No quarto trimestre, varejista passará a oferecer serviços de coleta, armazenagem e entrega de produtos como uma plataforma aberta
Por Adriana Mattos
Formada pelas operações de Casas Bahia e Ponto (ex-Ponto Frio), a Via deve lançar no quarto trimestre um pacote de logística para vendedores on-line. A companhia vai oferecer seus serviços de coleta, armazenagem e entrega de mercadorias, que constituem o “fulfillment”, como uma plataforma aberta. Lojistas que vendem em plataformas rivais, assim como os próprios “marketplaces” concorrentes, poderão usar os serviços da Via, que passará a explorar a atividade como um negócio autônomo.
Um novo centro de distribuição, em Extrema (MG), será aberto em outubro para atender os vendedores, dentro do modelo “built to suit”, construído para locação pela Via. O centro começa neste ano a armazenar itens mais pesados, como refrigeradores e fogões. Há um centro de Jundiaí (SP) já voltado para o “marketplace”.
“Queremos ser o ‘hub’ de logística das empresas. São 27 centros de distribuição no país, temos estrutura já montada para isso. Um dos nossos fortes é a logística de pesados, e vamos oferecer isso ao ‘seller’ e a outras companhias. [Essa distribuição] no país é cara e escassa e nós temos como atender”, diz Fernado Gasparini, diretor-executivo de logística.
O movimento abre dois caminhos principais. Lojistas podem vender em qualquer site ou “app” e fechar acordos diretamente com a Via para o “fulfillment”. Neste caso, o vendedor pode deixar os produtos estocados nas centrais, e pela gestão da entrega, a Via recebe percentual sobre a venda. Segundo dados do site da rede, a taxa cobrada hoje no “marketplaces” varia de 13,5% a 16%, mas a empresa tem aplicado isenções temporárias para atrair vendedores. A Via não informa as taxas no fulfillment.
Outro caminho que está sendo desenvolvido é o “marketplace” de qualquer empresa, como uma varejista rival, incluir, na hora de cotar a entrega, a opção de distribuição de itens pesados pela Via. Em outras cadeias, a Americanas faz entrega de itens maiores (acima de 30 kg) para os seus vendedores e também oferece o serviço a “marketplaces”, diz a empresa. O Magazine Luiza informa que a GFL, empresa do grupo na área, atende outras varejistas no envio de produtos pesados.
“Pouca gente faz esse serviço de envio de pesados porque ele é complexo e caro se não tiver um grande volume de entrega e uma rede logística ampla. A Via pode estar vendo essa guerra dos ‘marketplaces’ e buscando criar um negócio paralelo onde sabe que navega melhor. E pode ainda reduzir eventual ociosidade de sua estrutura”, diz Roberto Wajnsztok, CEO da Origin Consultoria.
Em relação aos acordos para oferecer o “fulfillment” a lojistas e outros “marketplaces”, Roberto Fulcherberguer, CEO da Via, chegou a comentar o assunto num evento da rede com analistas e investidores, há dois meses.
“O seller [vendedor] não vai operar com todos os ‘marketplaces’ do país, porque isso implica em aumento de custos. Mas vai precisar de logística, especialmente do [item] pesado. De quebra, [A Via] pode até ajudar a concorrência. Mas não vemos isso como um problema. Logística é um business para nós”, disse.
Na avaliação de Wajnsztok, da Origin Consultoria, “o ganho que a Via gera a outro ‘marketplace’ ao prestar o serviço é menor do que o benefício que ela cria para si, ao trazer esse ‘seller’ de outro ‘marketplace’ para perto dela”.
A aceleração do “fulfillment”, porém, será em etapas. Neste momento, há negociações em andamento com varejistas de moda que podem usar a rede de distribuição da Via. Também estão no foco áreas como beleza, higiene e limpeza e ótica.
Como no quarto trimestre há “Black Friday” e Natal, datas de alto tráfego, a ideia é deixar a estrutura pronta e avançar com fechamento de contratos, mas “rodar” mesmo o modelo no começo de 2022.
A Via ainda estuda passar a operar, entre este ano e 2022, uma plataforma de logística de consumidores para consumidores, que fará o transporte de produtos entre pessoas físicas. Também mencionou a analistas, em abril, a expectativa de começar a vender em suas lojas físicas, da Casas Bahia e do Ponto, os produtos de terceiros do “marketplace”. Naquele momento, a estimativa era de que projeto piloto começasse em setembro.
Para que esse modelo de distribuição a muitos públicos funcione, a Via vem montando diferentes sistemas. Para atender, em grande parte, o lojista pequeno, lançou neste ano o sistema da Envvias, plataforma suportada pela ASAP Log, braço logístico do grupo. Nele o despacho é pelos Correios usando a tabela de frete da Via.
Para vendedores um pouco maiores, o grupo coleta os produtos na empresa e entrega usando a sua malha logística. Ainda há a opção de entrega das mercadorias em lojas da Via.
No caso das lojas, todas as 1,1 mil unidades da empresa estão aptas para operar como pontos de armazenagem de produtos vendidos pelo on-line, mas cerca de 500 estão mais ativas. Para Gasparini, nem sempre ter todas as lojas habilitadas faz sentido.
“A coleta dessas mercadorias, loja a loja, leva a transportadora a pegar cinco itens numa unidade, três produtos em outra. Fica mais complexo e caro. Nem sempre espalhar a rede faz sentido”, afirma. Atualmente, cerca de 40% das entregas da empresa ocorrem em até 24 horas. Há um ano, eram 17%. Como a empresa começou a explorar o “marketplace” depois que concorrentes, outras redes têm índices mais altos.
Na busca por mais lojistas num negócio de competição crescente, em abril a empresa passou a isentar, por três meses, novos vendedores da cobrança da principal taxa do “marketplace”, o “take rate”, pago pelo lojista sobre a venda.
A B2W ofereceu isenções por um período em 2020. Na Via, isso foi anunciado em fevereiro e duraria até maio, mas ainda está sendo aplicado, e vale para lojistas até limite de venda de R$ 50 mil por mês. No seu site, a Via diz que essa ação termina em dezembro. São cerca de 26 mil vendedores no site e “app” (último dado de março) e cerca de 50% usam o Envvias, sistema próprio de logística da Via.
Entre as projeções que a Via têm reforçado a investidores e analistas está atingir entre 70 mil a 90 mil lojistas em seu “marketplace” até o fim do ano – em março, relatou ter alcançado 26 mil. Além disso, ainda estima que o comércio eletrônico seja responsável por dois terços das vendas totais do grupo até 2025, ante 21% em 2019 e 43% em 2020.
Fonte: Valor Econômico