Com usinas solares e economia circular, varejista define três pilares para suas ações de sustentabilidade nos próximos cinco anos
Criada da fusão entre Casas Bahia e Ponto Frio, em 2012, a Via Varejo sempre esteve entre as principais varejistas do país. A companhia possui operações logísticas em 20 estados e conta com cerca de 85 milhões de clientes que compram em suas lojas físicas e online todos os dias. Apesar de serem empresas tradicionais – o Ponto Frio surgiu em 1946, enquanto a Casas Bahia foi criada em 1952 -, o grupo demonstrou, ao longo do tempo, ter se adaptado às principais mudanças impostas ao seu modelo de negócio.
A mais recente transformação está na adoção de práticas empresariais que levam em consideração critérios de sustentabilidade – ambiental, social e de governança, ou ESG, na sigla em inglês – e vem atraindo cada vez mais a atenção – e os recursos – da gigante varejista.
A disposição em assumir responsabilidades com a sociedade é uma tendência entre os acionistas (shareholders) de diversos negócios. De acordo com dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), só em 2020 os fundos de ações baseados em sustentabilidade e governança acumularam mais de R$ 543 milhões no Brasil.
O diretor de sustentabilidade da Via Varejo, Hélio Muniz, explica que o ESG tem ocupado um grande espaço nas diretrizes de sua gestão. “Nós temos um papel importante a desempenhar, temos compromissos com a sociedade e com a natureza. Passamos a incorporar essas responsabilidades na nossa estratégia de transformação”, conta.
Segundo o executivo, as mudanças administrativas começaram em 2019, quando a companhia se integrou à Bolsa de Valores de São Paulo (B3) com a proposta de expandir o negócio e modernizá-lo. “Entendemos que investir em inovação e na conquista de mercados visando apenas o lucro não é viável sem uma preocupação com o produto do nosso trabalho. Por isso, a nova gestão passou a inserir os critérios ESG nos planos de negócio”, explica Muniz.
Para se consolidar como referência no tema, a rede varejista definiu suas ações de sustentabilidade para os próximos cinco anos em três pilares. O primeiro consiste em reduzir a emissão de CO2 em suas operações logísticas. O segundo passa pelo uso de energias renováveis, de modo que todas as necessidades da empresa sejam supridas por fontes limpas e com impactos mínimos na natureza. Por fim, o terceiro pilar é o que pretende adotar a economia circular, ou seja, ajudar a dar um destino apropriado a tudo aquilo que vende. “Hoje, já fazemos isso com eletroeletrônicos pequenos e embalagens com o apoio de coletores nas lojas. Mas queremos ampliar essa prática para os grandes eletrodomésticos e tudo que vendemos, para evitar que terminem em lixões ou no meio ambiente”, afirma Muniz.
VEÍCULOS ELÉTRICOS, ENERGIA SOLAR E LOGÍSTICA REVERSA
A Via Varejo conta com três estratégias para reduzir suas emissões de CO2. Por meio de uma parceria com a Asap Log, startup de logística, as entregas de produtos são realizadas por carros, motos e bicicletas, evitando o uso massivo de caminhões. A companhia também recorre ao transporte de mercadorias por navios entre as regiões sul e nordeste para atenuar a poluição nas estradas. E, de acordo com Muniz, existe um investimento atualmente nos caminhões elétricos, de forma a aumentar a contribuição de tecnologias avançadas na cadeia de produção e mitigar a dependência de veículos movidos a combustão.
A Via Varejo também está apostando na energia limpa em suas operações de lojas. A empresa conta com uma usina solar em Minas Gerais que abastece mais de 70 estabelecimentos no estado. Além de tornar suas atividades cada vez mais dependentes de fontes renováveis, a varejista implementou um programa de consumo consciente de energia elétrica em seus centros de distribuição e mantém uma iniciativa em parceria com a ENEL para gestão da energia. “Temos 1.027 lojas, 29 centros de distribuição, fábricas e escritórios. Para melhorar nossa relação com o meio ambiente, devemos fazer o gerenciamento eficiente da energia que consumimos, saber realmente de quanto precisamos e como reduzir o uso. A nossa meta é operar sempre com energia solar fotovoltaica, usando os parques solares”, diz o executivo.
Em 2019, a companhia concluiu a contratação de duas usinas solares para o Rio de Janeiro, que serão responsáveis por atender 57 filiais no estado. O início das operações está previsto para o primeiro trimestre deste ano, e a meta é estender os benefícios socioeconômicos para além do ambiente corporativo. Por meio de uma parceria com a ONG Revolusolar, serão implantadas pequenas fontes de energia nas moradias de comunidades cariocas. “No Morro dos Macacos, por exemplo, cerca de 40 famílias têm acesso à energia solar e a programas de educação ambiental graças a esse projeto. Nós também queremos fortalecer essa parceria para expandir nossos projetos a outras comunidades no Brasil.”
Segundo o diretor de sustentabilidade, a Via Varejo registrou um aumento de 50% nos investimentos destinados à sustentabilidade entre 2019 e 2020. E o objetivo é que, até 2025, 80% de toda a energia consumida em suas atividades seja oriunda de fontes renováveis.
O outro pilar do planejamento de sustentabilidade da rede varejista – o controle de resíduos sólidos urbanos – vem sendo contemplado pelo programa de logística reversa Reviva, que direciona resquícios de produtos vendidos, como papéis, isopores e plásticos, para usinas de reciclagem. Já para o descarte adequado de eletroeletrônicos, a empresa conta com a parceria da GreenEletron, que recebe celulares, computadores, baterias, fones de ouvido e muitos outros dispositivos coletados nas lojas.
Segundo a companhia, os centros de reciclagem funcionam com o apoio de cerca de 300 famílias pertencentes a cooperativas. Além de evitar o descarte irregular, a reciclagem e reutilização desses materiais contribui para a geração de renda. “Apenas no ano passado, foram mais de 400 toneladas de resíduos e materiais das lojas que foram direcionados aos centros de distribuição. Assim, contribuímos para a renda dessas famílias e retiramos materiais usados do meio ambiente.”
O braço social da Via Varejo, a Fundação Casas Bahia, coloca em prática diversos programas voltados à educação, sustentabilidade e empreendedorismo. Entre eles, está a parceria com a ONG Junior Achievement, que se dedica a capacitar jovens estudantes de baixa renda no Rio de Janeiro. Ação semelhante ocorre em São Paulo, por meio da parceria com o Instituto PROA. Em abril de 2020, a Fundação Casas Bahia chamou a atenção do grande público ao bater recorde de arrecadações na live dos irmãos Sandy e Júnior, patrocinada pela Via Varejo. Com o valor recebido no evento, foram doadas 100 mil toneladas de alimentos a famílias carentes. No que diz respeito às ações de assistência e desenvolvimento social, a companhia informou um aumento de 70% nos investimentos destinados a estes fins de 2019 a 2020.
Ao refletir as transformações provocadas por uma gestão focada nos critérios de ESG, Hélio Muniz defende a ideia de que as empresas devem assumir o protagonismo no enfrentamento das desigualdades e das catástrofes climáticas. Mas ressalta que, sozinhas, elas não alcançarão grandes resultados. “As empresas precisam reduzir os danos ambientais de suas ações e patrocinar programas de educação e distribuição de renda. Mas é fundamental que as empresas trabalhem em conjunto com os cidadãos para encontrar soluções, já que é impossível para o poder público resolver tantos problemas sozinho.”
O executivo acredita que a maior lição aprendida pela companhia foi o reconhecimento de que toda pessoa jurídica, assim como todas as pessoas físicas, têm um papel importante no mundo em que vivem. E, a partir disso, devem decidir como viver no planeta, seja para o bem ou para o mal. “A Via Varejo está decidida a fazer a diferença e funcionar para o bem, contribuindo para a evolução da sociedade.”
Fonte: Forbes