Por Marcos de Moura e Souza | Maior rede joalheira do Brasil, a Vivara acaba de mudar de endereço para atender a um novo consumidor de suas joias. A empresa inaugurou em julho uma fábrica mais ampla em Manaus. A planta tem capacidade de produção três vezes maior do que a anterior, que funcionava havia duas décadas também na zona franca. Foi um investimento de aproximadamente R$ 25 milhões. O plano é dar conta do que está se mostrando uma aposta certeira da companhia: o segmento de peças mais baratas do que as que fazem parte do portfólio tradicional da Vivara.
A nova fábrica ficou pronta em um momento de resultados positivos. A empresa fechou o segundo trimestre com um lucro 23% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, atingindo R$ 390,1 milhões. E faturamento de R$ 702,1 milhões, alta de 19,5%. O Ebitda ajustado foi de R$ 132,4 milhões, com uma margem ajustada de 23,6%.
Os resultados foram divulgados ontem. E se devem em parte ao desempenho desse segmento de peças mais em conta.
Em 2019, quando a Vivara lançou ações em bolsa (IPO), a Life – o nome dessa segunda marca que está empolgando os executivos da companhia – tinha duas lojas. Hoje são 84 e antes do fim do ano serão 100.
A marca começou em 2011 como uma linha da Vivara, mas acabou evoluindo. É uma categoria com peças de prata (e não ouro), com cristais, pedras de cor e a sintética zircônia (nada de diamantes, turmalinas paraíba ou outras gemas valiosas). As peças da marca têm tíquete médio de R$ 500 ante R$ 1.000 e R$ 1.200 das joias da Vivara.
Com esse produto na praça, a Vivara diz que encontrou um público que não necessariamente sai de casa disposto a comprar uma joia.
Investimos alto para triplicar o tamanho da planta em Manaus”
“A gente vem trabalhando muito essas peças como artigos presenteáveis”, disse ontem ao Valor, o CEO da Vivara, Paulo Kruglensky. “Na Life, o nosso concorrente não é só a joalheria mas é o chocolate, é o perfume é sapato. Então, a ideia é ser relevante para esse cliente no momento em que ele está escolhendo um presente. É um mercado que é muito maior do que o mercado da joalheria.”
O CFO da Vivara, Otavio Lyra, acrescenta que a Life representa hoje 34,8% do negócio da empresa. Mas com um detalhe: representa quase 80% do volume de peças produzidas. A companhia produz atualmente cerca de 3 milhões de peças por ano de suas marcas.
“Na medida que a Life cresce, traz um desafio para fábrica superinteressante em termos de volume. Daí a razão de a gente precisar investir [na nova planta], dado todo esse futuro de crescimento para a Life dentro do nosso negócio”, diz Lyra.
As peças mais em conta carregam consigo outra vantagem, dizem os executivos, além do fato de atingirem um público maior do que o público convencional da joalheria. A margem de ganho é maior porque a matéria-prima é mais barata do que as peças que levam ouro, diamantes.
Otavio Lyra diz que o lucro bruto da companhia no segundo trimestre totalizou R$ 390,1 milhões (alta de 23% em relação ao mesmo período do ano anterior), efeito, segundo ele, da gestão de custos, mas também do ganho de margem da Life no negócio.
A nova fábrica foi erguida ainda com dinheiro do caixa feito em 2019 com o IPO.
“Fizemos um investimento alto para triplicar o tamanho da planta, a gente foi para uma planta de 10 mil metros quadrados e estamos com mais de 800 funcionários em Manaus”, disse Kruglensky. A mudança ocorreu no fim de julho. “A gente vinha crescendo o número de funcionários nos últimos três anos, quase que dobrando a cada ano. Mas o importante é que esta planta atual comporta triplicar a produção e consegue suprir as nossas necessidades pelos próximos anos.”
A Vivara se apresenta como maior rede de joalherias da América Latina. Com 252 lojas, mais 84 lojas da Life e 21 quiosques em shoppings com vendas de suas marcas e também da marca Tommy. A empresa também se apresenta como dona de uma fatia de 18% do mercado brasileiro. Seus concorrentes nacionais, HStern, Sauer, Antonio Bernardo, Manoel Bernardes têm fatias menores no país. A Vivara é a única do setor a divulgar resultados.
Os números do segundo trimestre refletem, em parte, a sazonalidade típica do varejo e que vale também para as joalherias. São duas datas-chave: Dia das Mães e Dia dos Namorados.
O CEO da Vivara volta a chamar atenção para sua segunda marca. “Um primeiro ponto que explica a nossa performance neste trimestre: a Life vem superando as expectativas”. Ele continua: “A gente vem performando 20% acima do planejado. Loja Life que a gente estimava vender cerca de R$ 5 milhões por ano está vendendo R$ 6 milhões e as vendas nesse período sazonal de Dia das Mães e Dia dos Namorados foram muito boas.”
A empresa se diz blindada contra um problema que volta e meia assombra o setor joalheiro: a origem do ouro. O Brasil tem um histórico de controles bastante precários sobre a cadeia do ouro, especialmente daquele extraído em garimpos na Amazônia. Uma produção que durante muito tempo acabou se misturando à produção de garimpos legalizados para, por fim, se tornar matéria-prima para barras de ouro ou anéis, colares e brincos. Algumas regras foram revistas este ano. A Vivara afirma que o contrato que mantém com a mineradora Anglo Gold Ashanti, com operações em Minas Gerais, confere segurança à procedência de suas matéria-prima. “Esse é um diferencial competitivo da Vivara e um posicionamento da marca”, diz Kruglenskye “E é um pilar da minha gestão.”
Fonte: Valor Econômico