O Walmart no Brasil demitiu executivos do alto escalão, cerca de dois anos após a última redução maior de cargos no grupo. Nesta segunda-feira (9/1), deixaram a companhia Ricardo Garcia, vice-presidente comercial de perecíveis, e Sérgio Nóia, vice-presidente comercial responsável por alimentos, higiene, limpeza e marcas próprias, segundo apuração do jornal Valor. São mudanças que acontecem num período em que a empresa reduz despesas e revê o seu modelo de hipermercados no País.
Há seis meses, a vice-presidente de marketing, Adriana Muratore, também foi demitida. A empresa confirmou ontem a saída dos executivos. Garcia e Nóia são considerados executivos experientes. Nóia foi diretor do Carrefour e diretor presidente do Lopes Supermercados. Garcia foi diretor do Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e Makro. Segundo fontes, discordâncias em relação à estratégia atual do grupo teria levado ao afastamento dos executivos.
O Walmart tem buscado reverter resultados negativos de algumas bandeiras, especialmente do seu hipermercado Walmart, por meio das reformas de lojas e da política comercial “preço baixo todo dia”. Segundo apurou o Valor, a matriz nos EUA teria dado prazo para o comando estancar as perdas operacionais com hipermercados no Brasil no prazo de três anos, a partir da última mudança na presidência, em 2016, com a entrada de Flavio Cotini no cargo.
Segundo fonte a par do assunto, a subsidiária precisa “estabilizar” a operação até 2019 – atualmente, há trimestres consecutivos com queda no lucro e outros com leve aumento. No negócio de hipermercados, a operação tem tido trimestres com prejuízo operacional nos últimos anos. Se a empresa não conseguir sair dessa situação, o grupo pode analisar a saída do Brasil, diz a mesma fonte.
Essa decisão pode envolver a venda da operação local em “fatias”, de acordo com a região de atuação, apurou o Valor. O Walmart tem lojas no Sul, no Sudeste e no Nordeste do País. Essa discussão acontece no alto escalão da matriz nos EUA, apurou o Valor. O Walmart entrou no País em 1995. Em entrevista à Reuters há um ano, o presidente do Walmart International, David Cheesewright, disse que a companhia não tinha, na época, planos de deixar o Brasil.
Procurada pelo Valor, a empresa informou em nota que “reforça o seu compromisso e projetos de longo prazo para o Brasil”, e ressalta que está “alinhada com a missão de vender por menos para as pessoas viverem melhor”. “No momento, estamos focados no nosso projeto de reinvenção do hipermercado. Uma iniciativa do Walmart Brasil, de investimento local, e que tem o apoio da nossa matriz […] A reinvenção do hipermercado faz parte de uma série de iniciativas para melhorar a experiência de compras nas lojas e simplificar processos na operação”. diz. “As mudanças envolvem busca de sinergias entre áreas. Como resultado de todas as ações em andamento, a companhia estará mais bem preparada para crescer de forma sustentável no Brasil ao longo dos próximos anos”.
Cotini está no comando da subsidiária há cerca de um ano, com projeto de reestruturação dos 130 hipermercados, orçado em R$ 1 bilhão, a terminar em 2019. Segundo apurou o Valor, além das 60 lojas que a rede fechou na virada de 2015 para 2016, com resultados abaixo do esperado, ainda existe uma lista com outras 40 lojas deficitárias, que podem ser fechadas no futuro. A empresa não tomou ainda essa decisão.
Sobre o fechamento das unidades, o grupo diz que está revisando o portfólio constantemente “e tomando decisões baseadas no que é melhor para o negócio e para os nossos clientes”.
O grupo no Brasil tem 485 pontos de venda, entre hipermercados Walmart, Big, Bompreço e Todo Dia, supermercados Todo Dia, Mercadorama, Nacional e Bompreço, lojas de atacado Maxxi e o clube de compras Sam’s Club.
A recessão no País, que já acumula dois anos de duração, reduziu drasticamente o consumo e afeta os resultados das varejistas. Mas as dificuldades enfrentadas pelo grupo americano vêm de mais tempo e envolvem questões estruturais – do formato da operação à aquisição de lojas que não tiveram bom desempenho.
Com a reestruturação dos hipermercados, o objetivo era fechar o ano de 2016 com crescimento nominal nas vendas, após dois anos em queda. As vendas de 2016 ainda não foram divulgadas. Para analistas, mesmo com a recessão, há outras redes em melhor situação. O Carrefour cresce acima de 12% por trimestre (incluindo o Atacadão). A operação alimentar do GPA cresceu 11% até setembro (incluindo Assaí).
As vendas líquidas do Walmart, por sua vez, caíram 0,4% no terceiro trimestre de 2015 e cresceram 1,2% no último trimestre daquele ano. Em 2016, houve alta de 1,4% de janeiro a março, queda de 0,4% de abril a junho e alta de 3,1% no terceiro trimestre de 2016.
Fonte: Valor Econômico