Quando a Zaitt, startup brasileira de tecnologia voltada ao varejo, surgiu em São Paulo abrindo lojas sem caixas em 2019, consumidores em redes sociais passaram a associa-la à rede americana Amazon Go, e seus supermercados que não parecem supermercados. Nesse modelo, a compra ocorre sem qualquer contato com funcionários, e o pagamento é todo feito virtualmente, tanto aqui como lá.
Em bairros de alta renda, filas se formaram nas portas das primeiras unidades da Zaitt, no frenesi de testar a experiência.
Menos de dois anos depois de entrar em São Paulo, a Zaitt revê parte de seu modelo. A empresa começa a abrir franquias da marca no país, para depender menos de unidades próprias e, com isso ganhar escala. Hoje há sete unidades em funcionamento e a intenção é encerrar o ano com 35. Nas lojas existentes e nas novas, a empresa decidiu interromper o uso do sistema de reconhecimento facial na hora da compra, um dos atrativos na sua estreia na capital paulista.
“Em todas as nossas sete lojas estamos usando apenas o ‘Scan&Go’, Chegamos a essa conclusão por meio de testes e entendemos que [o escaneamento de preços] entrega a melhor experiência ao consumidor”, disse Rodrigo Miranda, CEO da Zaitt.
Para consultores que já estiveram nas lojas da rede, a adaptação torna mais simples a reprodução do modelo pelo país.
O Valor apurou que a empresa identificou mais “atritos” na interação do cliente com o sistema de reconhecimento facial do que com o método de escaneamento pelo celular. Quando o processo de compra não é tão fluido, acaba ficando mais lento, o oposto do que as redes buscam com a tecnologia. Na loja de aplicativos do Google, a nota da Zaitt é 2,8 (escala de 0 a 5), de um total de 197 avaliações.
Para fazer a compra com o sistema de escaneamento, o cliente faz um cadastro inicial no aplicativo da rede. Ao chegar na loja, a porta é aberta quando o consumidor escaneia o QR Code que fica na entrada usando seu celular. Já na área interna, no momento da compra, ele escaneia o código do produto que deseja levar localizado numa etiqueta eletrônica. Ao final, confirma a compra e deixa a loja – o pagamento é feito por meio do aplicativo.
Já no sistema de reconhecimento facial, o cliente era identificado por meio de uma pequena câmera perto das portas. Na loja, ao retirar um produto da gôndola, o item era reconhecido por sensores de radiofrequência instalados pela loja, e a compra incluída no carrinho virtual do aplicativo. Sensores próximos à saída identificavam novamente o consumidor, que tinha sua saída liberada de forma automática, ao se aproximar da porta. O valor da compra era debitado diretamente do cartão registrado no “app”.
O controlador da Zaitt é a Sapore, empresa de refeições coletivas que adquiriu a operação em 2020. O Carrefour, parceiro da Zaitt em 2019, não tem mais acordo com a rede. A Zaitt não informa faturamento, mas confirma que ainda opera no vermelho.
Hoje, o Carrefour tem 39 lojas da rede Express com o Scan&Go – o teste começou em 2018. O GPA iniciou um piloto em 2019 e usa o sistema desde 2020 em unidades da cadeia Minuto Pão de Açúcar.
Segundo um consultor dessas grandes redes, os sistemas de implementação no Brasil vêm barateando, mas ainda são caros. “A loja tem que ter radiofrequência etiquetada em cada produto. Hoje isso não é escalável“, diz.
A Zaitt pretende chegar a 35 pontos no fim do ano com uma expansão por franquias, que exigem investimentos de R$ 180 mil a R$ 250 mil. A projeção de faturamento mensal da franquia é de R$ 50 mil a R$ 70 mil. Há quatro grupos de investidores em conversas com a rede para avançar nas aberturas.
No Brasil, franquias de supermercados não são comuns – entre as grandes cadeias, só a rede Dia opera com esse modelo. Na Zaitt, a avaliação do formato começou em 2018, mas a empresa preferiu abrir lojas próprias antes de buscar franqueados. Em 2020, quando iniciaria o projeto de expansão, veio a pandemia e o plano parou.
“Com as franquias iremos acelerar a expansão geográfica sem precisar de investimentos constantes que as lojas próprias exigem”, diz Mirada.
Uma primeira franquia, em São José do Rio Preto (SP), foi aberta em dezembro. Das sete unidades da Zaitt, três são franquias e quatro próprias. A taxa de royalties é de 5%. Juros baixos e mais empreendedores buscando opções de investimento podem atrair interessados no projeto, diz a rede.
É o franqueado que abastece a loja com produtos, pois não há fornecimento direto pela Zaitt. Sem compra unificada, o poder de barganha diminui e os preços tendem a ser mais altos do que de redes com maior escala. Sobre isso, a Zaitt diz que dá um “direcionamento de preços” aos lojistas.
“Já falamos com Atacadão e Assaí para uma parceria estratégica na compra conjunta de produtos. Eles têm centrais de compra, e isso geraria uma escala e um ganho para nós, mas ainda não fechamos nada”, diz o CEO.
A questão do posicionamento da rede no mercado é ponto crucial na análise pelos franqueados. A Zaitt opera num misto de loja de conveniência e de vizinhança, dois segmentos afetados pelo aumento da competição dos “apps” de entrega. Hoje o cliente faz a compra on-line e recebe os produtos em algumas horas. Para especialistas, o avanço desses “apps” acirrou a concorrência na área explorada pelos minimercados.
Sobre essa questão, Miranda entende que essa mistura de modelos da Zaitt é “sinal de flexibilidade” e diz que a rede já está integrada com sua plataforma própria de entregas, da empresa Shipp, também controlada pela Sapore. A Zatti permite ainda compras pela Rappi.
Fonte: Valor Econômico