Por Jacilio Saraiva | Foco em inovação, cuidado com as equipes e aprendizado baseado em erros. Essa equação parece guiar a trajetória de Rony Meisler, cofundador da marca de moda Reserva e CEO da AR&Co, braço de lifestyle e vestuário da Arezzo&Co. “O caminho para o acerto é o erro”, afirma o empreendedor em episódio do podcast CBN Professional, uma parceria do Valor com a rádio “CBN”. Acertar nada mais é do que acumular aprendizados que, em algum momento, vão te dar um bom resultado, garante.
Para Meisler, a receita tem dado certo. Apesar de achar que fazer engenharia de produção por influência do pai, no início da juventude, foi uma escolha “errada”, ele acredita que tudo o que aprendeu na graduação foi útil. “Mas a minha vocação é para as ciências humanas, é lidar com gente.”
O executivo carioca lembra que a Reserva começou, sem muitos projetos, de uma análise simples que fez com o sócio Fernando Sigal. Meisler tinha 24 anos, era analista na consultoria Accenture e frequentava a mesma academia de ginástica do amigo. Os dois começaram a ver vários garotos usando a mesma bermuda e constataram, bem diante deles, um problema de oferta. Desenharam uma peça com estampa de praia e o negócio de venda de roupas masculinas começou em 2004.
Quase duas décadas depois, em 2020, a dona da Arezzo anunciou a compra da Reserva em uma operação que avaliou a marca em R$ 715 milhões. Na época, contava com cerca de 80 lojas próprias e estava presente em 1,5 mil multimarcas. Em 2019, anotou um faturamento de R$ 400 milhões.
Meisler, hoje com 41 anos, pondera que o crescimento – e a valorização da empresa aos olhos do mercado – deve-se à observação de três valores corporativos que nunca saíram do radar. “O sonho tem que ser bom e grande; a mente tem que estar aberta – pois quando achamos que sabemos tudo, paramos de escutar os outros – e o compromisso [da companhia] é com gente e resultados”, diz. “Se não cuidamos das pessoas no nível máximo, elas não vão entregar resultados no nível máximo.”
Se não cuidamos das pessoas no nível máximo, elas não vão entregar resultados no nível máximo”
A preocupação com os atuais três mil funcionários foi ampliado durante a pandemia, lembra. O grupo fechou todas as lojas por conta da crise sanitária e a venda no balcão teve que ser repaginada. “Assumimos o compromisso de não demitir ninguém e ‘ligamos’ o ‘modo sobrevivência’ junto com o ‘modo reinvenção’.”
Uma das ferramentas aplicadas nessa frente foi uma plataforma digital, de relacionamento com o cliente. A equipe comercial passou a usar o sistema de casa e a empresa dobrou o valor da comissão das vendas, de 5% para 10%. “Em junho de 2020, sem lojas abertas, nosso faturamento já era maior do que em junho de 2019”, relata. O volume de entregas pelos meios digitais avançou de 20% do total, em 2020, para os atuais 65%.
O CEO relata que, na época do confinamento, correndo na esteira, viu o filme “Sully – O herói do rio Hudson”. Na história, Tom Hanks interpreta um piloto que precisa realizar um pouso forçado na água depois que uma revoada de pássaros atinge as turbinas de uma aeronave com 150 passageiros. Mal comparando, diz ele, foi como se tivéssemos conseguido pousar o nosso avião, salvando todo mundo. “Passei o filme para todos na empresa.”
Foi no contexto da pandemia que a união com a Arezzo&Co também foi selada, continua. “Estávamos nos preparando para um IPO [oferta pública inicial de ações] quando um dos bancos envolvidos sugeriu a operação.”
Segundo ele, mesmo com a aquisição, a cultura organizacional da Reserva foi preservada, com ganhos visíveis para as partes envolvidas. “Não existe uma cultura [corporativa] igual à outra”, diz. “Mas como a Arezzo nasceu com uma veia empreendedora, um ponto em comum já estava dado.”
O coautor do livro “Rebeldes têm asas” (Ed. Todavia, 448 págs.), que conta como a Reserva se tornou uma das marcas mais inovadoras do mundo, segundo a revista “Fast Company”, destaca que a combinação de negócios com a Arezzo disparou vantagens para ele e o empresário Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co. “A Arezzo é mais B2B [negócios entre empresas] e nós operamos B2C [negócios com o consumidor, das siglas em inglês]; eles são mais ‘industriais’, somos varejistas”, compara. “No final, essa diferença de cultura gerou valor. Desde então, multiplicamos por quatro o faturamento da AR&Co.”
Sobre a relação com Birman, Meisler diz que a amizade, que existia antes da fusão, evoluiu para uma troca de aprendizados. “Unimos complementaridades. Quando um fala [sobre o que entende mais], o outro ouve”, admite. “Se o Alexandre explica sobre franquia, eu escuto; e quando discorro sobre loja própria, ele presta atenção.”
Este mês, o Valor apurou que a família Birman, controladora da Arezzo, vendeu R$ 112,9 milhões em ações da empresa ao longo de 2023. Procurada, a companhia, que vale R$ 6,8 bilhões, informou que, no ano passado, por conta de condições do fundador, Anderson Birman, e devidamente comunicada ao mercado, houve uma doação das ações aos filhos e parte expressiva do montante em questão refere-se ao pagamento de impostos, como previsto em lei.
Fonte: Valor Econômico