26/01/2015 – 05:00
Por Eduardo Campos
Depois de lançar mão da estratégia de “forward guidance” em dezembro, tentando conduzir as expectativas quanto aos próximos passos da política monetária, mas sem sucesso, o Comitê de Política Monetária (Copom) parece voltar ao básico com o seco e objetivo comunicado apresentado após a decisão da semana passada, quando elevou a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual, para 12,25%. Nada de “neste momento”, “parcimônia” e “efeitos defasados”. A decisão foi tomada “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação” – e nenhuma palavra a mais. Redação idêntica foi utilizada em outubro de 2010, quando o BC vinha mantendo o juro em 10,75%.
Deixar a porta aberta para qualquer decisão em 3 e 4 de março parece a melhor opção. Não tira da pauta o “fazer o que for necessário” para levar a inflação à meta de 4,5% em dezembro de 2016, além de dar tempo para o BC avaliar a inflação de janeiro e a parcial de fevereiro, que já captarão o aumento das tarifas e combustíveis.
O BC tomou a decisão correta, pois, embora a confiança esteja melhorando, não há espaço para falar em “parcimônia” mais uma vez. Além disso, ao ser pragmático, o presidente Alexandre Tombini deixa a difícil tarefa de coordenar expectativas e vender um ajuste que vai colocar o país de volta aos trilhos nos bons auspícios do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Em suma, o BC está voando abaixo do radar e deixando Levy fazer todo o trabalho pesado.
De fato, o ministro vem conduzindo a formação de expectativas e se mostra confiante e confortável com tal tarefa. As entrevistas recentes sugerem isso, com espaço até para piadas, como a feita em Davos sobre os Brics. “O Brasil ainda é um Bric e vamos construir nosso crescimento ‘brick by brick’ “, disse à “Bloomberg”.
Além desse ponto estratégico, de não ser vidraça enquanto Levy é alçado a estrela, o BC também ganhou espaço para avaliar o comportamento dos mercados, especialmente o de moedas, depois que o Banco Central Europeu (BCE) ligou a impressora de euros a um ritmo de 60 bilhões ao mês para tentar conter a deflação e estimular o crescimento.
Isso já estava no radar do BC, com Tombini explicando que conforme os EUA acenam um aperto dos juros, Europa e Japão seguem com políticas expansionistas, o que abre espaço para arbitragens entre esses mercados. Agora será possível avaliar o resultado dessa nova configuração mundial de liquidez. Por ora, a pressão sobre o real cai e a moeda opera nas mínimas do ano, na casa de R$ 2,58.
Mais um fator que pesa sobre o colegiado é o comportamento do juro real, que é o que realmente importa no “trade-off” entre poupar e investir. Mesmo com a elevação da Selic, a taxa real (swap 360 descontado IPCA para 12 meses) está menor agora, ao redor de 5,6% do que no mês passado, quando rondava os 6%. Quando o BC começou a apertar os juros em abril de 2013 a taxa real estava perto de 2,4%. E quanto mais a inflação piorar no curto prazo, como já esperado por todos, maior terá de ser a Selic para impactar a taxa real.
Valor Econômico – SP