Os e-books já não são mais vistos como ameaça iminente ao mercado de livros impressos no Brasil. Num setor que faturou R$ 5,23 bilhões no ano passado, as versões digitais estacionaram e hoje representam só 3% do total, o equivalente a R$ 20,43 milhões, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). Sobre o futuro, a avaliação unânime é de que os e-books serão apenas uma complementariedade ao impresso, e não sua substituição.
Até mesmo a Amazon, dona do mais tradicional dos e-readers, o Kindle, lançado em 2007, e que trouxe grande temor às editoras, admite não ver o e-book como predador. Ricardo Garrido, diretor da empresa americana no Brasil, diz que o livro digital não é um risco aos impressos e não abocanhará fatias expressivas.
— Houve um receio grande de que o e-book seria corrosivo à indústria de livros, por um problema de preços, sobretudo. Hoje, porém, descartamos totalmente esse risco. Mesmo tantos anos depois de lançados, os e-books não passam de 3% do mercado de livros nacional. Definitivamente, não representa um risco. Ele é complementar à leitura tradicional — analisa Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel.
Prova do ritmo lento do mercado de livros digitais no Brasil é a ausência de novas publicações desde o fim de 2015 sob o selo Breve Companhia, da Companhia das Letras, que era uma das grandes apostas da editora para ocupar um espaço neste mercado. Procurada, a empresa nega que o selo esteja sendo descontinuado, mas admite que está revendo a estratégia para e-books.
As editoras dedicadas exclusivamente à publicação de e-books contemporizam a situação. Eduardo Melo, fundador da Simplíssimo, embora diga que o e-book não terá a maior fatia de mercado, explica que a publicação digital é muito utilizada por escritores independentes.
— De 2011 para cá, publiquei 507 e-books e, mais da metade foi publicado depois de 2014. É um sinal de que o mercado está crescendo. Tenho clientes e muitas pessoas me procuram para saber como publicar. Não tenho dúvidas de que o e-book ainda vai crescer no Brasil — disse.
Na Livraria Cultura, que vende o e-reader canadense Kobo, que só perde em vendas para o Kindle, a perspectiva para o segmento não é otimista. O diretor Thiago Oliveira conta que há dois anos não há crescimento nas vendas nem de e-reader nem de e-book.
Entre os especialistas, também é unânime que o e-book deu muito certo em alguns gêneros, como a ficção científica, por exemplo. Um levantamento da Simplissimo, que lista os e-books mais vendidos em Amazon, Apple, Google, Kobo, Livraria Cultura e Saraiva mostra que oito dos top 10 são títulos de ficção e estrangeiros — os outros dois são romances nacionais. Entre os 30 mais vendidos, há também alguns de autoajuda e negócios.
E-READERS EM BAIXA
Há ainda mais um sinal da paralisação do mercado de leitura digital. As vendas dos e-readers, dispositivos que considerava-se que seriam o protagonista da destruição das estantes de livros das livrarias, já começaram a cair nos Estados Unidos e, até 2020, vão se retrair por aqui. Dados da consultoria Euromonitor mostram que, em 2014, foram vendidos US$ 2,3 milhões em e-readers no Brasil, contra US$ 2,4 milhões em 2015. A projeção para 2020 é de US$ 1,1 milhão.
Para a Amazon, dona do mais tradicional dos e-reader, o Kindle, porém, não é um indicativo de insucesso dos e-books. Garrido apressa-se em explicar que o Kindle não é um aparelho obsoleto e que, por isso, a retração das vendas não quer dizer que a leitura digital acabou:
— O dispositivo Kindle dura muito, ou seja, uma vez que você adquiriu o aparelho, não precisará trocar por outro mais moderno. Isso quer dizer que a análise da curva de vendas tem de ser feita somando ano a ano, e não olhando desempenhos anuais.
Apesar da defesa de seu produto, o executivo concorda que o e-book não apresenta risco à leitura tradicional. Ele tem um discurso similar ao de Pereira, do Snel, e diz que vê o e-book como complementar ao impresso.
— Se um cliente nosso compra um título impresso, enquanto o livro não chega, ele pode começar a leitura pelo e-book. É um exemplo real de complementariedade — detalha.
O mapeamento deste segmento no Brasil ainda é escasso. Mas, nos Estados Unidos, uma pesquisa do Pew Research Center publicada na semana passada mostra que 65% dos americanos ainda preferem o livro tradicional quando compram um novo título. Apenas 28% optam pelo livro virtual e outros 14% escolhem o áudio-book.