Setor só não avança mais por causa de desabastecimento provocado pela disparada dos casos de influenza somados a uma nova onda de covid-19
Por Adriana Mattos
As farmácias cresceram 17,05% em vendas de janeiro a julho em 2022 sobre o ano anterior, segundo dados da Abrafarma, entidade do setor com 26 redes associadas. Nos últimos 12 meses, a expansão está em 15,6%.
“Poderíamos até crescer mais se não fossem esses problemas de desabastecimento que ainda temos. Isso até melhorou, mas ainda estamos carregando uma ruptura acima do que consideramos normal”, disse Sergio Mena Barreto, presidente da associação, em evento anual do setor, que ocorre hoje, em São Paulo.
O desabastecimento começou a crescer na virada do ano, quando a disparada dos casos de influenza somados a uma nova onda de covid-19 fizeram acelerar a demanda nas drogarias, e a indústria (em período de férias coletivas) não conseguiu atender os pedidos. As fabricantes destinaram linhas de produção de outros medicamentos para os itens em falta (como antibióticos), o que afetou também as mercadorias que tiveram as linhas de produção alteradas, gerando efeito em cascata, disseram fontes próximas aos laboratórios na época.
Para consultores da área, o lockdown na China neste ano, a guerra no leste europeu e problemas de ineficiência da própria indústria afetaram a cadeia.
A Abrafarma não tem projeção de quando a ruptura nas lojas voltará aos níveis normais.
Barreto cita, por exemplo, um caso de um fornecedor de 6 mil itens que apresentou falta de mercadorias, em taxa acima da média (30%), em 130 dias dos 180 dias deste ano.
Apesar desses problemas, a entidade ainda projeta expansão na faixa de 17% neste ano, frente ao crescimento de 19% em 2021 — o melhor ano da década do segmento — portanto, trata-se de uma expansão em cima de base forte.
“Há uma percepção de cuidado maior com a saúde desde a pandemia, e isso vem crescendo entre aqueles com comorbidades. A preocupação com a saúde cresceu muito, e acreditamos que o setor ainda tem uma janela de dois anos de crescimento com base nessa atenção muito maior hoje”, disse ele. “Mas é uma janela com período de tempo porque isso tende depois a perder força”, disse Barreto, no Abrafarma Future Trends.
Embora anos de Copa do Mundo levem a um menor fluxo de clientes no varejo, o que afeta especialmente o setor de farmácias, a Abrafarma vê espaço para manutenção da demanda nesse patamar mais alto.
Para 2023, a Abrafarma deve focar os trabalhos para avançar as discussões em torno das consultas públicas 911/2020 e 912/2020 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A primeira dispõe sobre as boas práticas e prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias. Já a segunda trata dos requisitos técnicos para execução das atividades relacionadas aos testes de análises clínicas na prestação de serviços de apoio diagnóstico e terapêutico.
Fonte: Valor Econômico