A Via Varejo inaugura nesta quarta-feira, 3, seu primeiro centro de distribuição (CD) na região Norte do País. Localizado em Marituba, região metropolitana de Belém (PA), esse é o 27º CD da companhia. O centro logístico deve ser seguido de aberturas de lojas para dar seguimento à estratégia multicanal do e-commerce da companhia. Em 16 mil metros quadrados e 53 docas (locais de carga e descarga) serão empregadas, a princípio, 140 pessoas diretamente e mais 60 terceirizados nas funções de manutenção e limpeza. O local ainda tem possibilidades de expansão.
“Negociamos este local em outubro no ano passado. No início, a pandemia atrasou um pouco os planos. Depois do ‘follow on’ (quando a empresa ofertou mais ações na Bolsa e fortaleceu seu caixa) aceleramos novamente”, diz Fernando Gasparini, diretor executivo de logística da Via Varejo, em entrevista exclusiva ao Broadcast. Animado para a inauguração, ele mostrava à reportagem pela câmera do celular as primeiras geladeiras e fogões chegando ao galpão nesta terça-feira. “Hoje mesmo o meu celular me lembrou de quando vim para cá ano passado”, contava o executivo.
A animação não é à toa, a Via Varejo diz desde a divulgação de resultados do segundo trimestre deste ano que planejava expandir as operações para a região. O Norte do País, porém, traz desafios logísticos complexos. No entanto, a baixa penetração de comércio eletrônico na localidade faz crescer um senso de oportunidade entre as empresas do ramo. Além disso, players puramente digital têm mais dificuldade de avançar na região.
“Com estoque mais próximo nessa região, tempo de entrega e custos caem, assim a operação fica mais rentável. Nessas regiões mais distantes a omnicanalidade (entregas que podem vir tanto de um CD quando da rede de lojas) faz muito mais diferença”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). Ele explica que em locais até cerca de mil quilômetros de distância das regiões de São Paulo e Rio de Janeiro, fazer entregas diretamente de centros de distribuição ainda é possível. Já para localidades mais distantes, a capilaridade da rede de lojas é fundamental.
Assim, Terra avalia que o passo da companhia com o novo CD é importante e faz sentido com a estratégia logística multicanal do grupo, mas deve ser acompanhado de forte abertura de lojas para ter sucesso, a exemplo do que fez a concorrente Magazine Luiza quando chegou à região no ano passado. Foram 19 lojas abertas no estado do Pará, chegando a cerca de 50 nos meses seguintes. A escolha do Pará, aliás, tem uma curiosidade estratégica para a Via Varejo na venda de eletrodomésticos. O estado é um dos únicos da região que utiliza voltagem 110v.
Para Eduardo Yamashita, diretor de operações da GS & Gouvêa de Souza, a empreitada traz desafios, já que a região Norte é carente de infraestrutura. Ele diz que faz sentido que redes com apelo de multicanalidade como a Via Varejo e o Magazine Luiza tomem a frente nessa localidade, justamente por essa particularidade estrutural. “É uma questão de estratégia, algumas redes vão buscar disputar mais mercado onde há mais concentração, outras buscam um mercado com mais potencial de crescimento”, explica.
Mas para o diretor da Via Varejo, Gasparini, a competição na região é, sim, um ponto a se levar a sério. “A concorrência local existe. E há outra rede a caminho. Não estamos vindo para ter menos concorrentes”, afirma. Segundo apurou o Broadcast, o estado do Pará, sem a presença física das Casas Bahia, tem hoje em um mês o número de pedidos equivalentes a um dia da operação na Grande São Paulo. Esses clientes eram atendidos por centros de distribuição mais próximos e, alguns produtos, chegavam a viajar de São Paulo e do Rio de Janeiro para lá.
A Via Varejo, que está em período de silêncio, não abriu o valor do investimento no CD em questão. Mas Gasparini garante que o valor foi significativo e que a expansão pelo Norte e o Nordeste não devem parar por aí. O próximo CD a ser inaugurado será no Estado da Bahia, onde a rede já opera. Sobre os planos de aberturas de lojas na região Norte, Gasparini se limita a dizer que eles existem, mas diz não poder dar mais detalhes.
Fonte: Estadão