corrói a margem das empresas”, explica Ricardo Nogueira, diretor geral da Abag, associação de aviação executiva. “Não vejo um cenário positivo nos próximos dois anos.” Klein prevê faturar R$ 50 milhões este ano e diz que a crise não o desanima. “Eu quero construir um grupo sólido. Eu olho o longo prazo.”