Com mais de 12 milhões de moradores e movimentação anual maior que R$ 78 bilhões, as comunidades são peça-chave para a retomada do varejo, mas são negligenciadas por parte do comércio. Com a crise, redes maiores se afastaram das favelas, ainda que nelas residam consumidores menos inadimplentes que os da classe C, paguem à vista e tenha concorrência menor que em qualquer outra classe social.
“O crescimento do Brasil passa pela inclusão. Não há retomada do consumo se 12 milhões de brasileiros forem ignorados. O problema é que o varejo se afastou das comunidades e hoje não consegue entender o comportamento deste consumidor”, resumiu o economista Paulo Sandro Marchiori, que tem doutorado em antropologia e PhD em relações econômicas em regiões periféricas.
E muito se engana quem pensa que para oferecer produtos e serviços para este público precisa estar, presencialmente, entre eles. Um estudo recente do Instituto Locomotiva em parceria com a agência Grey revelou que 78% dos usuários de internet pertencem as classes C, D e E, sendo mais da metade deles negros. “É preciso pensar nesse público com mais assertividade no meio digital”, afirmou a especialista em e-commerce, Bia Fernandes.
De acordo com ela, pequenas ações podem ajudar muito. “Frases mais simples, evitar palavras em inglês e dar explicações claras sobre forma de pagamento são algumas dicas que ajudam a ganhar a esse público”, disse ela, lembrando que no caso do varejo, usar imagens que conversem com as comunidades também elevam a identificação do cliente e eleva a conversão de vendas.
No mundo físico, abrir uma operação na favela pode ser muito rentável, mas é preciso mapear a comunidade em que estará. “É preciso compreender o público, assim como as lojas fazem antes de abrir unidades na Oscar Freire”, diz Bia.
Bons exemplos
Ainda que parte do varejo tenha se afastado deste mercado desde o início da crise, alguns empresários têm apresentado resultados robustos com iniciativas nas comunidades.
Exemplo disso é a Favela Holding, holding social com mais 20 empresas voltadas para o empreendedorismo em favelas e que recentemente comprou 50% das ações do Box Mineiro, franquia mineira de comida em box para atuar dentro de comunidades.
“Nesse primeiro momento vamos aprender no asfalto, com preço popular para, depois de consolidado, expandir para empreendimentos nas favelas”, projetou o diretor de marketing e expansão da F-Holding, Thales Athayde.
De acordo com ele, o grande objetivo é incentivar o empreendedorismo na base da pirâmide. “Esperamos que, a médio prazo, o Box Mineiro seja a franquia de culinária mais popular do Brasil”, estima.
Fonte: DCI