Em menos de dois anos no Brasil, a rede de supermercados de bairro já soma 116 unidades. A velocidade da expansão intriga a concorrência, mas o consumidor parece gostar da novidade
Por Lara Sant’Anna
No final de 2020, uma pioneira loja da bandeira Oxxo foi inaugurada em Campinas (SP). O que a princípio pareceria apenas um mercadinho local, em pouco tempo começou a se espalhar de forma acelerada. De lá para cá, outras 115 unidades foram abertas, a maioria na capital paulista. Essa velocidade de expansão e a pouca distância entre as unidades já virou até meme nas redes sociais, uma brincadeira em torno da expectativa de qual novo espaço será dominado pelo mercadinho.
A julgar pelo que a rede representa em seu país de origem, o México, é de se esperar que milhares de lojas sejam abertas por aqui nos próximos anos. Criada em 1978, a Oxxo possui mais de 20 mil unidades. Além da venda de alimentos, bebidas e produtos de limpeza e higiene no modelo conhecido por “mercado de proximidade”, a marca abriga uma rede de postos de combustível e investe em soluções financeiras. Por isso faz todo o sentido que tenha chegado ao Brasil por meio de uma joint venture formada pelo grupo mexicano Femsa e a Raízen (leia mais sobre a empresa à pagina 30). Juntas, elas criaram o Grupo Nós, que agora controla tanto a rede Oxxo quanto a Shell Select, de lojas de conveniência em postos de combustíveis. Segundo o CEO Rodrigo Patuzzo, “o Grupo Nós nasce com a responsabilidade de liderar o mercado brasileiro de conveniência e proximidade e ser reconhecido como a rede mais confiável”. A ambição é igualmente elevada por parte do CEO da Raízen, Ricardo Mussa: “Estamos inaugurando um mercado por dia. Vamos chegar ao número 1.000”. Todas as praças selecionadas têm grande densidade populacional. Além de Campinas e São Paulo, já receberam unidades Osasco e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e Piracicaba, no interior do estado.
O que passou a ser conhecido como mercado de proximidade é uma evolução dos mercadinhos de bairro e mercearias populares. A principal diferença está no modelo baseado em rede. Grupos como Pão de Açúcar e Carrefour aderiram ao formato com as marcas Minuto e Express, respectivamente. Elas levam ao consumidor a segurança de bandeiras consagradas em formatos maiores com a conveniência de estar na vizinhança.
QUESTÕES DEMOGRÁFICAS Para Olegário Araújo, professor e pesquisador do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getulio Vargas, o modelo atende a novas necessidades. “É preciso olhar para as questões demográficas. Os lares estão menores e isso é um ambiente propício para esse formato de loja”, disse. Outro fator que favorece o modelo de negócio é a praticidade. “A principal moeda hoje é o tempo. Estamos valorizando demais a hiperconveniência e essas lojas vêm com esse propósito.”
A rápida expansão da Oxxo pede novas formatações estratégicas. Para que o modelo seja sustentável é preciso que tenha volume e uma grande malha de distribuição. O consultor Alberto Serrentino, da Varese Retail, diz que a maior dificuldade para esse tipo de loja deslanchar é a densidade. “Não adianta ter poucas unidades espalhadas, porque elas precisam ser abastecidas com muita frequência e de maneira fracionada”, disse. “Só é possível escalar isso se tiver crescimento rápido e denso”.
A expansão da Oxxo se dá em bom momento para as lojas de conveniência e de proximidade na América Latina. Estudo recente da Kantar mostra que desde 2019, enquanto os mercados e supermercados tiveram uma queda de participação na região, o faturamento das lojas de proximidade e de conveniência cresceu. Com esse cenário favorável, o Grupo Nós tem números que intrigam a concorrência. No primeiro trimestre de 2022 o grupo registrou receita de R$ 96,2 milhões, crescimento de 179% na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com relatório trimestral da Femsa Comércio. Claro que pesam nesse resultado as 116 unidades da Oxxo. Mas entram na conta as 47 lojas próprias Shell Select e as franquias da conveniência. No total, são 1,3 mil pontos pelo País.
Ao que tudo indica, a meta de chegar a 1 mil lojas Oxxo anunciada pelo CEO da Raízen não deve demorar. Mas o sucesso da operação não se limita a abrir lojas. A concorrência no setor envolve não apenas a construção das redes como principalmente os serviços de delivery, que apostam na comodidade e nas dark stores. A linha de chegada dessa corrida é definida pela melhor estratégia e pelo cliente. Na visão do professor da FGV Olegário Araújo, cada escolha individual do consumidor vai definir como será a disputa desse mercado. “Quem entender melhor, oferecer mais conveniência e mais serviço pelo menor preço, vai atrair o consumidor.”
Fonte: IstoÉ Dinheiro