A economia chegou ao “fundo do poço” e, agora, só resta a recuperação, traduzida na opinião de 48% dos comerciantes e prestadores de serviço ouvidos, nas 27 capitais e no interior do País por uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). O levantamento foi divulgado ontem pelos organizadores da 55ª Convenção Nacional do Comércio Lojista, que começou no último dia 1º e segue até amanhã no Complexo Hoteleiro Iberostar, em Praia do Forte.
Em entrevista coletiva, Frutos Gonzalez Dias Neto, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL), Honório Pinheiro, presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas, e Roque Júnior Pellizzaro, presidente do SPC Brasil, mostraram-se otimistas em relação à retomada de rumo da economia, “pois temos um governo novo, que já anunciou que deverá adotar caminhos mais definitivos e mais céleres para a recuperação econômica.”
De acordo com Honório Pinheiro, “os dados atuais, principalmente em relação ao desemprego, não são tão bons, mas acreditamos que os primeiros remédios estão sendo adotados para que o ‘doente’ possa iniciar plena recuperação já a partir de 2017.” Ele lembrou que alguns fatores ainda podem atrapalhar, como, por exemplo, a anunciada greve bancária, “que sempre tem um impacto muito grande no comércio.”
DESEMPREGO
Todavia, Honório Pinheiro chama a atenção para o fato de o índice de desemprego ainda não ter cedido, “o que nos leva a ter dúvida, inclusive, sobre a oferta de emprego temporário nas vendas de final de ano. Mas estamos confiantes que começamos a viver um momento melhor, ou seja, a situação deixou de piorar.”
O representante do SPC Brasil, por sua vez, disse que “a sensação é que já chegamos ao fundo do poço. Portanto, a curva, a partir de agora, é ascendente, o que nos leva a crer que teremos, sim, um 2017 bem melhor. E se é verdade que o desemprego ainda preocupa, também é certo que entramos em nova fase, já que, conforme a pesquisa, 63% dos empresários do comércio varejista e de serviços afirmaram que não pretendem mais demitir.”
Enfim, a sensação transmitida pelos que comandam o comércio varejista, serviços e crédito no País é que “voltamos a crescer e readquirimos a confiança no futuro. E uma dos principais legados dessa crise é a consciência de que é preciso evitar o desperdício, o que fará muita diferença no futuro das empresas. Acreditamos, inclusive, que haverá uma retomada do crédito já a partir deste segundo semestre de 2016.”
A cúpula dos dirigentes do comércio varejista e do SPC Brasil acredita ainda que há boas perspectivas para uma recuperação do comércio neste Natal, no entanto adverte que os remédios que começam a ser aplicados pelo governo na economia “funcionam como, por exemplo, medicamentos contra a febre. Quando se aplica um remédio contra a febre num doente, não se espera que essa febre desça imediatamente, mas há que se esperar o efeito normal. Esse ‘delay’ existe na economia. Por exemplo, de houver uma queda na taxa de juros, agora, os efeitos sobre o crédito ao consumidor, e aos próprios investimentos do empresário, só virão a ser notados em 2017.”
Apesar do otimismo, ainda há estagnação no setor
A pesquisa nacional divulgada ontem na Bahia mostra ainda que caiu de 60,2% em abril para 39,5% em agosto o percentual de empresários que consideram a crise econômica muito grave. Para 47,9% dos entrevistados, o segundo semestre será melhor do que o primeiro, enquanto apenas 6,8% acreditam que será pior, índice bem abaixo dos que pensavam o mesmo no primeiro semestre.
Dizem ainda SPC Brasil e CNDL, com base na mesma pesquisa, que “em meio à crise, algumas medidas foram e estão sendo tomadas pelos empresários para se manterem no mercado. A principal delas é a contenção de despesas, adotada por 38% – percentual menor do que o verificado em abril, quando era de 45,1% – e em segundo e terceiro lugares aparecem a redução dos preços 17,3%) e a demissão de funcionários (10,1%).”
Já o investimento em propaganda e marketing e a mudança de foco no perfil do cliente aumentaram entre abril e agosto, respectivamente de 4,8% para 7,7%, e de 2,3% para 6,1%. “Os dados da pesquisa são consistentes com a discreta melhora dos indicadores de confiança, tanto por parte dos consumidores como por parte dos empresários e a expectativa de que a economia inicie a retomada no próximo ano”, disse Honório Pinheiro.
Outra revelação da pesquisa é que “na percepção dos empresários, o maior impacto da crise política foi o aumento do desemprego (65,8% pensam assim), seguido do crescimento dos impostos (50,5%) e da redução das vendas (45,7%). No entanto, a proporção dos que mencionaram esses impactos caiu na comparação entre abril, quando eram de 63,3% e 59,2%, respectivamente.”
A 55ª Convenção Nacional do Comércio Lojista segue hoje, e será encerrada amanhã, domingo. Foram cerca de 2.300 participantes, de todo o País.