A Abramat, que representa as indústrias do setor, adota postura cautelosa e espera expansão de 1,5% a 2% no próximo ano
Por Chiara Quintão e Ivo Ribeiro
O setor de materiais de construção chega ao fim do ano com a expectativa de que o faturamento consolidado dos fabricantes cresça 8,5%, e de 1,5% a 2%, em 2022, segundo Rodrigo Navarro, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), informou ao Valor. “Nosso otimismo moderado e cauteloso se mantém”, afirma Navarro.
Com o novo aumento da taxa básica de juros (Selic), desta vez, para 9,25% ao ano, e com a sinalização do Banco Central de que o patamar tende a alcançar dois dígitos na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), as projeções consideradas pelo presidente da Abramat estão mais modestas do que as do mês passado, quando ele esperava 9% para 2021 e metade da expansão deste ano para 2022. Mas o representante setorial ressalta que os desempenhos ainda serão “muito superiores” aos do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
“Se o ano passado foi de superação, este é um ano de recuperação. Para 2022, esperamos crescimento sustentado, mesmo que em patamar menor”, afirma. O presidente da Abramat destaca que, juntamente com o agronegócio, a construção é “um dos pilares para a retomada do crescimento do Brasil”.
Em novembro, as vendas das indústrias de materiais caíram 9,1%, na comparação anual, mas o setor segue em forte expansão no ano. De janeiro a novembro, o faturamento dos fabricantes acumula crescimento real de 9,9%, conforme levantamento da Abramat. Em 12 meses, houve alta de 10,7%.
Segundo Navarro, a Fundação Getulio Vargas (FGV) traçou três cenários para 2022. “No mais pessimista, haverá queda de 1% das vendas, mas não acredito nessa possibilidade. No intermediário, teremos expansão de 0,7% e, no otimista, de 2,1%.”
O varejo é o principal destino dos materiais de construção e vem apresentando o maior crescimento do setor. No próximo ano, porém, a maior alta deve ocorrer no segmento de infraestrutura, segundo Navarro, em função da retomada de obras e do início da execução de projetos dos leilões de concessões e do Marco Regulatório do Saneamento. Em seguida, virão as expansões de vendas para o varejo e para as construtoras.
No segmento de cimento, a desaceleração das vendas no mercado brasileiro, desde junho, vem se confirmando, embora 2021 deva terminar com alta na faixa de 5% a 6%, ante o resultado de 2020, que atingiu crescimento de 11%. Os dados são do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC). De janeiro a novembro, o volume comercializado somou 60 milhões de toneladas, com aumento de 7%.
Em novembro, conforme dados da entidade que reúne as fabricantes no país, as vendas totalizaram 5,4 milhões de toneladas, crescimento de 1,8%. Na avaliação do SNIC, o desempenho do mês passado foi afetado pela inflação em alta, queda na renda e pelo endividamento das famílias, além das fortes chuvas dos últimos meses e do fraco desempenho das lojas que comercializam materiais.
“Percebe-se que o crescimento na variação acumulada no ano vem diminuindo a cada mês. Em abril tínhamos alta de 20,8%, ou seja, até novembro houve queda de 34% no acumulado”, afirmou, em nota. A entidade aponta o esgotamento da poupança e das reservas pessoais (daqueles que fizeram reformas) somadas às quedas dos índices de confiança do consumidor, do empresariado e o endividamento das famílias de baixa renda (perto de 60% da renda média anual).
A região Nordeste, onde se registrou um bom desempenho até junho, principalmente devido ao auxílio emergencial, foi diretamente impactada no mês passado, com queda de 4,2%. A expectativa é de que haja retomada do consumo de cimento com o retorno da ajuda financeira, agora por meio do Auxílio Brasil. “Nesta região, 44% da população vive com menos de R$ 420 por mês”, informa o SNIC.
“A confiança dos consumidores voltou a recuar em novembro, de acordo com a FGV, reflexo da pior percepção sobre a situação econômica”, afirma Paulo Camillo Penna, presidente do SNIC.
No ano passado, as vendas de cimento somaram 60,5 milhões de tonelada. Se o mercado ao menos repetir novembro, pode alcançar 65 milhões de toneladas em 2021.
Fonte: Valor Econômico