Inflação de alimentos, fim do pagamento do auxílio emergencial e piora dos indicadores da pandemia afetam desempenho do comércio
Por Raphaela Ribas
Com o recrudescimento da pandemia, o fim do auxílio emergencial e a alta do preços nos alimentos, as vendas no varejo registraram queda de 0,2% em janeiro, na comparação com dezembro, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE.
O resultado veio ligeiramente abaixo da expectativa dos especialistas ouvidos pela Reuters, que previam queda de 0,3%. Em 12 meses, o setor ainda acumula alta de 1,0%.
O setor estava reagindo lentamente após a queda forte em abril — quando o comércio fechou —, a ponto de conseguir fechar 2020 no azul. Mas o fim do auxílio, a inflação e a segunda onda corroeram o poder de compra das famílias no fim do ano.
Com isso, as vendas perderam fôlego e, em dezembro, chegaram a cair 6,2% na comparação com novembro. O desempenho de janeiro, embora não tão ruim como o do fim do ano, mostra a dificuldade que o varejo enfrenta neste início de 2021.
O IBGE considera o resultado como estabilidade frente a dezembro. Segundo o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, a variação se deve à mesma pressão obervada no último mês do ano passado.
— Podemos notar a influência desses fatores na receita das empresas. A Covid-19 fez com que atividades importantes, como tecidos e hipermercados, fossem impactadas, levando os indicadores à estabilidade em novembro, uma queda em dezembro, e, agora, outra estabilidade – em janeiro — diz Santos.
Alimentos caros
Das oito atividades investigadas, quatro tiveram taxas negativas. O setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com grande peso na pesquisa, recuou 1,6%. O fim do auxílio e os preços altos dos alimentos estão por trás desse recuo, segundo especialistas.
Outras quedas foram verificadas nos grupos livros, jornais, revistas e papelaria (-26,5%), tecidos, vestuário e calçados (-8,2%) e móveis e eletrodomésticos (-5,9%). Já combustíveis e lubrificantes (-0,1%) ficaram estáveis.
Dos setores que contribuíram positivamente para o resultado, estão outros artigos de uso pessoal e doméstico (8,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (2,6%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,2%).
Já no comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, as vendas em janeiro tiveram queda de 2,1%. A pressão maior veio de veículos, motos, partes e peças, que registrou queda de 3,6%.
Santos destaca que o comércio varejista teve variações negativas em 23 das 27 unidades da federação em janeiro, sendo o menor resultado no Amazonas. Com o agravamento da pandemia e caos na saúde, o comércio foi fechado e as vendas caíram 29,7%, mais que o triplo de outros estados, na comparação com dezembro de 2020.
Quedas devem continuar
A expectativa de especialistas é que, com a piora da pandemia e sem novas medidas de socorro emergencial do governo, fevereiro e março manterão o ritmo de janeiro no comércio.
O economista-chefe da Genial, José Márcio Camargo, pondera que é preciso considerar que o volume de vendas subiu muito entre maio de outubro do ano passado.
Por isso, diz, os últimos três meses de resultados estáveis e queda partem de uma base muito alta, inflada pela transferência de recursos às famílias.
Segundo ele, as expectativas para fevereiro não são boas, devido à evolução recente da pandemia:
— Praticamente todos os indicadores antecedentes apontam queda nos volumes de vendas.
Já o economista do Itaú Unibanco, Luka Barbosa, acredita que, mesmo com o fechamento do comércio em algumas cidades nos últimos dias, as vendas nos próximos meses não serão tão ruins como em dezembro. A previsão do banco para o varejo é de estabilidade em fevereiro queda de 4% em março.
— A pandemia afeta mais no consumo de serviços do que de bens. Apesar da queda das vendas, a produção industrial brasileira está subindo e isso é importante.
Na semana passada, o IBGE divulgou que a produção industrial perdeu fôlego mas avançou 0,4% de dezembro para janeiro. Na terça-feira, foi a vez de serviços, que cresceram 0,6% neste período.
Fonte: O Globo