Startup brasileira abre Centro de Distribuição na Holanda para consolidar presença no Velho Continente e prepara expansão com app e novas categorias
Por Moacir Drska
Com mais de dois mil anos e cerca de 170 mil habitantes, a pequena Nijmegen é a cidade mais antiga da Holanda e já foi palco de muitas batalhas. Das origens como um acampamento militar romano até a ocupação alemã e os bombardeios das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial.
Localizada a 10 quilômetros da fronteira com a Alemanha, Nijmegen é agora o ponto de partida de outra “invasão”. Fundada em 2012, com a proposta de ser a “Nike do mercado pet”, a brasileira Zee.Dog escolheu a cidade como o mais novo front no seu plano de conquistar o mercado global de produtos e acessórios para animais de estimação.
A startup antecipou com exclusividade ao NeoFeed que vai inaugurar, em maio, um centro de distribuição (CD) na cidade, em uma área de 2,5 mil metros quadrados. A unidade é a primeira da Zee.Dog na Europa e reforça o apetite da empresa para consolidar sua presença no continente e no exterior, onde atua unicamente com a venda de seus produtos.
“Somos, provavelmente, o grupo pet mais bem posicionado para fazer esse ataque global”, afirma, sem rodeios, Felipe Diz, cofundador e CEO da Zee.Dog, em entrevista ao NeoFeed. “E, num mercado no qual a grande maioria é regional, talvez a única empresa que tem o mundo como mercado endereçável.”
Essas palavras são sustentadas por números e movimentos recentes. Embora não revele o investimento projetado nessa expansão, a empresa está com o caixa reforçado por um aporte de R$ 100 milhões da gestora TreeCorp, realizado em julho de 2020.
O mapa global da startup também já é considerável. Com forte atuação no e-commerce, a Zee.Dog vende suas coleiras, guias, peitorais, brinquedos e até as coleções de uma marca de roupas e acessórios criada para os donos de pets em 42 países. Entre eles, Estados Unidos, França e Espanha.
Em 2020, a empresa chegou à Rússia, México, Itália e outros seis mercados. Coordenada a partir do Brasil, a operação tem o apoio de escritórios na China, Espanha e Estados Unidos, onde mantém uma loja física, em Nova York, voltada à construção da marca, além de dois centros de distribuição, um em Los Angeles e outro na Carolina do Norte.
Hoje, com as entregas realizadas a partir dos CDs americanos, um cliente europeu leva, em média, de cinco a sete dias úteis para receber um produto da marca.
Com o centro na Holanda, a projeção é reduzir esse prazo para até dois dias e com o frete duas vezes mais barato. Outro projeto é o lançamento da loja virtual da marca para cada país da região, com idiomas e moedas locais.
Em 2020, a empresa chegou à Rússia, México, Itália e outros seis novos mercados no exterior
Para não ficar à mercê de intermediários e aumentar sua presença no atacado e nas principais redes off-line e sites de terceiros, a empresa também está abrindo sua própria distribuidora na Europa, com sede na Holanda.
“Estamos fazendo como a Havaianas, ‘localizando’ nossa estratégia global e iniciando uma fase mais agressiva na expansão”, afirma Diz. “A ideia é levar esse modelo mundo afora”, acrescenta, citando Austrália e Japão como alguns dos mercados-alvo no futuro.
Para Eduardo Yamashita, COO da consultoria Gouvêa Ecosystem, a estratégia da Zee.Dog tem bastante potencial. “Eles criaram uma referência no mercado de acessórios pet, que tem poucas marcas reconhecidas de fato, especialmente na Ásia e na Europa”, diz. “E estão conseguindo implantar uma estratégia que mescla canais próprios e de terceiros. Poucas empresas no setor fazem isso.”
Além dos acessórios
Em 2020, os negócios no exterior responderam por quase 50% da receita de R$ 125 milhões da empresa, que projeta um resultado de R$ 250 milhões, nesse ano, e entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões, em 2022. “Essa participação deve chegar a 60% já no ano que vem”, diz o CEO.
Para isso, a Zee.Dog tem o desafio de “morder” uma fatia maior de um mercado global que movimentou US$ 138,2 bilhões em 2020, segundo a Euromonitor, dos quais, US$ 28,6 bilhões vieram do e-commerce.
O foco global não significa que a empresa está a passeio no mercado brasileiro, que movimentou cerca de R$ 40 bilhões em 2020, alta de 13%, segundo o Instituto Pet Brasil.
O País é o celeiro da estratégia da Zee.Dog para criar um ecossistema e se consolidar como uma “PetTech”. Nesse contexto, a empresa começa a ir além da marca própria de acessórios com a entrada em outras categorias e a criação de serviços que incluem produtos de outras companhias do setor.
Lançado em meados de 2019, o Zee.Now é o maior exemplo desse olhar mais amplo. Trata-se de um aplicativo de delivery de produtos pet do grupo e também de terceiros. Com frete gratuito, o serviço cobre boa parte das categorias do setor, como alimentação, higiene e farmácia.
O app saltou de uma receita de R$ 3 milhões, em 2019, para R$ 28 milhões, em 2020, e já está disponível em São Paulo, Rio de Janeiro e outras oito cidades. “Em 2021, vamos abrir, no mínimo, uma cidade por mês”, conta Diz. Os próximos pontos são Porto Alegre (RS), Vitória (ES) e Fortaleza (CE).
Na expansão com as próprias pernas, concentrada nas capitais, a Zee.Dog seguirá investindo no formato de dark stores, ou, como prefere chamar, dog stores. Mas, para acelerar essa cobertura, passará a testar o modelo de franquias, já usado em sua rede de 30 lojas físicas no País.
Com o apoio de sistemas desenvolvidos pela própria companhia, as franquias serão usadas para desbravar as cidades de menor porte. Questões como o investimento inicial, as taxas de retorno dos franqueados e o take rate da Zee.Dog ainda estão sendo costuradas.
A partir dessa lógica, a empresa quer abocanhar as receitas que hoje estão nas mãos do varejo físico. E, em sua maioria, dos pequenos comerciantes, que representam mais da metade dos volumes do setor.
“Nossa ideia não é competir com redes como Petz, Cobasi ou PetLove”, explica. “Estamos olhando para os 51% restantes como nossos concorrentes e, ao mesmo tempo, possíveis franqueados”, afirma, acrescentando que o plano é levar o app, no médio prazo, a outros países.
Em 2020, a Zee.Dog apurou uma receita de R$ 125 milhões, com participação de quase 50% dos negócios no exterior
Enquanto isso não acontece, a Zee.Dog tem outro projeto no forno para ampliar seu mercado de atuação. A empresa prepara o lançamento, em agosto, da linha Kitchen, de comida natural para pets.
Para colocar a oferta de pé, a startup está negociando a aquisição de uma companhia brasileira que atua nesse segmento “Estamos comprando a estrutura de fabricação, tempo e conhecimento”, diz. “Vamos plugar a linha na nossa malha, que tem mais de 20 mil lojas offline, além dos nossos próprios canais.”
O Zee.Now, a entrada em alimentação e outras ofertas que estão sendo criadas dentro dessa plataforma vão ao encontro de dois componentes chave para o negócio. “O grande xis da questão para a empresa é ampliar a recorrência e o share of wallet”, ressalta Yamashita, da Gouvêa. “Não adianta criar toda essa estrutura e deixar alimentação, que é 63% do mercado pet, de fora.”
Concorrência
No exterior, a Zee.Dog tenta se destacar perante a concorrência, o que, por si só já é um grande desafio para qualquer marca brasileira. Já no Brasil, apesar de Diz ressaltar o foco na competição com os pequenos pet shops, a empresa começa a avançar também no terreno dos players de maior porte: Petz, Cobasi e PetLove, que também estão se movimentando. No fim do dia, todos estão disputando a atenção e as compras dos donos dos pets.
A Petz, por exemplo, captou R$ 336,7 milhões em seu IPO, em setembro de 2020. E está ampliando seu portfólio com vendas multicanal, serviços e marcas próprias, entre outros esforços. Já a PetLove vem se aproximado de pet shops offline de menor porte e investido em aquisições.
Turbinada por dois aportes que somaram R$ 375 milhões, liderados pelos fundos Softbank e L.Catterton, a PetLove anunciou, em outubro passado, a fusão com a DogHero, startup que oferece serviços como dog sitter e hospedagem.
Além do investimento recente de R$ 100 milhões, a Zee.Dog havia captado R$ 5 milhões em um aporte seed, em 2012. Quatro anos antes, quando ainda moravam nos Estados Unidos, Felipe Diz e o irmão Thadeu identificaram uma oportunidade de empreender quando adotaram um cachorro.
Ao buscar coleiras, guias e outros produtos para o novo, mas já fiel escudeiro Zeca, a dupla notou que os acessórios tinham poucas variações e nenhum diferencial. E, ali, começaram a elaborar um projeto para criar uma marca de referência e levar o conceito de lifestyle ao setor.
Em 2012, já de volta ao Brasil e com o reforço do amigo de infância Rodrigo Monteiro, nascia a Zee.Dog. Pouco a pouco, a empresa foi ampliando sua linha com categorias, coleções, modelos e cores diferenciados, a partir dos produtos criados, atualmente, no Zee.Lab, sua unidade na Espanha.
Nos moldes da Nike, uma de suas referências, enquanto se concentra no design e na construção da marca, os produtos são fabricados sob encomenda, por mais de 20 parceiros cadastrados na China. A exceção é a marca Human, voltada aos donos dos pets, produzida no Brasil também por terceiros.
“Eles sempre foram ousados” diz João Zecchin, fundador da gestora Fuse Capital. Ele conheceu a Zee.Dog quando era sócio da DXA, primeira investidora da startup, que já não é mais acionista da operação. “E têm um DNA de buscar grandes oportunidades que muitos não percebem.”
Em linha com essa visão, Diz ressalta que, desde o início, o plano era criar um negócio global. “Nós fomos construindo diversas coisas em paralelo, que agora se juntam”, afirma. “Vamos amadurecer essas alavancas e elas serão a gasolina na fogueira para a Zee.Dog nos próximos anos.”
Fonte: Neofeed