Consumidor busca marcas mais baratas no segundo trimestre e impulsiona resultados de redes como Assaí e Atacadão
Por Adriana Mattos
A venda no atacarejo continua acelerada, amparada na maior demanda dos consumidores por marcas mais baratas, mas com retorno ainda gradual das compras feitas por estabelecimentos como bares, restaurantes e hotéis, segundo o comando da rede Atleta
Ontem, Assaí e Atacadão divulgaram seus números do segundo trimestre em ritmo acima do começo do ano, e tendo uma base forte em 2020. A receita líquida do Assaí, de abril a junho, subiu 22,2%, para R$ 10 bilhões – de janeiro a março, a alta foi de 21%. No Atacadão, a expansão atingiu 19,8%, para R$ 12,8 bilhões. A expansão foi de 17,7% de janeiro a março. Em vendas “mesmas lojas” (sem considerar as lojas abertas no trimestre), o Assaí cresceu 9,2% e o rival, 10,2% de abril a junho.
“Esperamos um retorno maior dessa compra [feita por pessoa jurídica] nos próximos meses, mas já vimos um junho com venda muito boa em cidades turísticas, praias e instâncias. Já para [clientes] como escolas e igrejas, ainda está mais devagar, mas projetamos uma normalidade maior após setembro, outubro”, disse Belmiro Gomes, presidente do Assaí.
Dados do balanço do Assaí e do Atacadão no segundo trimestre mostram manutenção da venda em ritmo forte, em patamar até acima ao do primeiro trimestre – apesar da aceleração de outros segmentos a partir da reabertura do comércio, o que, teoricamente, criaria uma espécie de concorrência entre áreas.
O lucro líquido no Assaí subiu 62,2%, para R$ 305 milhões, considerando créditos fiscais – sem incluir essa soma, a alta é de 40,4%, para R$ 264 milhões. Esse ganho decorre de uma decisão favorável do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins. O Atacadão, como uma controlada do Carrefour, não informa seu resultado final no balanço do grupo.
A margem bruta do Assaí, sem descontar os créditos, subiu de 16,2% para 17,1% – ao se retirar esse efeito, a alta é menor, de 0,6 ponto, para 16,8%. Já a margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) sobe de 7,2% para 7,9% incluindo o crédito. Sem ele, a alta é de 0,3 ponto, para 7,5%. No Atacadão, a margem bruta caiu 0,8 ponto, para 14,8%.
Apesar desse cenário competitivo, o Assaí espera manter esse patamar de margem bruta, porque as novas lojas abertas estão “perfomando” bem, diz. “Pode ter um efeito com a volta do consumo da pessoa jurídica, que tem um perfil de compra de certos itens de margem menor. Mas seria só esse efeito específico”, diz o CEO. Três unidades foram abertas até junho para uma previsão de 25 a 28 inaugurações no ano – o Atacadão abriu 28 no semestre, e calcula cerca de 40 inaugurações em 2021.
O Assaí vem num processo de redução de endividamento, depois que se separou do Grupo Pão de Açúcar (GPA) neste ano. Após a cisão, a dívida de GPA, com a aquisição do braço colombiano Èxito, ficou no Assaí. “Isso tem sido feito com geração de caixa. A empresa é alta geradora [de capital] e isso sustenta esse processo”, diz Daniela Sabbag, diretora financeira. A soma em caixa e aplicações financeiras subiu 87,5%, para R$ 4,5 bilhões, e a dívida líquida caiu 7% e o Ebitda avançou 33%.
Gomes diz que o Assaí se favoreceu da abertura de 19 lojas em 2020, mesmo em período de pandemia, porque os pontos abertos “entraram num nível de venda em linha com as lojas maduras”, reflexo do aumento de demanda por alimentos depois da crise sanitária. Mas apesar dessa base mais forte de 2020, a alta na receita continua pela maior procura dos consumidores por canais com preços mais competitivos.
“Já tivemos clientes trocando de canais de venda na crise, e isso continua. Os números da Nielsen [consultoria que levanta venda por canal] mostram os supermercados e hipermercados caindo e atacarejo subindo ainda no segundo trimestre. Depois dessa mudança, agora vemos trocas de marcas dentro das lojas, por aquelas mais baratas, em grande parte, pela pressão nos preços que não cedeu”.
Gomes projetava, meses atrás, uma inflação cedendo ao longo do primeiro semestre, mas esse movimento acabou não ocorrendo. “No ano passado, os aumentos ocorreram especialmente nas commodities, como óleo e arroz. E isso acabou se estabilizando lá em cima. Ocorre que, depois disso, a indústria de produtos mais ligados a insumos dolarizados, como itens de limpeza, vieram com aumentos. Temos negociado com os fabricantes, mas são categorias que não subiram em 2020. O limite é o bolso do consumidor”.
Fonte: Valor Econômico